Jorge Jesus foi um dos nomes mais sonantes de um evento solidário realizado pelo Flamengo no Maracanã e que foi transmitido pela FlaTV, numa fase em que a pandemia continua a atingir valores alarmantes no Brasil. “Já fui testado 16 vezes mas, para mim e para os jogadores, o porto seguro é estar no centro de treinos a trabalhar”, disse, atirando para “setembro ou outubro o regresso dos espectadores”: “Vamos ser obrigados a viver com o vírus mas tendo respeito pelos outros e não pensando que a nós não acontece. Uns vão ter, outros não”.

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Admitindo que é hoje “um treinador muito mais conhecido no mundo, apesar de ser conhecido na Europa” pelo trabalho feito no Flamengo, o técnico destacou que não mais esquecerá a conquista da Libertadores (sendo que o jogo mais marcante foi a goleada por 5-0 ao Grémio no Maracanã) e referiu que se sente mais treinador do que era antes. “Tenho a convicção que o treinador tem de ser um criativo, esse é o caminho para o êxito. O treinador é muito mais do que além do campo, tem de saber o que se passa. No campo, é olhar para os jogadores e ver o que eles representam para a sua ideia de jogo, operacionalizando isso no treino”, salientou. “Hoje sou muito mais treinador do que era o ano passado ou antes. Na profissão de treinador, quanto mais anos tens de carreira, melhor és, desde que penses que não sabes tudo. Desde que tenhas o lado criativo, consegues acompanhar a evolução da tecnologia e eu uso muito”, acrescentou o técnico que renovou recentemente por mais um ano.

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Ainda assim, os desafios são diferentes todos os dias. Nesta fase, por exemplo, Jesus refere que fazer os jogos à porta fechada traz outras dificuldades e a própria paragem foi negativa para o Flamengo a vários níveis. “Até o plano técnico-tático muda. No caso do Flamengo, quando não estão 70 mil a dar força sentes isso de forma mais negativa. O adversário fica mais liberto, acredita mais em si. Vão ficar mais ao nível das equipas grandes”, frisou. “Os jogadores sentem que jogar no Maracanã é logo uma vantagem. Não é um 1-0 mas sentimos que os adeptos nos empurram para a vitória. Desde que estou aqui não assobiam e procuram ajudar a equipa, o que foi fundamental para virarmos alguns jogos. Já em Portugal sinto isso, tenho estado a fazer um estudo sobre isso: as equipas com mais adeptos são as que vão sentir mais dificuldades com os jogos à porta fechada”, revelou.

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“Esta pandemia não foi boa na carreira do Flamengo. Quebrou o entusiasmo. Para fazeres a diferença tens de ter hegemonia e isso era o que estávamos a ter. Tem de ser com o valor de muita gente, não apenas pelo treinador ou jogadores, que são fundamentais, claro. Mas a estrutura é importante. Mas quero dizer o seguinte: iludam-se todas as estruturas e presidentes do Mundo, quem ganha é dentro das quatro linhas. Aqui é que se ganha força para teres grandes equipas e seres um grande presidente, os jogadores são as peças fundamentais do êxito de qualquer clube do mundo”, vincou, antes de falar também da importância do ex-guarda-redes Júlio César quando chegou: “Quando soube que ia para o Brasil, conversou com vários jogadores que foram colegas e disse: ‘Se vocês aceitarem, as coisas vão ser mais fáceis. Ele não pára’. Se não aceitassem a minha forma de liderar seria difícil”.

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“O Flamengo tem de fazer o que vamos recomeçar agora. Fala-se muito em trabalho de excelência. Não queremos defender o título da Libertadores, queremos é ganhar a Libertadores novamente. São coisas diferentes. É como se fosse a primeira vez”, destacou ainda numa conversa onde falou na importância da restante equipa técnica para o seu trabalho, no peso da família para o sucesso na profissão que sempre foi a sua paixão e… naquilo que lamenta não conseguir fazer: “Não sei estrelar um ovo mas gostava de saber fazer um prato bonito, com qualidade”.

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