A Agência Europeia para a Segurança da Aviação prevê que o tráfego aéreo este verão na União Europeia (UE) caia até 50% em julho e agosto, face a 2019, por um turismo mais contido devido à pandemia de Covid-19. A previsão foi avançada em entrevista à agência Lusa por Patrick Ky, diretor executivo da Agência Europeia para a Segurança da Aviação (EASA, na sigla inglesa). Ky afirma também que a reabertura das fronteiras vai dar confiança aos passageiros e que não haverá qualquer problema com a retoma dos voos em Portugal.

“Não temos estimativas próprias, mas tendo em conta o que os especialistas estão a dizer, e também olhando para os planos de viagem que foram divulgados [pelas companhias aéreas] para o próximo verão, esta temporada terá níveis muito abaixo da média do ano passado”, diz Patrick Ky.

Em concreto, “prevê-se uma redução de entre 40% a 50% do tráfego aéreo em julho e agosto, em comparação com o ano passado”, precisou o responsável.

As declarações de Patrick Ky surgem numa altura em que os Estados-membros da UE começam a reabrir as suas fronteiras internas e externas e as companhias aéreas a retomar as viagens tendo em vista a época turística, após uma suspensão de quase três meses por causa do surto de Covid-19.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

E foi para garantir a adoção de regras sanitárias ainda antes do arranque da temporada de verão que a EASA divulgou, juntamente com o Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças, diretrizes de segurança para passageiros, aeroportos e companhias aéreas aplicarem desde a chegada ao local de partida até à saída no terminal de destino.

Entre as recomendações está o distanciamento físico em todos os locais do aeroporto (exceto dentro das aeronaves), o uso de máscara, a higiene frequente das mãos ao longo da viagem e ainda a responsabilização dos passageiros, para que não embarquem caso se sintam doentes.

“Verificamos que estas diretrizes e estes protocolos têm sido cruciais para ajudar os operadores a começar a organizar os seus horários e as suas operações de verão”, observou Patrick Ky na entrevista à Lusa.

E “era esse o objetivo”, acrescentou, notando que as diretrizes foram apresentadas logo em meados de maio “para serem implementadas em junho e julho”.

Penso que é necessário ter este tipo de procedimentos em vigor para o começo da época turística, em particular em países como Portugal, para haver a possibilidade de esse lindo país receber, de forma segura, os turistas por via aérea”, realçou Patrick Ky.

No período em que a aviação esteve praticamente parada, dada a pandemia, registaram-se quebras na operação das transportadoras aéreas entre os 80% e os 90%, com uma média de voos diários a rondar os 3.000, a quase totalidade de carga, segundo dados da organização internacional de aviação Eurocontrol.

E, de acordo com Patrick Ky, ainda vai demorar até que as companhias aéreas consigam recuperar os níveis de atividade do ano passado.

“Espera-se que consigamos atingir os níveis de tráfego de 2019 em 2022 ou, como dizem alguns especialistas, só mesmo em 2023”, adiantou o responsável. “Infelizmente, esta é a situação do setor da aviação”, lamentou.

Reabertura de fronteiras na UE dará confiança a passageiros para voar

Ky julga também que a reabertura das fronteiras da UE a partir de 1 de julho, após a pandemia de Covid-19, dará “confiança às pessoas” para voltar a procurar viagens aéreas.

Quando os decisores políticos optarem por abrir as fronteiras, isto vai significar um nível de confiança dos governos e das autoridades sanitárias […] e vai ser uma enorme ajuda para recuperar a confiança das pessoas para viajar”, declarou o diretor executivo.

Numa altura em que o setor da aviação tenta retomar a sua atividade após uma suspensão de quase três meses devido às restrições às viagens para conter o surto de Covid-19 na UE, o responsável notou que “o primeiro passo é sempre a decisão política de abrir as fronteiras” do espaço comunitário.

Isto porque, nessa altura, os cidadãos poderão começar a confiar “que quando uma pessoa viaja de um local para outro não corre o risco de ser infetada pelo vírus ou de infetar outros”, desde que sejam adotadas as devidas medidas sanitárias, justificou Patrick Ky.

Pensamos que a confiança [dos cidadãos] é mais uma questão psicológica e o primeiro passo será sempre a confiança por parte das autoridades sanitárias para reabrir as fronteiras”, reforçou o diretor executivo da EASA.

