A paragem de três meses no futebol inglês, que acabou no final da semana passada, fez com que Bruno Fernandes tenha jogado pouco mais de um mês na Premier League depois de se ter transferido do Sporting para o Manchester United no final de janeiro. Ainda assim, e mesmo com mais de 100 dias de intervalo, a lógica que o internacional português seguia em março, quando tudo parou, prolongou-se em junho, quando tudo recomeçou.

No primeiro jogo da retoma, e logo contra o Tottenham de José Mourinho, o médio português foi o melhor elemento em campo e marcou o único golo dos red devils, na conversão de uma grande penalidade. Ora, além disso, o empate com os spurs trouxe a primeira coexistência de Bruno Fernandes e Paul Pogba no setor intermédio da equipa de Solskjaer — algo que há muito era antecipado pelos adeptos do Manchester United e pelos comentadores ingleses, já que o internacional francês ainda não se tinha cruzado com o português, por ter estado lesionado durante várias semanas. O encaixe entre os dois foi automático e os elogios a Bruno Fernandes, os mesmos elogios que estavam em todos os jornais em março e que se limitaram a regressar em junho, voltaram depois de quase 100 dias de interrupção.

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We’re back home ❤️ @manchesterunited

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Harry Redknapp não teve problemas em compará-lo a Lampard, Alan Shearer sublinhou a “visão fantástica” mas o comentário mais curioso surgiu por intermédio de um nome bem menos conhecido. Stephen Ireland, antigo médio do Manchester City, deu uma entrevista à The Athletic e entre rasgados elogios ao jogador ex-Sporting decidiu revelar a conversa que manteve com Bruno Fernandes há pouco tempo. “Ele contou-me que, enquanto criança, tinha um poster meu. E que quando jogava Football Manager [FM] costumava contratar-me. Tu tinhas-me num poster? E a sério que me contratavas no FM? Quer dizer, quão estranho isso é?”, contou o antigo internacional irlandês, que diz ter ficado surpreendido com a revelação do médio de 25 anos.

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Entretanto, e elogios à parte, a verdade é que Bruno Fernandes regressava esta quarta-feira a Old Trafford — algo que foi assinalado pelo jogador português nas redes sociais. Sem adeptos nas bancadas, o Manchester United fazia o primeiro jogo da retoma em casa e logo contra o Sheffield United, a equipa sensação da temporada e rival direto na corrida pela última vaga de acesso à Liga dos Campeões da próxima época. O empate com o Tottenham, aliado às vitórias do Wolves e do Crystal Palace, deixaram os red devils com pouca margem de manobra para futuros deslizes e com a pressão sempre presente de ganhar para segurar o quinto lugar.

O Manchester United entrou na partida de forma claramente dominante, com vontade de tomar conta do jogo e chegar depressa à vantagem. Com 10 minutos iniciais muito acutilantes, a equipa de Solskjaer encostou por completo o Sheffield à própria baliza, abrindo o marcador através de um bom lance de entendimento ofensivo: Wan-Bissaka marcou um lançamento na direito, Rashford recebeu na ala e desenvencilhou-se de dois adversários para cruzar de forma muito tensa para Martial, que só precisou de desviar para bater Dean Henderson (7′). A clara passividade da defesa do Sheffield foi aproveitada pela energia dos atacantes do United, que poderiam ter chegado ao segundo golo apenas minutos depois, por intermédio de Rashford, mas o avançado inglês atirou ao lado.

Depois de alcançada a vantagem, os red devils tiraram um pouco o pé do acelerador e permitiram ao Sheffield subir alguns metros no terreno, ainda que sempre sem grande criatividade por parte da equipa de Chris Wilder. Já na reta final da primeira parte, depois de meia-hora sem grandes lances de perigo em nenhuma das balizas e quando ambos os treinadores já pensavam no intervalo, Martial ainda foi a tempo de bisar e de levar o Manchester United mais tranquilo para o balneário. Numa jogada que começou em Bruno Fernandes, o internacional português procurou rematar de fora de área mas optou pelo passe para Pogba quando se viu tapado por dois adversários; o francês recebeu e solicitou Wan-Bissaka, que cruzou para a área, onde apareceu novamente Martial e novamente de primeira (44′).

Na ida para o intervalo, ficava principalmente uma ideia que já foi muito comentada e explorada nos últimos meses. Bruno Fernandes, desde que chegou a Old Trafford, melhorou não só o rendimento global da equipa como o rendimento individual de cada jogador, motivando maior garra e acerto no conjunto do plantel. Isso, aliado ao regresso de Pogba, torna o Manchester United uma equipa a ter em conta para a reta final desta época — Liga Europa e Taça de Inglaterra incluídas — e principalmente para a próxima temporada.

Na segunda parte, a equipa de Solskjaer procurou principalmente gerir a vantagem, ainda que sem recuar demasiado no relvado, esgotando quase por completo o ataque do Sheffield. Antes de o treinador norueguês decidir mudar completo a linha da frente da equipa, aproveitando as cinco substituições de que beneficia, Martial ainda foi a tempo de completar o hat-trick, com um remate certeiro que completou uma jogada brilhante de combinação com Rashford (74′). Para além de o terceiro golo do francês ser o 19.º do avançado esta época em todas as competições, confirmando desde já a época mais goleadora da carreira do jogador, fechou também o primeiro hat-trick de um elemento do Manchester United em sete anos, desde Robin Van Persie e desde que Alex Ferguson deixou o clube, em 2013. Um dado que não deixa de ilustrar as dificuldades dos últimos anos em Old Trafford — e que também não deixa de poder significar o início de um novo capítulo assente numa lei Martial imposta pelos juízes Bruno Fernandes e Paul Pogba.

David De Gea só fez a primeira defesa aos 82 minutos, um encaixe fácil a um remate inofensivo, o Manchester United venceu com uma exibição globalmente muito positiva — alcançando o 13.º jogo consecutivo sem perder, a melhor série de Solskjaer — e ficou, ainda que à condição, a dois pontos do quarto lugar e do Chelsea.