A Rússia vota a partir desta quinta-feira e até ao dia 1 de julho o referendo que deve permitir a Vladimir Putin manter-se no poder até 2036 e alterar a Constituição com legislação mais conservadora.

A data formal da “consulta popular” é o dia 1 de julho, mas as autoridades abriram as assembleias de voto esta quinta-feira de manhã para evitar ajuntamentos que podem provocar a propagação da pandemia de Covid-19. Máscaras e gel desinfetante estão à disposição dos 110 milhões de eleitores em 11 fusos horários: de Moscovo a Vladivostoque, no Extremo Oriente.

Na antiga capital, S. Petersburgo, Serguei Papov, 45 anos, votou contra a reforma. “É tudo o que posso fazer para ficar com a minha consciência tranquila”, disse o eleitor à France-Presse.

Tatiana Krolenko, eleitora de 79 anos, disse que “as emendas constitucionais são necessárias” e apoia a possibilidade de Vladimir Putin renovar os mandatos.

Em Moscovo, um dos primeiros altos responsáveis do regime, o ex-primeiro-ministro Dmitri Medvedev votou sem ter usado máscara de proteção sanitária e luvas.

Inicialmente o referendo esteve marcado para 22 de abril, mas foi adiado por causa da pandemia de Covid-19. O processo legislativo de reforma da Constituição de 1993 foi iniciado por Putin em janeiro e aprovado pelo Parlamento e prevê agora o referendo.

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Para um dos principais oposicionistas do regime, Alexey Navalny, o único objetivo do voto é conceder a presidência vitalícia a Vladimir Putin.  “É uma violação da Constituição, um Golpe de Estado”, disse Navalny, através de mensagens divulgadas nas redes sociais.

A reforma autoriza o presidente a manter-se no Kremlin durante mais dois mandatos, até 2036, ano em que cumpre 84 anos de idade.

Devido às medidas impostas para combater a propagação do novo coronavírus, a campanha política da oposição contra o referendo foi inexpressiva.

As manifestações previstas para o mês de abril não se realizaram devido ao confinamento obrigatório. A página da internet Niet, que recolhia assinaturas de cidadãos russos que se opõem às reformas e à realização do referendo, foi bloqueada pelos tribunais.

No passado domingo, Putin disse na televisão que “ainda não decidiu se vai manter-se no Kremlin depois de 2024”. Paralelamente aos mandatos, o presidente passa a reforçar poderes que permitem nomear ou afastar juízes, com mais facilidade.

A Constituição pode vir a ter um caráter mais conservador passando a incluir a inscrição “Fé em Deus” e a consagrar o casamento como uma “instituição heterossexual”.

De acordo com uma sondagem do centro público de pesquisas Vtsiom, 74% das pessoas interrogadas vão votar pelas reformas.

Um outro estudo do mesmo centro de sondagens indica que 24% das pessoas inquiridas acreditam que se vão verificar situações de fraude eleitoral e 25% não acreditam na honestidade da consulta popular.