O que se prevê é que as fronteiras externas da UE reabram em 1 de julho, sendo que o espaço de livre circulação dentro da UE deverá voltar a ser uma realidade até ao final do corrente mês de junho, como recomendado pela Comissão Europeia.

A UE encerrou as suas fronteiras externas a todas as viagens “não indispensáveis” em 17 de março passado, no quadro dos esforços para conter a propagação da Covid-19.

De momento, “estão a ser realizados alguns voos internacionais, mas apenas de forma residual, e mais utilizados para o repatriamento de pessoas que vivem no estrangeiro”, observou Patrick Ky na entrevista à Lusa.

Frisando que está “fora do âmbito das competências” da EASA fazer recomendações sobre deslocações de cidadãos europeus para fora do espaço comunitário, o responsável relembrou apenas que a Comissão Europeia já veio dizer que “não recomenda viagens ao estrangeiro” até final do ano ou enquanto a Covid-19 não estiver sob controlo.

“Isto é algo que pode mudar entretanto, em particular relativamente a países que as autoridades europeias entendam ter uma situação muito parecida com a comunitária, o que significaria que o risco de ter passageiros vindos desses países não aumentaria o risco de reimportação o vírus”, acrescentou Patrick Ky. Ainda assim, o responsável pede uma “abordagem consistente” a nível europeu.

Isto também se aplica às diferentes datas ou medidas adotadas pelos Estados-membros, de acordo com Patrick Ky, que alertou para que uma “reabertura disforme das fronteiras da UE terá impacto na procura” por parte dos passageiros.

Não haverá qualquer problema com retoma de voos em Portugal

“Temos um ótimo contacto com as autoridades nacionais portuguesas de aviação e elas apoiam totalmente as nossas diretrizes e procedimentos, [pelo que] não tenho dúvidas de que não teremos qualquer problema com Portugal”, disse também o diretor executivo da EASA em entrevista.

Penso que em Portugal, até ao momento, a situação é estável e temos uma forte cooperação com as autoridades nacionais”, reforçou o responsável.

Esta retoma das viagens está a acontecer um pouco por toda a União Europeia, embora as datas difiram de Estado-membro para Estado-membro, e foi para garantir a adoção de regras sanitárias uniformizadas que a EASA divulgou, juntamente com o Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças, diretrizes de segurança para passageiros, aeroportos e companhias aéreas aplicarem desde a chegada ao local de partida até à saída no terminal de destino.

Entre as recomendações está o distanciamento físico em todos os locais do aeroporto (exceto dentro das aeronaves), o uso de máscara, a higiene frequente das mãos ao longo da viagem e ainda a responsabilização dos passageiros, para que não embarquem caso se sintam doentes.

“A aviação é um setor internacional e, neste caso, europeu, e não faria sentido ter um tipo de procedimentos em Lisboa que fossem diferentes dos de Bruxelas e isso não ajudaria a recuperar a confiança dos passageiros, criando ainda dificuldades às companhias aéreas e aos aeroportos”, afirmou Patrick Ky à Lusa.

Além das orientações de segurança, a EASA criou um protocolo relativo à segurança da aviação para monitorizar a implementação das regras, um projeto que ainda está numa fase piloto e que conta com um total de 25 operadores europeus, entre gestoras aeroportuárias e transportadoras aéreas.

Seria bom era que os operadores portugueses – como o aeroporto de Lisboa ou a TAP – se juntassem proativamente ao protocolo de segurança para implementar as regras, de forma a ajudar a desenvolver mais rapidamente a rede com outras cidades europeias, aeroportos e outros operadores que se comprometeram com estas normas”, destacou Patrick Ky.

O responsável explicou que este “é um processo em aberto, pelo que quem quiser pode participar, sendo que a única condição é que quem participa tem de adotar as regras e comprometer-se a dar feedback à EASA”. Se um operador português se quiser juntar, será muito bem recebido”, concluiu Patrick Ky.

Criada em 2002, a EASA garante a segurança no setor da aviação civil na Europa, monitorizando e promovendo normas harmonizadas para os 27 Estados-membros e outros parceiros económicos da região.

Sediada em Colónia, na Alemanha, e com escritório na capital belga, em Bruxelas, a agência junta autoridades do setor aeronáutico a nível europeu, incluindo a portuguesa Autoridade Nacional da Aviação Civil (ANAC).