Num texto publicado esta semana no Telegraph, Jamie Carragher, antigo jogador do Liverpool e da seleção inglesa, fazia um mea culpa quanto a declarações anteriores. Declarações em que acusava a atual geração de jogadores nascidos em Inglaterra de ser superficial, mimada e conformada. Carragher estendia o elogio a Jadon Sancho e cruzava fronteiras para falar de Megan Rapinoe mas tinha Marcus Rashford, o avançado do Manchester United, como principal inspiração.

“O atual grupo de elite de jogadores ingleses é mais forte, mais independente e mais disposto a tomar riscos com as carreiras do que os que o antecederam. Esta geração não é mimada. É iluminada e pioneira. É mais corajosa do que eu fui (…) Os jogadores de hoje em dia usam as próprias vozes para exigir mudança social, o que significa colocarem-se a eles mesmos num pedestal onde sabem que vão ser atingidos ou onde lhes vão dizer que devem ‘limitar-se ao futebol'”, escreveu Carragher. O texto do antigo defesa surgiu a propósito da carta enviada por Rashford ao membros do Parlamento britânico, onde o jogador pedia que recuassem na decisão de não prolongar o sistema de refeições gratuitas nas escolas durante as férias de verão — e numa altura em que a decisão do governo de Boris Johnson ainda era no sentido de terminar esse apoio nos próximos meses. O que dirá Carragher esta terça-feira, dia em que o executivo liderado por Johnson anunciou que as escolas vão continuar a servir refeições às crianças mais desfavorecidas durante o verão.

“Isto não é sobre política, é sobre humanidade”. Rashford quer acabar com a fome das crianças em Inglaterra e escreveu ao Parlamento

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“Devido à pandemia de coronavírus, o primeiro-ministro compreende inteiramente que crianças e pais vão enfrentar uma situação sem precedentes durante o verão”, disse o porta-voz do primeiro-ministro britânico, na altura em que anunciou um pacote de 120 milhões de libras para manter as refeições gratuitas nas escolas nos próximos meses para as famílias com mais dificuldades. A decisão do governo de Boris Johnson — que até aqui havia recusado várias vezes a hipótese de repetir esta solução, depois de a ter implementado nas férias da Páscoa — surgiu apenas horas antes de enfrentar os Trabalhistas na Câmara dos Comuns, onde seria forçado a aplicar a manutenção do apoio, como acabou por fazer.

Em resposta à questão sobre se a carta de Rashford tinha tido influência na decisão, o porta-voz de Boris Johnson garantiu que o primeiro-ministro “recebeu o contributo” do jogador para o debate e “respeita o facto de este ter usado o seu perfil enquanto desportista para realçar assuntos importantes”. No Twitter, o jogador do Manchester United já reagiu às notícias. “Nem sei o que dizer. Vejam só o que podemos fazer quando nos juntamos. ISTO é Inglaterra em 2020”, escreveu o avançado inglês de apenas 22 anos.

De recordar que, esta segunda-feira, Marcus Rashford enviou então uma carta de duas páginas ao Parlamento inglês onde pedia que os deputados revissem a decisão de acabar com o apoio alimentar nas escolas para as famílias mais desfavorecidas durante os meses de verão — e ainda contava a própria história. “O que vos peço hoje é que estendam esse pensamento para proteger todas as crianças vulneráveis em Inglaterra. Quero encorajar-vos a ouvir os seus pedidos e a encontrar a vossa humanidade. Por favor, reconsiderem a vossa decisão de cancelar o sistema de vouchers de refeições durante o período de férias de verão e garantam o prolongamento. Estamos em Inglaterra em 2020 e este é um tópico que precisa de assistência urgente. Por favor, enquanto os olhos da nação estão em cima de vocês, façam uma inversão de marcha e façam da proteção das vidas de algumas das pessoas mais vulneráveis uma prioridade de topo”, escreveu o jogador. E apenas um dia depois, Rashford recebeu a resposta.