Quando tudo parou, e exceção feita à vitória frente ao Sporting que acabou por ser o último jogo de Silas no comando dos leões, o Famalicão estava a viver uma fase de desgaste que acumulava já sete jogos quase seguidos sem qualquer vitória. De 19 de janeiro a 8 de março, a equipa de João Pedro Sousa só conseguiu mesmo ganhar ao Sporting, na penúltima jornada antes da paragem da competição, e foi caindo na classificação, longe dos lugares cimeiros que chegou a ocupar durante semanas no início da época.

Ora, flashforward para junho e para a retoma da competição e o Famalicão é uma das equipas que tem sido mais regular desde que a Liga voltou. Venceu o FC Porto logo na primeira jornada, derrotou o Gil Vicente na semana seguinte e só permitiu um empate ao Sp. Braga na passada sexta-feira, apresentando um ritmo e uma intensidade que estão acima de muitos dos adversários, tanto a nível defensivo como ofensivo. Os bons momentos de forma de Fábio Martins, Pedro Gonçalves e Diogo Gonçalves, principalmente, são o rastilho para as boas exibições globais de um conjunto que tem possibilidades para sonhar com voos mais altos.

Isto porque, e aliado aos pontos perdidos por Sporting, Sp. Braga, Rio Ave e V. Guimarães neste recomeço, o rendimento do Famalicão permitiu à equipa de João Pedro Sousa intrometer-se na corrida pelo terceiro lugar e pela vaga na 3.ª eliminatória de acesso à Liga Europa. Esta quarta-feira, na visita ao Moreirense, uma vitória significava voltar a ultrapassar o Rio Ave e colar-se aos minhotos no quarto lugar, a dois pontos dos leões e à espera de ver o que faz a equipa de Rúben Amorim na sexta-feira, contra o Belenenses SAD.

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Ainda assim, e mesmo com a óbvia noção de que a equipa que foi promovida à Primeira Liga na época passada pode estar nas competições europeias no próximo ano, João Pedro Sousa garante que “assumir ou não a Europa não é a questão”. “Se desde o início o discurso foi sempre de olharmos para o nosso grande objetivo e para nos focarmos sempre no próximo adversário, não fazia sentido agora alterarmos. Mas também não escondo que sabemos a posição em que estamos, o que podemos alcançar e a ambição que temos. E vamos lutar pelos 21 pontos que estão em disputa. Vamos tentar fazer o máximo possível”, explicou o treinador na antevisão da deslocação a Moreira de Cónegos.

Fábio Martins, que foi novamente capitão na ausência do guarda-redes Defendi, continua a ser a figura em destaque no Famalicão

Ora, Fábio Martins e Pedro Gonçalves estavam de regresso ao onze, depois de terem falhado o encontro com o Sp. Braga — o primeiro por estar emprestado pelos minhotos, o segundo por estar castigado –, e o Famalicão voltava à máxima força para defrontar um Moreirense que está a meio da tabela, em posição mais do que confortável face à manutenção. A primeira parte terminou sem golos, depois de 45 minutos bem disputados e interessantes, em que ambas as equipas mostraram vontade de chegar à baliza contrária e sair do jogo com os três pontos. Ainda assim, o relvado tombava sempre um pouco mais para a baliza do conjunto da casa, já que o Famalicão pressionava muito alto, com Toni Martínez e Fábio Martins a formarem a primeira fase do tampão defensivo, e tinha uma reação muito rápida à perda de bola.

Na segunda parte, a lógica pouco se alterou. O Moreirense permanecia ligado à partida, longe de se limitar a defender e a procurar segurar a posse de bola durante alguns momentos, mas era o Famalicão que mais buscava a profundidade e a verticalidade, explorando principalmente o espaço nas costas da defesa adversária. Com os laterais sempre abertos e projetados, a equipa de João Pedro Sousa tentava construir pela faixa central para depois variar para as alas, demonstrando sempre uma paciência acima da média e uma tranquilidade que é rara nesta retoma.

De forma algo contraditória, acabou por ser um lance de pouco discernimento do Famalicão que deu origem ao primeiro golo do jogo. O Moreirense bateu mal um livre, Fábio Martins intercetou e procurou lançar o contra-ataque de imediato com um passe longo mas entrou a bola à equipa adversária. Gabrielzinho avançou em velocidade e abriu na esquerda em Filipe Soares, que cruzou rasteiro para a grande área e viu Fábio Abreu, que tinha entrado instantes antes, aparecer a deslizar para abrir o marcador (69′). Algo injustamente, porque Fábio Martins continua a ser o elemento ‘mais’ de João Pedro Sousa, o capitão do Famalicão acabou por ficar ligado ao golo sofrido, com um passe pouco pensado que foi uma autêntica oferta.

Toni Martínez empatou a partida depois de um grande passe de Ivo Pinto

A reação, porém, foi praticamente perfeita. O Famalicão precisou de menos de cinco minutos para empatar, por intermédio de um remate acrobático de Toni Martínez, que respondeu da melhor maneira a um passe perfeito de Ivo Pinto (73′). Até ao fim, tanto Ricardo Soares como João Pedro Sousa fizeram várias alterações, para colocar mais elementos nas áreas dos adversários, mas nenhuma das duas equipas conseguiu chegar ao golo da vitória.

No final, e confirmado o empate, o Famalicão não conseguiu colar-se ao Sp. Braga, que pode esta quinta-feira ficar com seis pontos de avanço, caiu para trás do Rio Ave e corre o risco de ver o V. Guimarães ficar a apenas um ponto. Do outro lado, o Moreirense permanece bem assente no meio da tabela mas já não ganha há três jogos seguidos, desde a vitória na primeira semana da retoma, contra o Boavista. Charles Dickens escreveu “A Tale of Two Cities”, Um conto de duas cidades, e o jogo de Moreira de Cónegos bem que se podia chamar um conto de dois Fábios: entre o erro de Martins, o golo de Abreu e uma partida de qualidade acima da média que merecia um final mais entusiasmante do que um empate.