A Replai recebeu 1,1 milhões de euros de investimento numa ronda de investimento seed liderada pela Bright Pixel e com a participação das Ideias Glaciares, da Clever Advertising e outros investidores. A startup fundada por João Vieira da Costa e Francisco Pacheco criou uma plataforma para criação automática de vídeos de curta duração e quer mudar o mercado das competições de jogos eletrónicos (eSports). Próximo passo? Internacionalização.

Sem rodeios, João Vieira da Costa diz ao Observador: “O nosso foco são os líderes na indústria de eSports”. Na prática, o produto da startup de João e Francisco permite cortar automaticamente vídeos durante transmissões em direto. Isto permite destacar  momentos relevantes para a pessoa que está a ver “com base na nacionalidade” e outros fatores. Ou seja, se um português estiver a ver em direto uma competição de Rocket League, um videojogo online que já atribuiu prémios de centenas de milhares de euros, o algoritmo da Replai mostra automaticamente o momento do jogador do seu país, entre outros momentos adaptados a interesses do utilizador.

Como explicam os fundadores, esta tecnologia permite que o utilizador fique mais interessado e continue a ver. Além disso, permite também às empresas poderem destacar os seus conteúdos numa transmissão tendo por base informação dos utilizadores em plataformas como o Facebook, YouTube ou Twitch. “O cliente [empresas] conseguem adaptar o vídeo para cada utilizador”, explica Francisco, que está mais responsável pela vertente tecnológica desta ferramenta. A vantagem não é só isto ser automático, é poder acontecer em direto.

O nome, Replai — diz-se “replay” –, é também um jogo de palavras sobre aquilo que a startup faz. As letras “A” e “I” no final significam artificial intelligence (inteligência artificial, em português). Já replay [significa repetição, em português] mostra o que a startup vende: repetições de vídeos. Com “apenas um ano de existência”, esta empresa já conseguiu juntar também “advisors” [conselheiros] de empresas como a Electronic Arts, uma das principais produtoras de videojogos, da Google, que também está a investir neste mercado, e do Whatsapp (que pertence ao Facebook), contam os empreendedores.

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A ideia surgiu entre os amigos. “O Francisco e eu criámos uma ambição conjunta”, assume João. O empreendedor brinca e diz que Portugal “estava cheio de marinheiros” para ajudar em algo que viam a acontecer no mercado. “Vimos que o short video [vídeo em formato reduzido] estava a começar a crescer com o Tik Tok [rede social] a tornar-se a startup mais bem avaliada do mundo”, assume. Ao mesmo tempo, perceberam que estes vídeos facilitavam a interação dos utilizadores numa indústria — os eSports — que, só em 2018, recebeu investimento de mais de 4,3 mil milhões de euros, como avançou a Delloite.

Apesar de serem jovens, Francisco e João têm também experiência na área de publicidade. Os dois empreendedores referem no currículo ter sido parte da lista de nomeados pela Forbes para possível seleção da lista “30 Under 30”, que destaca pessoas com futuros promissores. No passado, Francisco já passou por agências marketing e desenvolveu parcerias com empresas internacionais (como o Facebook e a Google). Depois de ter passado por agências como o WYgroup, onde João também passou, criou um “um serviço de consultoria para apps mobile” com o colega. Foi este projeto que mais tarde viria a tornar-se a Replai.

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Agora, a ideia de Francisco e João cativou os responsáveis da Bright Pixel. Como conta Benjamin Júnior, responsável na incubadora, este investimento “vai ao encontro daquilo que é a tese de investimento da Bright Pixel”: “Procurar projetos e tecnologias disruptivas desenvolvidas em Portugal”. “Estamos muito orgulhosos por ter encontrado uma equipa que concilia o talento em engenharia, que é muito reconhecido a nível internacional, com a capacidade empreendedora de montarem projetos de dimensão global”, diz ainda o investidor

Existem novos segmentos dentro da área de conteúdo de vídeo que têm vindo a surgir e que acabaram por ganhar dimensão com a pandemia. Os eventos que transitaram do mundo físico para o mundo virtual, impulsionaram o crescimento de players no mundo da produção de conteúdo de entretenimento, nomeadamente, iniciativas ligadas a gaming, a desporto e a outros segmentos”, diz Benjamim Júnior.

Com uma equipa com “cerca de 10 pessoas” espalhadas pelo Porto e Lisboa, o trabalho tem sido feito remotamente devido à pandemia, algo que não requereu muita adaptação, assumem os empreendedores. Os dois também referem que  “pandemia até acabou por ter um impacto positivo na área de short vídeo”, ajudando a Replai. Com as pessoas confinadas, o consumo deste conteúdo de media aumentou, o que levou mais empresas a terem interesse em implementar a tecnologia da Replai, mencionam.

Expansão para o Reino Unido e para novos mercados

Os 1,1 milhões de euros arrecadados nesta primeira ronda de investimento vão permitir aos empreendedores aumentar a equipa e apostar na expansão internacional. Para já, o foco está num local: o Reino Unido. Neste país, os eSports têm crescido exponencialmente estando a ser um setor que começa a cativar cada vez mais fãs, como já acontece na Coreia do Sul, por exemplo. A título de exemplo, durante o início o Governo britânico investiu em publicidade através de videojogos para incentivar ao confinamento da população.

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Porém, a expansão além fronteiras não é o único objetivo da Replai, indicam os fundadores. João e Francisco querem ir além dos videojogos no futuro. Tanto um como o outro assumem que já foram gamers [gíria que refere aquele que joga videojogos]. Contudo, agora, já não têm tempo para jogar . Fazem questão de referir que na equipa há “muitos gamers“, algo que, Benjamin Júnior, que liderou a ronda, também assume ser: “Jogo Red Dead Redeption, GTA, Horizon Zero Dawn com o meu filho, mas sou viciado em espaço e em Elite Dangerous”. Contudo a ambição da Replai não são só os videojogos. Apesar de “os eSports serem o futuro”, a tecnologia que disponibilizam pode ser utilizada para outras indústria, como a dos media, exemplificam.

Como esclarece Benjamim Júnior, “este projeto [da Replai] em particular atua num segmento sofisticado ao utilizar inteligência artificial não supervisionada para a criação de novos conteúdos de conteúdos de vídeo”. Por causa disso, “esta solução permite, por exemplo, a análise de grandes volumes de vídeo e subsequente criação de clips de curta duração altamente relevantes e adequados às camadas mais jovens”, habituados a stories de Instagram e Tik Tok.

Por isso, depois de conquistarem o mercado dos vídeo de eSports, o objetivo de João e Francisco é “ter escala horizontal para todo o conteúdo que exista de vídeo”. Um desejo ambicioso que pode começar agora com este investimento e com o ataque ao mercado do eSports.