Os lares de idosos estão a cumprir as medidas de segurança e alguns suspenderam visitas face aos surtos de Covid-19, disseram esta quarta-feira os representantes da Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade (CNIS) e da União das Misericórdias Portuguesas (UMP).

Confrontado com a proliferação de casos de infeção pelo vírus SARS-CoV-2 em lares de idosos na última semana, como, por exemplo, em Odivelas, Cinfães ou Reguengos de Monsaraz, o presidente da UMP, Manuel Lemos, considerou que um eventual reforço das medidas pela Direção-Geral da Saúde (DGS) pode traduzir-se num “outro confinamento”, mas deixou um aviso para as consequências desse cenário.

“Outro confinamento tem consequências brutais do ponto de vista económico e não sei se Portugal aguenta. Estamos numa dificuldade contínua, portanto, é morto por ter cão e morto por não ter”, afirmou à Lusa, acrescentando: “Já estamos a acabar com as visitas, essa é uma primeira medida, mas não vai resolver o problema. O vírus vem do desconfinamento, é pela vida dos trabalhadores”.

De igual modo, o presidente da CNIS, padre Lino Maia, confirmou que mesmo “sem decisão superior nesse sentido, houve lares nas zonas mais problemáticas que já adotaram a medida de suspender as visitas”. Apesar de não se pronunciar por todos os lares, o líder da organização admitiu os receios de que novas medidas restritivas ou novos surtos estão a gerar entre os utentes dos lares.

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“As orientações estão a ser seguidas e os cuidados estão a ser tidos, mas não estamos imunes e não podemos dizer que não vai haver outro problema. O que é que podemos fazer além do que estamos a fazer? Estamos a fazer tudo”, disse à Lusa, assegurando que o CNIS está atento à realidade nos seus 846 lares, com um universo de cerca de 40 mil utentes.

Na conferência de imprensa de segunda-feira para a atualização do boletim epidemiológico, a diretora-geral da Saúde, Graça Freitas, apontou os profissionais dos lares como “vetores da doença” nestas instituições. Os representantes da CNIS e UMP reconheceram os riscos em torno dos trabalhadores, mas também as limitações que existem para travar a progressão do vírus.

“Os profissionais são absolutamente imprescindíveis. Muitas instituições estão a fazer os profissionais ficarem permanentemente nos lares, com equipas que se vão alternando. Sem os profissionais, vamos abandonar as pessoas? Não é possível. Agora, podem, de facto, ser transportadores do vírus, tanto para dentro como para fora, mas há um grande cuidado”, sintetizou Lino Maia.

Por sua vez, Manuel Lemos esclareceu que os 737 lares das misericórdias, que acolhem cerca de 37 mil utentes, já estão “a reforçar os cuidados e a segurança”, mas que a vida dos funcionários é impossível controlar na totalidade.

“Os trabalhadores têm as suas vidas e, como circulam mais por aí, há fatores que agravam o risco. É impossível controlar a vida de cada um. Embora tenhamos em relação aos trabalhadores todos os cuidados, a verdade é que há pontos que não é possível resolver”, frisou, sentenciando: “A razão principal é que o vírus anda por aí e o desconfinamento iria, naturalmente, trazer esta consequência de haver mais infetados”.

Portugal contabiliza pelo menos 1.543 mortos associados à covid-19 em 40.104 casos confirmados de infeção, segundo o último boletim da Direção-Geral da Saúde (DGS).