A ministra da Coesão Territorial entregou esta quarta-feira a duas famílias de Arouca as chaves das últimas casas aí recuperadas após os incêndios de outubro de 2017, insistindo na limpeza dos terrenos como forma de se evitarem fogos florestais.

Segundo Ana Abrunhosa, com a entrega dessas duas casas fica concluído o processo das cinco reconstruções que o Governo apoiou com verbas do Orçamento do Estado no concelho de Arouca, distrito de Aveiro.

O Governo apoiou assim arranjos parciais em três casas, numa despesa global de 45.500 euros, e requalificações completas de duas outras residências, num custo total de 232.000 euros.

Hoje de manhã, a ministra entregou as chaves das casas que foram totalmente requalificadas, tendo afirmando que, embora esse gesto decorra de um acontecimento infeliz, constitui também “um momento para se virar a página” na vida daquelas famílias que, durante quase três anos, tiveram que partilhar a casa de parentes ou ocupar espaços disponibilizados pelas juntas de freguesia.

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Ana Abrunhosa garantiu que os imóveis intervencionados têm agora “melhores condições” do que apresentavam em 2017, mas realçou que só com comportamentos de segurança se poderão evitar novas destruições num território eminentemente florestal.

“O que se verifica é a necessidade de as pessoas protegerem e limparem as [envolventes das] suas casas, o que é um esforço permanente das famílias e das autarquias”, declarou.

A ministra reconheceu que, junto às casas agora recuperadas, nas freguesias de Fermedo e São Miguel do Mato, a vegetação dos terrenos circundantes se mostra aparada, mas insistiu que “a limpeza tem que ser uma preocupação das pessoas” e que, “quando essas não a podem fazer, têm que pedir ajuda”.

A presidente da Câmara de Arouca, Margarida Belém, também apelou a esse cuidado coletivo na gestão da área florestal, até porque tem particularmente vivos na memória os fogos de 15 de outubro de 2017.

“Hoje estamos a fechar um processo muito doloroso, motivado por um incêndio que se deu logo no meu primeiro dia de mandato como presidente”, lembrou.

Quanto ao período de dois anos e oito meses decorrido entre a destruição das casas e a conclusão do respetivo restauro, foi a ministra da Coesão Territorial que explicou a demora do processo: foi preciso “elaborar os projetos [arquitetónicos], obter o acordo [dos proprietários], encontrar empreiteiros que quisessem fazer as obras, legalizar a titularidade dos terrenos”, etc.

Apesar de a demora da obra não ter sido do seu agrado, hoje Júlia Gomes Oliveira mostrava-se muito satisfeita com a casa renovada, que recupera aos 93 anos, entre os lugares de Viso e Baloca, em São Miguel do Mato.

O exterior do edifício está diferente – a pintura branca é recente, a fachada decora-se com modestas barras verticais cinzentas e na lateral preserva-se parte da pedra da construção original –, mas a maior mudança é no interior, que agora acomoda um quarto adicional para a sua filha viúva e passa a incluir casa de banho, antes só disponível num anexo separado.

“Estava pior quando se queimou. Agora está uma casa bonita”, afirma a nonagenária, que, por em 2017 se encontrar longe da residência quando o fogo deflagrou, diz já não se lembrar “como foi”.

“Mas chorei muito. Ardeu quase tudo”, afirmou.

Maria Oliveira Alves também prefere a moradia que tem agora e pretende instalar-se nela dentro de “um ou dois dias”, mal possa transferir a mobília que, após uma estadia inicial na morada de um parente, adquiriu com apoios do Estado para equipar a casa cedida pela Junta de Fermedo aos seis membros do agregado: ela e o marido, a filha e três netos.

“Já ansiava por isto há muito tempo. A casa antes tinha mais ou menos o mesmo tamanho, mas agora está nova e mais bonita. De tudo o que se passou [por causa do incêndio], isto foi o melhor que aconteceu”, concluiu, perante o imóvel branco que, do edifício original, só mantém o rés-do-chão.