A economia timorense já recuou pelo menos 6% este ano, devido aos efeitos da pandemia da Covid-19 e ao menor gasto público, segundo um estudo preliminar do Banco Central de Timor-Leste (BCTL), anunciou o governador da instituição.

“A economia registou uma queda de cerca de 6% devido ao facto de a atividade económica não ter retomado a normalidade”, explicou Abraão de Vasconcelos, acrescentando que os efeitos se podem estender nos próximos meses.

Abraão de Vasconcelos falava numa audição pública da comissão especializada das Finanças Públicas no Parlamento Nacional que está a debater um pedido do governo para o levantamento de 286,6 milhões de dólares (253,89 milhões de euros) do Fundo Petrolífero (FP).

Com o país em regime de duodécimos desde 1 de janeiro, o levantamento adicional destina-se a financiar a conta do Tesouro e ainda parte das medidas de resposta à pandemia da Covid-19.

No caso de Timor-Leste, que está há dois meses e meio em estado de emergência, a economia que já estava a sentir o menor gasto público, registou uma queda significativa na oferta, com empresas a fecharem ou a cessarem temporariamente a atividade.

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Abraão de Vasconcelos explicou que o BCTL registou uma “queda na oferta agregada de cerca de 11%”, o que levou a “uma redução de 14% na oferta agregada ao setor público e de 7% relativamente a oferta doméstica.

Os dados mostram um recuo de 18% no setor de importação e exportação, contribuindo para essa contração do Produto Interno Bruto Não petrolífero de pelo menos 6%, explicou.

Vasconcelos admitiu que ainda é cedo para se saber o efeito total da crise, explicando que se “desconhece o que vai ocorrer nos próximos meses” no que toca à evolução da pandemia, explicando que tudo depende do “modelo de intervenção do Governo” para corrigir a contração.

O Governo timorense nomeou recentemente o ex-ministro das Finanças Rui Gomes para recomendar ao Conselho de Ministros as medidas a aprovar e as ações a executar para a recuperação da economia nacional, devidamente sistematizadas e condensadas num Plano de Recuperação Económica.

A equipa está já em contactos com vários setores de atividade em Timor-Leste.

“A incerteza dificulta a projeção, mas já temos uma ideia concreta sobre o impacto [da Covid-19] na economia. Esta valor ainda se pode agravar, dependendo do modelo de intervenção adotado pelo Governo”, frisou, no parlamento.

O BCTL tem em curso um estudo alargado sobre os vários setores de negócio no país, que permitirá apurar com mais detalhe a situação económica nacional.

Na sua mais recente previsão, em 16 de maio, o Banco Mundial referiu que a economia timorense recuou pelo menos 5% este ano devido ao impacto da pandemia da Covid-19 e à incerteza política que se vive no país.

Essa previsão corrigiu em baixa a previsão da instituição apresentada em 31 de março, quando estimava um recuo no Produto Interno Bruto (PIB) de 2,8%, o que em si representava uma forte correção face à previsão feita no ano passado, que apontava para um crescimento de 4,6% em 2020.

No “Relatório Económico de Timor-Leste: uma nação sob pressão” considera-se que evitar o que será “o choque económico mais profundo na história de Timor-Leste desde a independência” exige “ações políticas ousadas e um forte consenso político”.

Os formuladores de políticas têm a tarefa extremamente difícil de minimizar os riscos à saúde enquanto protegem os meios de subsistência das pessoas”, considerou o economista do Banco Mundial em Timor-Leste Pedro Martins.

“É crucial que as escolhas de políticas económicas e de saúde considerem as evidências emergentes e as circunstâncias específicas de Timor-Leste”, sustentou.

No relatório, referem-se os “consideráveis efeitos económicos negativos” da covid-19, com “restrições internacionais de viagens, interrupções comerciais e medidas de saúde pública” para conter o surto, mas que “prejudicarão a atividade económica doméstica”.

Daí que, defendeu o Banco Mundial, seja necessário “um plano de resposta económica eficaz” que dê “alívio vital às famílias e empresas”.