Os procuradores suecos deram esta quarta-feira o caso do assassinato de Olof Palme por encerrado — ao fim de 34 anos de investigação. O mistério que há décadas ronda o homicídio do primeiro-ministro sueco fica por resolver. As autoridades acreditam ter chegado ao principal suspeito, um homem que morreu em 2000.

“Fomos o mais longe que conseguimos com esta investigação”, indicou Krister Petersson, procurador-geral sueco, durante uma conferência de imprensa, na manhã desta quarta-feira, citado pela CNN. “A minha decisão é de suspender a investigação a partir do momento em que o suspeito já morreu”, acrescentou. O homem em questão é Stig Engström, também conhecido como “Skandiamannen”.

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O memorial existe até hoje no local onde Olof Palme foi baleado, em 1986 © FREDRIK SANDBERG/TT News Agency/AFP via Getty Images

Palme foi baleado nas costas a 28 de fevereiro de 1986, no centro de Estocolmo, quando voltava do cinema para casa com a mulher e o filho. Tinha 59 anos. Durante mais de três décadas o caso ficou por resolver. Num país pacífico como a Suécia, permaneceu como uma “ferida aberta”, como lhe chamou o atual chefe do Governo Stefan Löfven. O mediatismo do caso deu origem a teorias da conspiração que ligaram o crime a muitas das causas políticas do então primeiro-ministro e líder social-democrata.

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Palme já havia ocupado o cargo de primeiro-ministro da Suécia entre 1969 e 1976. Orador carismático, ao longo da sua carreira política assumiu posições fortes enquanto opositor da Guerra do Vietname e apoiante dos governos comunistas em Cuba e em Nicarágua, ao mesmo tempo que em 68 se mostrou contra a invasão soviética da antiga Checoslováquia. Dirigiu ainda duras críticas ao regime do apartheid na África do Sul.

Internamente, a sua oposição expressa em relação à energia nuclear colocou-o em desacordo com empresários e militares. Contudo, na Suécia, é-lhe reconhecido o papel de fundador de uma sociedade assente na igualdade de género.

Importante apoiante de Portugal dentro da Europa, sobretudo no período que se seguiu ao 25 de Abril, chegou a encontrar-se com Otelo Saraiva de Carvalho e a falar sobre a estratégia para o país. Era amigo próximo de Mário Soares e em março de 1976 passou pelo Porto, juntamente com François Mitterrand e outros líderes europeus, para um comício do Partido Socialista de apoio ao sistema político da democracia parlamentar. Um comício muito relevante que serviu para a Europa Ocidental apoiar as forças democráticas portuguesas, em luta com a extrema-esquerda durante o PREC — Processo Revolucionário em Curso.

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Olof Palme e Mário Soares, entre outros líderes europeus em 1983 © PIERRE VERDY/AFP/GettyImages

Durante a conferência de imprensa desta quarta-feira, foram dadas algumas informações sobre a investigação até agora em curso, pelo seu principal responsável, Hans Melander. Segundo este, estiveram evolvidas várias organizações, incluindo o FBI. Ao fim de 34 anos, foram acumulados mais de 250 metros de ficheiros e ouvidas mais de dez mil pessoas. Já em fevereiro Petersson havia indicado que o desfecho do caso poderia não ser uma sentença, caso se comprovasse que o principal suspeito estivesse morto.

Mas o homicídio chegou a ter um culpado. Christer Pettersson, um homem com historial de roubo e consumo de drogas, foi condenado pela morte do primeiro-ministro em 1988, em parte devido ao depoimento da mulher, Lisbeth Palme, testemunha ocular do assassinato. Inicialmente condenado a prisão perpétua, um recurso acabaria por anular a sentença no ano seguinte por falta de provas. Pettersson morreu em 2004.

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Christer Pettersson, o homem que chegou a ser condenado a prisão perpétua pelo assassinato do primeiro-ministro © ANDERS HOLMSTROM/AFP via Getty Images

Sem um culpado, seguiram-se múltiplas especulações, nomeadamente em como os serviços de segurança sul-africanos poderiam estar por trás do assassinato — as próprias forças armadas suecas foram envolvidas. O mesmo aconteceu com um grupo de separatistas curdos, já que Palme chegou a considerá-los publicamente como terroristas. Até a própria CIA figurou numa das muitas teorias da conspiração.

As autoridades suecas começaram a ser criticadas logo após o crime, sobretudo pela demora em bloquear acessos e em isolar a cena do crime. À medida que decorria, a investigação levou à demissão de dois ministros suecos. Em 2006, a descoberta de uma arma num lago, no centro de Estocolmo, prometeu dar novo fôlego aos envolvidos no caso, mas o indício acabou por se revelar inconclusivo. Dez anos depois, Krister Petersson começa a supervisionar a investigação.