A Administração Regional de Saúde (ARS) do Algarve garantiu esta quinta-feira ter capacidade para responder a eventuais surtos de Covid-19 que surjam no Algarve, como o que foi registado em Lagos depois de uma festa ilegal, “sem perigo de fechar” a região, como sugeriu esta manhã o presidente do Conselho Regional do Sul da Ordem dos Médicos (OM). Também o próprio bastonário da OM se mostrou, para já, reticente em relação a uma possível cerca sanitária perante uma centena de casos, uma vez que em Lisboa e Vale do Tejo, como exemplificou, existem atualmente três vezes mais.

“Não há perigo de o Algarve fechar, de o Alentejo fechar ou de o país fechar”, garantiu o presidente do conselho diretivo da ARS/Algave, Paulo Morgado, numa tentativa de colocar um ponto final à polémica gerada pelas declarações do presidente do Conselho Regional da Ordem dos Médicos do Sul ao Diário de Notícias. O que se verifica “neste momento é o aparecimento de pequenos surtos aqui e acolá”, o que pode acontecer em qualquer “ponto do território nacional” ou em outros países, justificou.

O responsável falava do surto que resultou de um foco de infeção numa festa ilegal ocorrida a 7 de junho e que, segundo a Câmara de Lagos, desencadeou “várias diligências (…) visando circunscrever e controlar o mais depressa possível o surto epidémico”.

O presidente do Conselho Regional do Sul da Ordem dos Médicos, Alexandre Valentim Lourenço, defendeu esta quinta-feira, em entrevista ao Diário de Notícias, medidas mais rigorosas para a zona do Algarve, dizendo que se houver um surto de 100 casos em Faro ou em Portimão tinha que se “fechar o Algarve”.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

“São declarações alarmistas. Neste momento, a situação da pandemia e da epidemia em Portugal não está completamente controlada, é verdade, mas estamos numa fase descendente da curva. Podemos vir a ter uma segunda onda, como outros países onde a doença existe, mas se essa onda vai ser maior ou menor, ninguém sabe e ninguém é capaz de prever”, considerou o presidente da ARS.

Já na noite de quinta-feira, em declarações à SIC Notícias, o presidente da Ordem dos Médicos do Sul esclareceu que nunca defendeu uma cerca sanitária, mas sim um conjunto de medidas que possam fazer face a estes pequenos surtos que possam ocorrer na região — numa altura em que há muitas pessoas que depois de quatro meses confinadas ali procuram fazer férias e que querem viver e socializar.

Alexandre Valentim Lourenço lembra que todos os anos o Algarve, que triplica a sua população em julho e agosto, tem problemas nas urgências hospitalares. Recorda, por exemplo, que em 2019 houve mesmo grávidas que tiveram que ser transferidas, também houve falhas na pediatria. “Não é ser alarmista, é pedir para começar a planear e não se ficar apenas pelos testes”, defendeu, lembrando que além da capacidade de testar é preciso ter a capacidade de assistir.

O responsável sublinha também que esse problema até agora não se colocou em nas áreas metropolitanas de Lisboa e Porto, mesmo com os números que agora se registam, porque a capacidade de resposta é já diferente. No Algarve terão que haver médicos de várias especialidades preparados para possíveis surtos, que serão a consequência natural da abertura das fronteiras e mesmo do movimento interno que se prevê.

“Não faz sentido montar um cordão sanitário nestas condições neste momento”, disse, explicando que deu o exemplo de Pequim (China) por causa das restrições à circulação e nas fronteiras. “Não significa fechar o Algarve”, ressalvou, terminado a dizer que se a ARS garante ter condições, então que isso o apazigua.

O bastonário da OM foi, esta tarde, mais cauteloso nas suas declarações. À porta do Hospital de São João, Miguel Guimarães defendeu a necessidade de intensificar uma campanha de sensibilização para as regras de segurança face à Covid-19 no Algarve. No entanto, quando confrontado sobre uma cerca sanitária naquela zona, disse que essa decisão cabia à Direção-Geral de Saúde. “Se 100 doentes dá para fazer uma cerca sanitária, então também teremos que fazer uma cerca sanitária em Lisboa. Se em Lisboa temos cerca de 300 doentes…”, rematou.

Festa ilegal com quase 100 pessoas. Quatro horas bastaram para criar novo surto no Algarve

Segundo a Câmara de Lagos, neste momento está a decorrer “uma testagem massiva de pessoas com ligação direta ao evento”, como uma das medidas para controlar o foco, designadamente contactos no seio familiar e no contexto laboral”. A autarquia acrescentou que estão também a decorrer ações intensivas de colheitas aos trabalhadores municipais, “existindo indícios de possíveis contactos com infetados”.

De acordo com os dados divulgados na quarta-feira pela ARS/Algarve, estão já confirmados 37 casos positivos com origem no foco em Lagos, distribuídos por vários concelhos do distrito de Faro. O paciente zero foi detetado numa festa ilegal que devia ter sido circunscrita a 20 pessoas e que acabou por reunir uma centena de pessoas. Alguns dos infetados nesta festa infetaram depois as pessoas com quem viviam.

Entretanto, por causa destes números, as visitas aos utentes em 24 equipamentos sociais das Misericórdias do Algarve foram também suspensas para salvaguardar utentes.

“Face ao surto que surgiu em Lagos decidimos suspender as visitas nos equipamentos sociais das Misericórdias em todo o barlavento [oeste] algarvio, para salvaguardar os milhares de utentes e os cerca de 1.500 funcionários”, avançou Armindo Vicente.

O presidente do secretariado regional, estrutura que integra 23 misericórdias em todo o Algarve, especificou que a suspensão das visitas abrange 12 Misericórdias do barlavento, num total de 24 estruturas sociais, entre lares de idosos, unidades de cuidados continuados, lares de jovens e de saúde mental.

Misericórdias suspendem visitas em 24 equipamentos sociais do Algarve

(Artigo atualizado com as declarações de Alexandre Valentim Lourenço à SIC)