Fernando Medina atacou esta segunda-feira à noite a forma como tem sido feito o controlo da pandemia em Lisboa. “Isto não é problema de alta tecnologia, é um problema da qualidade das chefias. Ou as chefias em matéria de saúde pública conseguem em poucos dias por ordem na casa ou essas mesmas chefias terão de ser imediatamente reavaliadas”, disse o presidente da Câmara da capital que é também presidente da Área Metropolitana de Lisboa (que reúne 18 municípios), aludindo à recente multiplicação dos casos de infeção na região de Lisboa.

“Há sítios a funcionar bem e outros a funcionar mal. É sempre difícil fazer estas mudanças mas, daquilo que eu conheço do terreno, sinto-me na obrigação de fazer este alerta: ou as coisas entram dentro dos eixos em matéria de ação no terreno ou então tem de haver alteração rápida das chefias”, argumentou Medina, fazendo questão de frisar a importância do tempo. “Estamos num momento crítico, cada hora que passa e onde há inquéritos em atraso, testes que demoram tempo a fazer, e não há confinamentos bem feitos, é uma hora que aumenta o risco de isto correr mal. É necessário que sejam alteradas agora e não daqui a um mês, daqui a um mês é correr atrás do prejuízo.”

Logo no início do seu habitual comentário na TVI24, Fernando Medina considerou que “várias coisas correram mal” e defendeu que a assunção do erro será o primeiro passo para resolver o problema. “É preciso que as coisas sejam assumidas com muita clareza para que não hajam equívocos. Quem não reconhece que há um problema, não tem capacidade para resolver um problema”, disse.

Para o autarca de Lisboa, as autoridades falharam ao deixar instalar na população um sentimento de que “tudo isto estava ultrapassado, que não havia vírus, que não havia problemas, que toda esta pandemia estava ultrapassada”. “Ora isto é falso. A situação que estamos a viver aqui na região de Lisboa – não na cidade, mas na região – prova isso mesmo. E isto é válido para qualquer outra região ou país na Europa”, acrescentou.

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Ou seja, “o sentimento de que após uma fase de desconfinamento tudo estava ultrapassado e que poderíamos retomar a alegre fase desconfinada é falsa”. Por isso mesmo, disse Medina, falhou informação sobre a real situação que se estava a viver na região e a sua origem. As decisões adotadas sobre o desconfinamento, salientou, provaram ser acertadas na generalidade do país, mas não em Lisboa.

A começar pelas razões invocadas para a subida dos números em Lisboa. “Mostraram ser insuficientes ou mesmo erradas”, concluiu.

Para além disso, acrescentou, falhou a informação prestada pelas autoridades de saúde para apoio à decisão dos governantes. E falhou ainda a ação no terreno, que não foi “nem eficaz, nem atempada”, com rastreios generalizados sem critério ou testes que demoraram muito tempo a entregar resultados, apontou.

No conjunto, as palavras do autarca atingiram toda a estrutura de comando das autoridades de saúde, que termina na ministra da Saúde, Marta Temido. E em última análise, no responsável por tudo, o chefe do Governo, António Costa.

“Com maus chefes e pouco exército, não conseguimos ganhar esta guerra”, concluiu por fim o presidente da Área Metropolitana de Lisboa. Questionado pelo jornalista da TVI sobre se essa era uma nota para o Ministério da Saúde e para a DGS, Fernando Medina prosseguiu sem rodeios. “É, é mesmo”, disse. “Têm de colocar as pessoas certas nos locais certos.”