O rei Filipe da Bélgica assumiu ter “os mais profundos arrependimentos” pelo passado colonial na República Democrática do Congo. Esta é a primeira vez que um monarca belga fala publicamente sobre os atos violentos praticados naquela ex-colónia.

Numa carta enviada ao presidente Felix Tshisekedi por ocasião dos 60 anos de independência da República Democrática do Congo, o rei Filipe escreveu: “Quero expressar os meus mais profundos arrependimentos por essas feridas do passado, cuja dor é despertada hoje pela discriminação ainda presente em nossas sociedades”.

“A nossa história é feita de conquistas comuns, mas também de conhecidos episódios dolorosos. Na época do Estado independente do Congo foram cometidos atos de violência e crueldade que ainda pesam na nossa memória coletiva. O período colonial que se seguiu também causou sofrimento e humilhação”, diz a carta.

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A mensagem chega numa altura em que uma onda de manifestações contra o racismo se espalhou pelo mundo após uma série de episódios de violência policial contra cidadãos negros nos Estados Unidos. “Continuarei a combater todas as formas de racismo. Encorajo a reflexão iniciada pelo nosso parlamento para que a nossa memória seja definitivamente pacificada”, termina o documento.

Na Bélgica, nas últimas semanas, as estátuas de Leopoldo II, antigo rei da Bélgica e soberano do então Estado Livre do Congo, têm sido vandalizadas e foi aberta uma petição para a sua remoção.

Enquanto governou o Estado Livre do Congo, que regia como se fosse um reino privado, Leopoldo II explorou as reservas de marfim e as plantações para produção de borracha. Estima-se que as atrocidades cometidas no período em que o monarca belga teve responsabilidades na agora República Democrática do Congo resultaram na morte de milhões de pessoas.

Em 1908, na sequência de pressões internacionais, o parlamento da Bélgica retirou o Congo das mãos de Leopoldo II e anexou o país como colónia. Só a 30 de junho de 1960, há precisamente 60 anos, é que o Congo conquistou a independência da Bélgica e passou a chamar-se República Democrática do Congo.