Quando celebrou 49 anos, a 20 de abril, Pedro Lima escreveu um post na conta de Instagram para explicar que, em ano marcado pela pandemia, não haveria os habituais dois jantares e três almoços para estar com os amigos que fez na natação, no Técnico, na moda, na televisão, no cinema, no surf e “na vida”. O ator que foi encontrado morto na manhã de sábado, 20 de junho, numa praia no Guincho tinha muitas facetas, apesar de ser mais facilmente reconhecido pelo trabalho feito no universo das telenovelas.

Ator Pedro Lima enviou mensagens de despedida a amigos

De nadador e modelo a ator com presença frequente no pequeno ecrã

Pedro Lima nasceu em Luanda em 1971 e com apenas um ano de vida mudou-se para a capital portuguesa. Cedo se destacou como nadador e chegou a participar no Jogos Olímpicos, por Angola, aos 17 anos. Também o fez aos 21, sempre na modalidade de natação. Ingressou no curso de Engenharia Mecânica, no Instituto Superior Técnico, em Lisboa, mas interrompeu os estudos, bem como a prática de desporto, para seguir a carreira de modelo —  foi levado para a Central Models por Ricardo Carriço.

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Segundo o Correio da Manhã, a estreia na televisão, essa, aconteceu em 1996, quando apresentou “Magacine” na RTP1. Um ano depois interpreta a primeira personagem numa novela televisiva: “Grande Aposta”, ainda na RTP1. A esse projeto seguiram-se tantos outros, com os mais imediatos a serem “Terra Mãe” e “Os Lobos”, ambos em 1998. Na página do IMDB dedicada a Pedro Lima, o ator é referenciado em 60 trabalhos diferentes, que vão desde telenovelas a séries, passando por curtas-metragens. “Todo o Tempo do Mundo”, de 1999, “Olhos de Água”, de 2001, “Ilha dos Amores, 2007, “Sentimentos”, 2009, ou “A Herdeira”, em 2018, são exemplos de telenovelas em que participou.

As novelas podem ter popularizado Pedro Lima, mas o ator também fez incursões no teatro, incluindo a peça “A Casa do Lago”, no Politeama. “Há muitos anos que faço teatro e só tive experiência semelhante quando fiz ‘A Casa do Lago’ com os incomparáveis Eunice Muñoz e Ruy de Carvalho. Estivemos sete meses em cena, só folgávamos às terças-feiras e fazíamos duas sessões aos sábados. Os mais de 500 lugares do Politeama estavam sempre ocupados sessão após sessão. Já passaram uns 17 anos”, recordou o ator também no Instagram, em outubro de 2018, fazendo uma referência à sua participação na peça “Vizinhos de Cima”, onde se juntou às atrizes Fernanda Serrano e Ana Brito e Cunha.

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Além dos palcos, o ator também deu cartadas no cinema, tendo participado em filmes como “Second Life”, de 2009, “A Uma Hora Incerta”, de 2015 e ainda o mais recente “O Homem Cordial”, de 2019.

O ator tinha uma relação de mais de duas décadas com a estação de Queluz de Baixo. Atualmente, dava vida a “Gonçalo Macedo”, personagem da novela “Amar Demais”, cujas gravações foram recentemente retomadas. Fonte oficial da TVI confirma que o ator esteve agravar com Fernanda Serrano na sexta-feira ao final do dia, um dia antes de ser encontrado sem vida na praia do Abano, no Guincho.

Pedro Lima estava também no ecrã através do regresso da série “Espírito Indomável”, onde interpretava “Tristão”, que “apaixonou os portugueses, desde a primeira vez que a telenovela foi emitida”, de acordo com o comunicado emitido pela TVI.

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Cinco filhos e as duas mulheres da sua vida

Em maio deste ano o ator revelou em entrevista à “Nova Gente” que pretendia casar-se com Anna Westerlund em 2021, data em que não só comemoraria 50 anos de idade, como 20 de relação com a ceramista. “No próximo ano fazemos 20 anos de namoro e eu faço 50 anos, por isso era a altura ideal [para o casamento]. Gostávamos de fazer uma festa com todos aqueles que são importantes na nossa vida. Assinar um papel podia ser já amanhã, não faz sentido”, disse em entrevista.

A ideia do casamento era pensada “todos os anos”, ainda que fosse continuamente adiada “ou porque nasce um filho, ou porque não há orçamento ou há algum trabalho importante que nos impede”, admitiu à data.

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Na mesma entrevista diria que, apesar de não haver relações perfeitas, Anna Westerlund era a mulher da sua vida. “Hoje em dia é difícil manter uma relação durante tantos anos, mas temos conseguido, é a confirmação de que nascemos um para o outro e os nossos filhos são prova disso”. Pedro Lima deixou cinco filhos para trás, quatro deles fruto da união com a ceramista (Ema, de 15 anos, Mia, de 12, Max, de 10, Clara, de 3) — o mais velho, João Francisco, nascido em 1999, é filho de Patrícia Piloto.

O casamento com Patrícia Piloto terminou pouco depois do nascimento do filho de ambos. À época, a cerimónia foi considerada “faustosa”, tal como se lê neste artigo do Correio da Manhã, e contou inclusivamente com a presença de Jorge Sampaio. Após a separação, Pedro Lima ainda protagonizou um namoro mediático com Rita Ferro Rodrigues.

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Apesar de ter nascido em Luanda, Pedro Lima tinha apenas um ano de vida quando veio para Lisboa, onde ficou ao cuidado da avó Bernadette, a quem apelidava carinhosamente de “Vovocas”. “Nasci em Angola mas, com um ano de idade, os meus pais mandaram-me para Lisboa para ser criado pela minha avó Bernardette, baptizada por mim nesses primeiros anos de vida por Vovocas”, escreveu Pedro Lima em setembro do ano passado na respetiva conta de Instagram.

Na legenda, que acompanha uma fotografia do ator na companhia de Bernadette, o ator confessou ter feito terapia por ter sido afastado da mãe: “Sei que aquela viagem para longe da minha mãe configura um abandono que marcou muito a minha relação com as mulheres até uma certa idade. Mas durante toda a vida nunca senti a falta de mãe porque a Vovocas preencheu o espaço feminino de referência afetiva de que uma criança necessita”.

“Tive alguns momentos de angústia muito grandes”

“Não tomei antidepressivos… mas tive alguns momentos de angústia muito grandes. Não sei se isso é depressão ou não, mas agora estou mais equilibrado”, disse Pedro Lima em entrevista à TV Guia em janeiro de 2018, durante a qual admitiu ter passado por uma fase mais difícil numa altura em que fez um intervalo no trabalho. “Quando se passa 18 anos a trabalhar como eu fiz, com regimes de trabalho muito intensos, com desafios enormes, de repente parar… Tive uma reação de descontrolo”, contou à data.

“Comecei a questionar-me: o que queria? o que era? quem era?… Não tenho muita auto-estima, ou não tinha, por mim, e achava que nada era suficiente. Já houve pessoas que fizeram esta análise por mim e eu, agora, aceito-a de qualquer maneira. Descobri que tenho maior tendência para me preocupar com o não ser, do que com o ser… Mas, felizmente, com a ajuda da família, estabilizei”, revelou.