Mesmo com os teatros e salas a reabrir e com o público a desconfinar, as regras para os espectáculos continuam apertadas, da lotação reduzida à utilização de máscara. Ainda há, também, quem receie deslocar-se a salas de espectáculos, sobretudo na área de Lisboa e Vale do Tejo onde a pandemia do novo coronavírus continua especialmente contagiosa. Talvez por tudo isto e pelos novos hábitos de consumo online de cultura resultantes da quarentena, vem aí uma plataforma para se assistir a peças de teatro a partir de casa e em live streaming.

A ideia é da Companhia de teatro João Garcia Miguel, que decidiu criar uma “sala de espectáculos virtual para que todos possam ver as suas peças de eleição, mas sem sair de casa”, refere nota enviada à comunicação social.

Apesar de esta plataforma de streaming ter sido criado por uma companhia de teatro portuguesa, e de ter sido criada também como “palco [virtual] para as produções da Companhia João Garcia Miguel”, a ideia é que sirva toda a “comunidade artística nacional”, contribuindo para esta “subsistir nesta fase desafiante” em que depois da paralisação total, há ainda restrições fortes à venda de bilhetes.

Por tudo isto, adianta a companhia, a ideia é que a plataforma possa “ser utilizada por todas as entidades, grupos de teatro e companhias que apresentem as suas criações no Teatro Ibérico”.

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Primeira peça em “live streaming” na próxima terça-feira

O modelo de funcionamento previsto é o da complementaridade. Não se pretende que o público assista apenas a peças de teatro em formato vídeo e online, a partir de casa, ou sequer que a experiência ao vivo seja substituída pela experiência em streaming. A ideia é que o possa fazer não só, mas também a partir da internet. Por isso, a primeira peça de teatro que será exibida nesta plataforma online é “Febres de Lisboa”, criada pela Companhia de Teatro a partir da obra “Prosas Bárbaras”, de Eça de Queiroz, e que está a ser apresentada ao vivo desde esta terça-feira, 23 de junho, no Teatro Ibérico.

A peça conta com Manuel Sá Pessoa, André Marques, Diogo Tormenta e Nilson Muniz no elenco. Será então possível assistir ao espectáculo através de uma plataforma online no dia 30 de junho, terça-feira, às 21h. A plataforma transmitirá em direto a apresentação dessa noite ao vivo no Teatro Ibérico. Os bilhetes têm o custo de cinco euros e a receita, diz a companhia de teatro, reverterá “inteiramente para o fundo solidário criado pela Direção Geral das Artes e a Audiogest, para apoiar artistas e entidades culturais em dificuldades”.

A peça “Febres de Lisboa” é inspirada pelo livro de textos publicados por Eça de Queiroz, “Prosas Bárbaras”

A bilheteira para a sessão online fecha 24 horas antes do evento. Quer os bilhetes para assistir ao espectáculo no Teatro Ibérico quer os bilhetes para assistir à peça a partir de casa, na plataforma de streaming, podem ser comprados no site da intermediária Ticketline (aqui). O acesso à plataforma online ficará disponível aqui às 20h40 de dia 30 de junho, ou seja, 20 minutos antes do início do espectáculo.

Face à paralisação das estruturas teatrais e dos espectáculos ao vivo durante o período mais crítico de evolução da pandemia do novo coronavírus em Portugal, muitas salas e companhias optaram por divulgar peças suas, antigas e previamente gravadas, online e gratuitamente nos seus sites. Ou seja, em “streaming” mas não em “live streaming”, com transmissões em direto — até por as apresentações teatrais estarem proíbidas até 1 de junho.

Foi o caso, por exemplo, do Teatro Aberto, que lançou a iniciativa “Teatro em Casa”, e também do Teatro Nacional D. Maria II, que disponibilizou na sua Sala Online (aqui) e na sua Salinha Online (aqui, para produções infanto-juvenis) várias gravações integrais em vídeo de espectáculos anteriormente exibidos no Teatro Nacional.

Nestas duas salas online do Teatro Nacional D. Maria II é possível ver em streaming peças previamente levadas a palco como “Sopro”, “Sweet Home Europe”, “Electra”, “Alice no País das Maravilhas” (adaptado por Ricardo Neves-Neves e com encenação deste e de Maria João Luís), “O grande dia da batalha”, “Frei Luís de Sousa” (em encenação de Miguel Loureiro), “Montanha Russa” (de Miguel Fragata e Inês Barahona), “A matança ritual de Gorge Mastromas” (encenada por Tiago Guedes), “Amores Coloniais” (da companhia Hotel Europa), “Um libreto para ficarem em casa seus anormais” (com e encenada por Albano Jerónimo), a encenação de David Pereira Bastos para “À espera de Godot” e “Worst Of” do Teatro Praga, entre outras peças disponibilizadas em vídeo.

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Também o Teatro Experimental de Cascais divulgou várias peças de teatro previamente apresentaadas online, desta feita no seu canal de Youtube. O Teatro Nacional São João, no Porto, tem optado por exibir gravações de peças de teatro que ficam disponíveis durante períodos delimitados de tempo — ainda esta sexta-feira, 26 de junho, ficará disponível a partir das 22h no canal de Vimeo do TNSJ uma gravação integral da peça “Exatamente Antunes”, de Jacinto Lucas Pires, previamente apresentada e criada a partir da obra “Nome de Guerra” de Almada Negreiros. O vídeo ficará disponível até às 24h de domingo, 28 de junho.

Em Lisboa, o Teatro Municipal São Luiz disponibilizou durante um dia — 27 de março, o Dia Mundial do Teatro — gravações de sete peças de teatro anteriormente encenadas no teatro lisboeta. Já a Culturgest disponibilizou no seu canal de Youtube o vídeo integral da apresentação em palco da peça “100% Lisboa”, entre outras gravações relativas a conferências e debates anteriores.