Primeiro, os dados. A Região de Lisboa e Vale do Tejo continua a preocupar (com 369 novos, num total de 461 no país), mas o Governo vai repetindo o mantra de que a “situação está controlada”, alertando, no entanto, para a necessidade de se manterem regras de distanciamento e higiene. Mas os números levantam as dúvidas: então e a Liga dos Campeões? Então e o Avante? Bom, aí a resposta é menos coesa. Quanto à primeira, que se realiza no fim de agosto, a ministra diz já com segurança que não há problema; quanto à segunda, que se realiza no início de setembro, Marta Temido diz que “é precoce estar a pensar noutros momentos” que não este.

Foi assim mesmo que a ministra da Saúde, que esta sexta-feira liderou a habitual conferência de imprensa no ministério sobre a situação epidemiológica da Covid-19 em Portugal, respondeu a duas perguntas distintas sobre grandes eventos. Primeiro foi questionada sobre a manutenção da Festa do Avante (a 4, 5 e 6 de setembro), que já tem regras de segurança divulgadas pelo partido que a organiza, o PCP. E com o Governo a defender que as organizações partidárias mantenham as suas iniciativas, a ministra foi bem mais comedida desta vez, dizendo que “é prematuro” estar agora a falar do que acontecerá em setembro. A pergunta tinha sido sobre se existia “dualidade de critérios” na autorização da festa comunista, numa fase em que a região onde esta se vai realizar estar com medidas de contenção acrescidas.

Quando chegou a pergunta sobre a competição organizada pela UEFA e as notícias internacionais sobre o receio desta organização com a situação em Lisboa quando a final da Liga dos Campeões está marcada para o estádio da Luz, no dia 23 de agosto, Marta Temido já deu garantias. A ministra disse não ter informação sobre esses receios e que “a situação está controlada” em Lisboa. E rematou: “Não vemos motivo para que quaisquer atividades previstas para um tempo mais dilatado possam sofrer alterações”.

Na conferência de imprensa a ministra apareceu apostada em transmitir segurança em relação à situação em Lisboa, garantindo até que o número de camas hospitalares está longe de constituir um problema. “Há 21 mil camas hospitalares” em Portugal e “534 só de cuidados intensivos polivalentes para adultos”, sendo que nesta altura estão 67 ocupadas por doentes Covid-19. Mas, ao mesmo tempo, avisou que é preciso manter a guarda alta nesta fase. “A Covid-19 só desaparecerá das nossas vidas com uma vacina ou um tratamento eficaz. O facto de Portugal ter tido uma situação epidemiológica menos dura do que a de outros países e de agora enfrentar números consistentes em algumas freguesias é um motivo para reforçar o nosso esforço articulado”, disse.

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Se Costa tivesse puxado as orelhas à ministra “teria certamente razão”

Uma ministra no difícil equilíbrio de um país a três velocidades (uma nacional, outra para a Área Metropolitana de Lisboa e outra ainda em 19 freguesias da região de Lisboa), tal como já tinha acontecido na reunião de quinta-feira no Infarmed, sobre a qual chegou mesmo a ser  noticiado um momento em que as suas palavras irritaram o primeiro-ministro. É verdade que o primeiro-ministro “puxou as orelhas” à ministra nessa reunião? “Se tivesse puxado as orelhas à ministra teria certamente razão mas os castigos corporais estão fora do método de trabalho”, respondeu prontamente a ministra depois de ter sorrido perante a expressão usada pela jornalista presente na conferência de imprensa.

“Temos que nos reconcentrar no que é essencial e nesta fase em que estamos, quase em julho e todos estamos bastante cansados, é natural que se perca alguma da tranquilidade e que possamos perguntar-nos se as coisas estão todas a evoluir no sentido que é o melhor”, desvia a ministra. Em causa está esta notícia da Visão.

Sobre o estado de coisas, a ministra disse que o SNS mantém”capacidade” para responder a eventuais alterações do quadro da pandemia e que o país recebeu nos últimos tempos 14 voos fretados que transportaram um total de 852 equipamentos, entre compras e doações. Diz que estão por distribuir 560 ventiladores, que foram os últimos a chegar.

E, também em resposta a uma pergunta dos jornalistas, Marta Temido — esta sexta-feira mais interventiva do que a diretora-geral de Saúde Graça Freitas — disse ainda que está “por dias ou horas” o aparecimento da app para rastreio do vírus. Numa primeira fase estará disponível “para utilização a título experimental”, diz a ministra, que sublinhou que “o baixar da app é uma opção voluntária e individual e poderá ser uma forma pertinente, útil e segura para em casos positivos os contactos serem mais facilmente avisados e localizados”.