O setor das artes alertou esta quarta-feira para uma “catástrofe cultural” no Reino Unido, devido à crise provocada pela pandemia Covid-19, que põe em risco mais de 400 mil postos de trabalho e a sobrevivência de teatros e companhias.

“Sem apoio adicional do governo, estamos a caminhar para uma catástrofe cultural. Se nada for feito, milhares de empresas criativas líderes mundiais deverão fechar as portas, centenas de milhares de empregos serão perdidos e milhares de milhões [de libras] para nossa economia serão perdidos”, avisou a presidente da Federação das Indústrias Criativas, Caroline Norbury.

Um estudo realizado pela consultora Oxford Economics para aquela organização estimou que o encerramento de salas de concertos, teatros e outras atividades culturais vão resultar numa queda de receitas de 74 mil milhões de libras (83 mil milhões de euros), até ao final do ano.

O documento publicado esta quarta-feira calcula que 406 mil pessoas, cerca de 20% do total no setor das indústrias criativas, que inclui teatro, música, cinema, televisão, moda e publicidade, poderão perder o posto de trabalho.

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De acordo com duas associações representativas de teatros em todo o país, Society of London Theatre e UK Theatre, 70% das salas antecipam ficar sem dinheiro antes do final do ano.

Numa carta aberta ao primeiro-ministro britianico, Boris Johnson, ao ministro das Finanças, Rishi Sunak, e ao ministro da Cultura, Oliver Dowden, cerca de uma centena de personalidades do setor, incluindo os atores Phoebe Waller-Bridge e James McAvoy, e o dramaturgo e argumentista Tom Stoppard, disseram que pelo menos quatro teatros já apresentaram falência e que o setor está “à beira da ruína”.

“Sem investimento do governo, os teatros vão ser obrigados a fechar e podem nunca mais voltar”, lamentam.

Além da continuação do regime de layoff, que está previsto acabar em outubro, sugerem a criação de um fundo de emergência para investir em projetos e outras medidas de apoio.

Teatros, cinemas e salas de concerto estão fechadas desde meados de março, quando o governo britânico decretou um confinamento para travar a pandemia Covid-19, e muitos têm questionado a viabilidade económica se tiverem de reduzir a capacidade devido às regras de distanciamento social.

O governo do Reino Unido criou um grupo de trabalho no mês passado para estudar como pode ser retomada a atividade cultural, mas ainda apresentou as recomendações e não é conhecida a data em que atividades de entretenimento poderão voltar a ser autorizadas.

A terceira fase do plano de desconfinamento anunciada para depois 4 de julho prevê apenas a reabertura de bares e restaurantes. O ministro da Cultura, Oliver Dowden, disse na semana passada ao jornal Evening Standard que estava em “negociações complexas” com o ministério das Finanças, para proteger o setor.

Para sobreviver, alguns teatros já estão a preparar a reabertura de maneira diferente. No teatro Old Vic, os atores Claire Foy e Matt Smith, estrelas da série “The Crown”, vão interpretar a peça “Lungs” para uma sala sem audiência, mantendo o distanciamento, e cada apresentação será filmada e transmitida ao vivo para mil pessoas que comprem bilhetes antecipadamente.

A produtora Hartshorn-Hook anunciou para outubro uma adaptação de “The Great Gatsby”, numa versão em que o público vai ser convidado a imergir no espetáculo, cobrindo a face e usando luvas como se estivessem num baile de máscaras.