Onde é que tu estavas no Porto a 23 de junho de _____? O ano, desde que não puxasse para a década de 40 (já explicamos o porquê), era um bocado indiferente mas alguma memória saltaria. Uma memória que deveria ter um martelinho, aquele alho porro, umas sardinhas (de cada vez), o balão da praxe. Tudo aquilo que o São João de 2020 não teve, entre cafés e lojas de conveniência que fechavam às 19h, restaurantes a encerrar às 23h, um espetáculo no Coliseu que estava esgotado mas que foi cancelado porque também a pandemia “Não deixa o pimba em paz”, a ponte Dom Luís cortada, o metro a parar antes da meia-noite ou o fogo de artifício adiado. Ainda assim, e voltamos agora à década de 40, onde o FC Porto teve dois jogos das meias da Taça nessa data, houve também futebol.
FC Porto goleia Boavista com bis de Marega e isola-se na liderança da Liga
“As pessoas no Norte têm mostrado um grande respeito pelas normas de segurança propostas pelo Governo, ao contrário de outras regiões do país. Espero o mesmo comportamento e que tudo corra de uma forma normal, para que estejamos todos contentes, no final do jogo, cada um no seu espaço, a festejar uma vitória no São João”, dizia Sérgio Conceição na antecâmara do dérbi com o Boavista, após um final de semana marcado por uma reunião na Liga feita de forma extraordinária para avaliar aquilo que ninguém queria: adiar o encontro. Alguns pensaram que era noite de São João e havia dérbi; outros, e bem, pensaram que era noite de São João mas apesar de tudo havia dérbi (à porta fechada). Por mais que se tente “normalizar”, nada é normal neste ano de 2020.
“Temos de ter mais penáltis a favor, já tivemos ocasiões para isso e não fizemos golos. Temos de criar mais situações dentro da área para que o adversário crie mais penáltis. Falhamos um, marcamos o segundo, falhamos dois, temos de ter três. Dentro do nosso jogo temos 12 oportunidades mas temos de criar 15 ou 20 para fazermos golos. É trabalhar cada vez mais, temos de nos focar nisso para ganharmos jogos”, apontou o técnico dos azuis e brancos justificando os quatro pontos e apenas dois golos marcados após a retoma. “Nos últimos três jogos fizemos 70 remates, criámos inúmeras oportunidades de golo mas não conseguimos marcar. Neste último é preciso enaltecer toda a dinâmica que possibilitou criar as oportunidades, ao contrário do que se andou a publicitar. Faltou fazer o golo, que é o mais importante, cabe-nos criar ainda mais oportunidades para fazer golos”.
⌚️Apito final: FCP 4-0 BFC
????Foi a 2.ª parte mais eficaz do ????FC Porto na Liga NOS 2019/20.
⚠️Em 6 remates, 4 resultaram em golo (66% eficácia) pic.twitter.com/x425oCj9Pb
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Em vez de se agarrar aos resultados, Conceição agarrou-se às dinâmicas. Em vez de falar nas falhas individuais, pensou em tudo numa vertente coletiva. Em vez de olhar para trás, ou neste caso para o lado, olhou para cima e para a frente. Mas como o final de um Campeonato é o reflexo da campanha de 18 equipas, aquilo que se passou na Luz não demorou a chegar aos jogadores portistas. Sim, era noite de São João mas era também noite de Santa Clara, que tinha acabado de ganhar na Luz ao Benfica por impensáveis 4-3 com duas reviravoltas à mistura de ambas as formações. E Fábio Silva, antes do início do FC Porto-Boavista, enquanto se encaminhava para o banco, perguntou a um responsável o resultado final do adversário direto, partilhando depois a informação com alguns dos companheiros também suplentes. O dérbi valia três pontos mas representava mais do que isso.
Ficha de jogo
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FC Porto-Boavista, 4-0
28.ª jornada da Primeira Liga
Estádio do Dragão, no Porto
Árbitro: Artur Soares Dias (AF Porto)
FC Porto: Marchesín; Tomás Esteves (Wilson Manafá, 46′), Pepe, Mbemba, Alex Telles, Sérgio Oliveira (Danilo Pereira, 73′), Otávio; Corona (Fábio Vieira, 80′), Luis Díaz (Uribe, 46′); Marega e Soares (Fábio Silva, 73′)
Suplentes não utilizados: Diogo Costa; Diogo Leite, Vítor Ferreira e Aboubakar
Treinador: Sérgio Conceição
Boavista: Helton Leite; Carraça, Fabiano, Dulanto (Ackah, 73′), Ricardo Costa, Marlon (Fernando Cardozo, 66′); Paulinho (Mateus, 85′), Idris, Gustavo Sauer; Bueno (Stojiljkovic, 66′) e Yusupha (Heriberto, 66′)
Suplentes não utilizados: Bracali, Lucas, Obiora e Reisinho
Treinador: Daniel Ramos
Golos: Marega (53′ e 84′), Alex Telles (60′, g.p.) e Sérgio Oliveira (70′, g.p.)
