A atriz Maria José, com uma carreira que se estende por mais de 80 anos, dos palcos de revista, na infância, à televisão da atualidade, morreu esta quarta-feira, em Lisboa, aos 92 anos, disse à Lusa fonte próxima da família.

Maria José de Basto, mãe da atriz Rita Ribeiro, era um rosto conhecido pela participação em produções televisivas como “Um Amor Feliz”, “Giras e Pirosas”, “Roseira Brava” e “Na Paz dos Anjos”, da RTP, a comédia “Chiquititas”, da SIC, ou as mais recentes telenovelas “Meu Amor” e “Doida por Ti”, da TVI.

A carreira da atriz, porém, é dominada pelo trabalho no teatro, ao longo de quase 82 anos, desde a estreia ‘oficial’, ainda criança, em 1933, na revista “Pernas ao Léu”, da companhia de Luísa Satanela, à derradeira atuação no Teatro Nacional D. Maria II, em 2015, em “74 Eunices”, uma homenagem a Eunice Muñoz.

Nascida em Lisboa, em setembro de 1927, Maria José soma um percurso ininterrupto por mais de 20 companhias de teatro, que incluem estruturas como o Teatro Estúdio de Lisboa, de Luzia Maria Martins, o Teatro Experimental de Cascais, de Carlos Avilez, o Teatro da Cornucópia, de Luis Miguel Cintra, ou A Comuna – Teatro de Pesquisa, dirigida por João Mota.

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A sua carreira afirmou-se antes, porém, na década de 1940, quando frequentava o Conservatório Nacional e entrou para Companhia Amélia Rey Colaço – Robles Monteiro, do Teatro Nacional D. Maria II, a que pertenceu durante nove anos, seguindo-se o Teatro do Povo, dirigido por Francisco Ribeiro (Ribeirinho), e o trabalho com encenadores como Pedro Bom e Couto Viana.

Interpertou autores como Shakespeare, Dostoievsky, Turgeniev, Tchekhov, Eugene O’Neill, Paula Vogel, Casona, fez quase todo o teatro de Gil Vicente, deu corpo a personagens de Agustina Bessa-Luís, Henrique Galvão, João Gaspar Simões, André Brun, Raul Brandão, Teixeira de Pascoaes, Norberto Barroca, Manuel de Figueiredo.

Esteve na estreia do Teatro Estúdio de Lisboa, em 1964, na peça “Joana de Lorena”, de Maxwell Anderson. Em 1986, recebeu o Prémio de Imprensa, pelo desempenho em “Bem Vindo Senhor Sloane”, de Joe Orton, com o Grupo Teatro Hoje, como recorda a base de dados do Centro de Estudos de Teatro da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.

Em 2005 fez “A Mais velha Profissão”, de Paula Vogel, com a Escola de Mulheres, e, no ano seguinte, esteve no elenco de “Ricardo III”, de Shakespeare, levada a cena pela ACTA – A Companhia de Teatro do Algarve.

Numa carreira que atravessou diferentes expressões, do drama e da comédia, ao teatro de revista e ao teatro infantil, dos palcos ao cinema e à televisão, Maria José somou ainda um percurso na rádio, iniciado na adolescência, a dizer poesia e a fazer teatro.

Nas mais de duas dezenas de companhias com que trabalhou somam-se ainda estruturas como as produções Vasco Morgado, a Adoque – Cooperativa de Trabalhadores de Teatro, o Centro Dramático Intermunicipal Almeida Garrett, do Teatro da Malaposta, e as antigas companhias Alves da Cunha, Nacional de Teatro, Teatral Portuguesa, de Teatro Popular de Lisboa, do Teatro Nacional Popular e do Teatro Português de Paris, com o Teatro do Povo, em que esteve no início da década de 1970.

No cinema, entrou em “Chá Forte com Limão”, de António de Macedo. Na produção televisiva, de teatro e ficção, trabalhou com Luís Filipe Costa, Norberto Ávila, Pedro Martins, Fernando Frazão, Ruy Ferrão e Fernando Curado Ribeiro, com quem foi casada.

Era mãe do ator António Semedo (1950-2005), nascido do seu casamento com o ator, encenador e cineasta Artur Semedo.

Segundo as “Reflexões sobre o teatro português”, citadas pelo Centro de Estudos de Teatro, em janeiro de 1945, quando Maria José tinha 17 anos e entrava em “O anão gigante”, no Teatro D. Maria II, o crítico João Pedro de Andrade escreveu: “O desempenho deu-nos a agradável surpresa de revelar Maria José, (…) cheia de desenvoltura e de intenção. Trata-se, ao que parece, de uma antiga menina prodígio dos palcos de revista, e que, no limiar da idade adulta, se prepara para ser excepção à consabida regra que faz morrer, pouco depois da nascença, as vocações artísticas de tais fenómenos. Ou eu me engano ou Maria José ainda há-de dar que falar”.