“A primeira visita a um neurologista foi há cinco anos. Quando voltei com o Luis Enrique ao Barcelona, com o meu hobby, a bicicleta, colocava o meu corpo numa intensidade alta, à parte das cãibras na bicicleta apareciam depois também à noite. Quando o meu corpo relaxava, o meu sistema nervoso continuava ativo e gerava espasmos. Era algo que causava incómodo porque não descansava da mesma maneira. Essa sensação durou três anos. Em janeiro de 2018, quando estava a treinar o Celta de Vigo, houve um momento em que estava a sair à tarda na bicicleta e o meu corpo e a minha cabeça começaram a pedir-me descanso. Foi uma sensação de falta de força física. Comecei a preocupar-me no final da temporada, quando andava de bicicleta, não havia um progresso da situação e foi por isso que fui ao médico em julho quando apareceu o primeiro sintoma visível: um dedo da mão esquerda ia a outra velocidade e perdeu mobilidade. O médico disse-me que não tinha nada a ver com uma queda e que fazia parte do processo. Com toda a informação deu-me o diagnóstico no verão e confirmou-se em fevereiro”.

Numa conferência de imprensa emotiva e onde marcaram presença várias figuras do Barcelona, entre o presidente Josep Maria Bartomeu, antigas referências como Luis Enrique ou Puyol e jogadores do atual plantel como Piqué, Jordi Alba, Busquets ou Sergio Roberto, Juan Carlos Unzué, antigo guarda-redes internacional nas camadas jovens que passou por Osasuna, Barcelona, Sevilha, Tenerife e Oviedo antes de treinar Numancia, Racing, Celta de Vigo e Girona tendo pelo meio sido adjunto de Luis Enrique no Barcelona, anunciou que vai deixar o futebol e “assinar” por uma equipa mais pequena mas com um jogo bem mais complicado: a esclerose lateral amiotrófica (ELA).

“Nesta fase da doença ainda consigo fazer por mim mesmo tudo o essencial. É certo que subir escadas custa-me cada vez mais e tenho de agarrar-me ao corrimão porque sinto uma sensação de instabilidade mas, em linhas gerais, a progressão nestes últimos meses tem sido lenta mas progressiva. É importante não perder peso. No desporto desaparece a palavra melhoria a nível físico mas essa melhoria com o desporto chega a nível mental”, acrescentou Unzué, de 53 anos, que acabou por ser a figura não presente do jogo grande da jornada 30 da Liga espanhola que colocava frente a frente o Sevilha, atual terceiro classificado, e o líder Barcelona.

E este era mais do que um jogo, como se percebeu também pela reação de Zinedine Zidane na conferência depois do triunfo do Real Madrid frente ao Valencia: olhando para o calendário do conjunto de Quique Setién, a viagem à Andaluzia, a par da receção ao Atl. Madrid, era aqui que entroncava a maior probabilidade de haver um deslize que pudesse recolocar o clube da capital espanhola na liderança. E o próprio contexto não era mais fácil, fosse pelas incidências mais diretas como a ausência de Frenkie De Jong, fundamental no primeiro jogo da retoma diante do Maiorca, fosse por outras curiosidade menos ligadas ao jogo como o facto de ser o primeiro encontro de encontro de sempre dos blaugrana no Sánchez Pizjuán sem a presença de nenhum meio da imprensa catalã.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

No final, não houve também muito para escrever ou narrar. Num jogo com poucas oportunidades e que teve mais perigo junto das duas áreas quando as equipas quebraram fisicamente e deixaram que o encontro se partisse, o Sevilha conseguiu secar o Barcelona com linhas muitas vezes mais baixas do que habitual na equipa mesmo nos encontros em que tem menos bola de forma assumida e apresentou até uma tática “inovadora” para travar os livres em posição mais frontal de Messi, com seis elementos na barreira, um jogador no relvado para que a bola não passasse por baixo e outro elemento a encostar ao poste contrário do guarda-redes: na primeira tentativa, o defesa Koundé conseguiu cortar, na segunda Vaclik defendeu para canto e o golo 700 ficou adiado.

Outra curiosidade identificada a meio da segunda parte: depois da invasão de campo que houve em Maiorca de um adepto com a camisola da Argentina, esta sexta-feira houve novamente uma “invasão” de campo mas da realidade virtual, com a bancada que simula adeptos no Sánchez Pizjuán a saltar também para a imagem do jogo.

O novo mundo de Messi, onde até à porta fechada há adeptos que invadem o campo com a sua camisola para uma selfie

Depois, e enquanto Messi continuava a falar com o amigo Banega no relvado enquanto os jogadores não utilizados faziam exercícios de um lado e de outro, a notícia acabou por ser as declarações de Piqué na flash interview. “O empate deixa-nos numa posição em que já não dependemos de nós para ganhar a Liga. Tentámos, circulámos bem a bola mas defrontámos uma equipa forte, que é terceira classificada. Acho que vai ser muito difícil ganhar esta Liga. Vamos fazer todos os possíveis, mas já não dependemos de nós mesmos. Ao ver as jornadas que já foram jogadas, acho que vai ser difícil o Real perder pontos e acho que perdemos aqui dois pontos que eram importantes para continuarmos a depender de nós. Pessimista? Vendo as duas jornadas já jogadas, acho muito difícil que ganhemos o Campeonato”, atirou, numa descrença que gerou muitos comentários por faltarem ainda oito jornadas para o final da competição e pela diferença mínima que pode passar existir entre ambos (um ponto).