Ação disciplinar: cartão amarelo a Paulinho (3′), Otávio (22′), Sérgio Oliveira (34′), Fernando Cardozo (86′) e Ackah (90+4′)
No final, e após uma primeira parte com poucos motivos de interesse, acabou em goleada (4-0). E acabou assim porque Sérgio Conceição foi fiel ao que tinha dito antes do encontro. “Um avançado que crie espaço para um companheiro fazer golo é tão interessante como fazer um golo. Temos de perceber que o trabalho dos avançados não é só fazer golos, também pedimos aos defesas que façam golos nas bolas paradas e que os avançados sejam os primeiros a defender, na primeira zona de pressão. O nosso guarda-redes é o primeiro a construir porque uma equipa grande como o FC Porto tem de utilizar muito o guarda-redes. O futebol é um jogo coletivo”, salientou. Ou seja, em vez de cair na tentação de lançar Fábio Silva ou Aboubakar, criou condições para Soares e sobretudo Marega serem melhor servidos. Assim, ganhou e goleou. E carimbou da melhor forma uma noite que muda o Campeonato porque permite que os azuis e brancos tenham margem de manobra para errar, o que dá outro “conforto” a qualquer equipa. Houve até fogo de artifício nesta noite de São João… e da Santa Clara.
???????? Porto ???? Boavista
Moussa Marega ???????? voltou a bisar, quase 10 meses depois, e ainda conquistou uma grande penalidade ⭐️#LigaNOS #FCPBFC #FCPorto #BoavistaFC #RatersGonnaRate pic.twitter.com/Ys9yrmbalQ
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E a cara de Sérgio Conceição quando um livre de Sérgio Oliveira em zona privilegiada bateu na barreira e saiu pela linha de fundo mostrava muito da intenção do FC Porto a abrir o encontro. Ou melhor, mostrava “a” intenção do FC Porto a abrir o encontro: marcar. De bola parada ou de bola corrida, o técnico percebia o peso que tinha entrar bem no dérbi para esquecer o tiro ao boneco de pólvora seca na Vila das Aves e estabilizar no plano emocional uma equipa que se desequilibrou com o passar dos minutos nos últimos jogos quando o resultado não era favorável. A pressão foi intensa frente a um Boavista que praticamente não passou do meio-campo em 15 minutos mas nem Pepe (na sequência de um livre lateral, a cabecear ao lado) nem Marega (remate na passada após assistência de Tomás Esteves para defesa de Helton Leite) conseguiram desfazer o nulo que coroasse a boa entrada.
[Clique nas imagens para ver os melhores momentos do FC Porto-Boavista em vídeo]
⌚️45' FCP 0-0 BFC
⚠️Apenas um jogador do ????Boavista tocou na bola dentro da área portista: ????????Alberto Bueno pic.twitter.com/U03whNAB8W
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Com o passar dos minutos, e muito por influência de um jogador que faz jus ao nome pela entrega que tem ao jogo (Carraça), os axadrezados começaram a ter outra capacidade de ligar passes e obrigaram mesmo Otávio e Sérgio Oliveira a verem cartões amarelos que condicionavam para o resto do encontro ao travarem iniciativas que poderiam levar perigo. Iniciativas atacantes, essas, foram quase nulas. Yusupha ainda tentou um remate lançado em profundidade entre Pepe e Mbemba mas saiu um passe para Marchesín, Bueno foi o único boavisteiro a tocar a bola na área contrária. No entanto, e não conseguindo criar, os visitantes também não deixavam o FC Porto ir criando e só Corona, com um remate ao lado na área a rasar o poste, criou perigo antes do intervalo (40′).
???????? INTERVALO | Porto 0 – 0 Boavista
"São João" frio, finda a 1ª parte no Dragão, com as 2 equipas somadas a justificarem… meio golo ????
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Ao intervalo, e ao contrário do que já aconteceu com outros “grandes” no mesmo contexto, Sérgio Conceição teve o mérito de manter a frieza perante o nulo e perceber que nem sempre lançar avançados à bruta para dentro de campo traz qualquer resultado prático se não for feito com cabeça. Assim, e percebendo as dificuldades que os azuis e brancos sentiam para queimar linhas perante a bem organizada muralha do Boavista, lançou Wilson Manafá para poder fazer o flanco direito de alto a baixo e possibilitar que Corona e Otávio tivessem mais jogo interior e colocou também Uribe no meio-campo para dar outro critério na construção, ficando Alex Telles com o corredor todo para si também com a saída de Luis Díaz. No plano teórico, e olhando apenas para as características dos jogadores em causa, não havia ali nada de ofensivo; na prática, fez toda a diferença.
???????? 61' | Porto 2-0 Boavista
Corona já lidera os tops da jornada em dribles completos (6)#LigaNOS #FCPBFC #FCPorto #BoavistaFC pic.twitter.com/UQUP4uaykC
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Com uma entrada mais forte, com atitude redobrada e linhas de pressão subidas, o FC Porto encontrou espaços onde antes não existiam e inaugurou o marcador por Marega, numa grande jogada pelo espaço interior com Uribe a queimar linhas para Corona e o mexicano a assistir o maliano com classe para o 1-0. Seis jogos depois, aparecia o golo de um avançado portista que funcionaria como catalisador para um rápido resolver da partida em poucos minutos: Alex Telles aumentou a vantagem de penálti após falta de Dulanto sobre Marega na área assinalada por Soares Dias e confirmada pelo VAR apesar dos protestos axadrezados (60′), Helton Leite ainda tirou o golo a Otávio numa grande jogada individual mas Sérgio Oliveira, também de penálti por corte com o braço de Dulanto após cruzamento de Marega na área, apontou mesmo o 3-0 que fechou por completo o encontro (70′), antes de o maliano, servido na perfeição por Fábio Vieira, fechar a goleada com o quatro golo (86′).
???????? FINAL | Porto ???? Boavista
"Dragão" "incenera" fantasma da fraca concretização, aplicando goleada no dérbi e oferecendo um S. João optimista aos seus adeptos ????
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