Mais do que estar em último, o Desp. Aves não tem tido grande sorte com os resultados das equipas com as quais luta diretamente pela manutenção. O Portimonense ganhou ao Gil Vicente e empatou com o Benfica; o P. Ferreira ganhou ao Rio Ave; e o Tondela empatou na Luz com o Benfica. Só o Marítimo, com um empate e uma derrota, escorregou nas duas jornadas. O Desp. Aves, enterrado no último lugar com apenas 13 pontos, perdeu na primeira partida da retoma com o Belenenses SAD e esta quinta-feira visitava o Tondela, um dos tais adversários diretos que vinha motivado do ponto conquistado na Luz.

E Nuno Manta Santos, treinador dos avenses, acabou por dar-se como quase derrotado na antevisão da partida, com um olhar realista para as jornadas restantes. “Se formos analisar friamente o Campeonato, concordo que a permanência possa estar comprometida. Matematicamente ainda é possível, mas estaríamos a falar de um sonho ou de uma epopeia muito grande. Não estamos a atirar a toalha ao chão, mas temos que ser realistas. O percurso do Desp. Aves tem que assentar no compromisso, no caráter e respeito por nós próprios”, disse o técnico, deixando a ideia de que, até ao final da temporada, a equipa só tem o objetivo de alcançar os melhores resultados possíveis a cada semana. “Uma montanha a seguir a outra montanha”, acrescentou Manta Santos, para ilustrar os desafios do Desp. Aves a cada jornada.

O treinador do Desp. Aves deu a manutenção como praticamente impossível na antevisão da visita ao Tondela

E a verdade é que a montanha desta quinta-feira do Desp. Aves apareceu ainda antes de estar cumprido o primeiro quarto de hora da partida. Numa fase em que o Tondela já mostrava alguma superioridade, a equipa de Natxo González aproveitou um passe longo a partir da defesa para desbloquear o resultado: Ricardo Valente desviou de cabeça para Ronan, que num gesto técnico delicioso tirou dois jogadores da frente com uma simulação para depois bater o guarda-redes Fábio (11′).

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Até ao intervalo, o Tondela acabou por cair no erro que costuma cometer quando está em vantagem. Ao invés de manter o pé no acelerador e procurar mais golos para fechar a partida, a equipa de Natxo González quebrou o ritmo, recuou no terreno e permitiu mais espaço e bola ao Desp. Aves, que aproveitou para criar algumas situações mais perigosas nos últimos instantes da primeira parte. Ricardo Mangas foi o protagonista de dois desses lances, com dois remates por cima da trave, e o jogo foi para o intervalo com a ideia de que as dinâmicas ainda poderiam alterar-se na segunda parte.

Ideia que, de um momento para o outro e com apenas 30 segundos de segundo tempo, acabou por cair por terra. O Ricardo Mangas que na primeira parte foi o principal inconformado do Desp. Aves foi o mesmo Ricardo Mangas que fez falta sobre Xavier, viu o segundo cartão amarelo e deixou a equipa de Nuno Manta Santos reduzida a dez elementos com metade do jogo por disputar. Com a inferioridade numérica implementada, o último classificado da partida perdeu ainda mais poder de pressão alta, limitou-se a tentar cortar os caminhos rumo a baliza de Fábio e esperar por uma recuperação de bola para explorar os metros de relvado vazio nas costas dos últimos jogadores do Tondela, assentes na linha de meio-campo.

O segundo golo da equipa de Natxo González, que acabou por sentenciar a partida, chegou ainda antes da hora de jogo. Na sequência de um canto batido na direita, o mesmo Ronan que tinha inaugurado o marcador apareceu ao segundo poste a cabecear para o bis e para o aumentar da vantagem (57′). Até ao fim, entre substituições, restrições físicas, ritmo lento e um Cláudio Ramos totalmente descansado que fez apenas duas defesas em 90 minutos, o Tondela limitou-se a trocar a bola em zonas adiantadas, procurando um eventual terceiro golo mas apenas a espaços, e o Desp. Aves pouco mais conseguia fazer do que jogar a passo e sem qualquer motivação para lutar pelo resultado, criando a primeira oportunidade já durante o tempo de descontos.

Em duas jornadas depois da retoma, o Tondela soma uma vitória ao empate conquistado na Luz e iguala o Boavista, que só joga no sábado com o Sp. Braga, no 13.º lugar e fica a um ponto de V. Setúbal, Gil Vicente e Belenenses SAD, três equipas que já perderam pontos esta semana. Já o Desp. Aves chega à quinta derrota consecutiva e permanece progressivamente mais condenado à despromoção. Mais um jogo, mais uma montanha para escalar, mais uma semana em que a equipa de Nuno Manta Santos fica no chão: e tudo começou com a finta de Ronan.