O Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC, na sigla inglesa) considera que o aumento das apreensões de cocaína na África Ocidental e Central durante o ano passado sugere uma expansão da prevalência da droga nestas regiões.

No Relatório Mundial sobre a Droga de 2020, esta quinta-feira divulgado, a UNODC aponta que “apreensões significativas em países em África em 2019 sugerem que o total de cocaína apreendida pode ter alcançado um recorde histórico superior a 20 toneladas”, tendo a maioria sido confiscada nas regiões da África Ocidental e Central.

Entre os casos citados no relatório, constam as apreensões de 0,8 toneladas de cocaína na Guiné-Bissau em março de 2019 e de 1,8 toneladas em setembro do ano passado, assim como a interceção de uma remessa de 9,5 toneladas da mesma droga em Cabo Verde, em fevereiro do mesmo ano.

No ano anterior, o continente africano tinha sido uma das regiões que menos apreensões de cocaína fez, registando 0,4% do volume total desta droga apreendida em 2018 — apenas à frente da Oceânia (0,2%) e da Ásia (0,3%).

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Ainda assim, apesar de África parecer um destino marginal para a cocaína, há sinais de que a África Ocidental e o Norte de África são de uma importância contínua e, possivelmente, crescente enquanto áreas de transbordo para a cocaína destinada à Europa e a outros mercados lucrativos”, acrescenta-se no documento, hoje divulgado.

No entanto, a UNODC alerta que estes números “podem sofrer da limitada capacidade das autoridades locais em executarem missões eficazes”.

A edição deste ano do Relatório Mundial sobre a Droga acrescenta que a maior parte da cocaína que entrou no continente africano entre 2014 e 2018 “parece ter partido do Brasil, seguindo-se Colômbia, Bolívia e Peru”, sendo o continente africano utilizado como uma ponte para mercados europeus como Espanha, França e Itália.

Entre as várias apreensões feitas em África no ano passado, o relatório da UNODC destaca a apreensão de várias remessas de cocaína oriundas do Brasil, como uma apreensão de 0,8 toneladas no Senegal, em junho do ano passado, com destino a Angola, e a apreensão de 0,8 toneladas de cocaína no Benim, em dezembro, destinadas ao Níger.

Segundo a agência das Nações Unidas, os traficantes de cocaína estão também a diversificar as rotas tomadas.

“A Venezuela foi, em tempos, um dos maiores pontos de partida, mas viu a sua importância diminuir com a volatilidade política. O Brasil continua um importante país de trânsito e pode até ter de desempenhar um papel maior, e o Uruguai também parece estar a crescer”, aponta a UNODC, que refere que, no final de 2019, as autoridades uruguaias apreenderam duas remessas, num total superior a nove toneladas de cocaína, com destino à África Ocidental.