As medidas para mitigar a Covid-19 em Moçambique estão a agravar a insegurança alimentar de várias famílias da capital, Maputo, e arredores, alertou esta quarta-feira a Rede de Sistemas de Alerta Antecipado de Fome (rede Fews, sigla inglesa).

“As famílias mais pobres e vulneráveis enfrentam dificuldades para encontrar fontes alternativas de rendimento e apoio”, sendo que “uma análise realizada pelo Secretariado Técnico de Segurança Alimentar e Nutrição (Setsan, entidade estatal) e parceiros estimou que aproximadamente 15% da população de Maputo e Matola (365.000 pessoas) estão a enfrentar um cenário de crise (fase 3 do IPC)”.

O IPC é uma classificação internacional sobre a fase em que se encontra a segurança alimentar (da sigla inglesa Integrated Food Security Phase Classification) e varia entre 1, inexistente, a 5, fome severa.

Numa situação menos severa, mais ainda assim em stress (fase 2 do IPC), está um largo número de famílias que “perdeu acesso às suas habituais fontes de rendimento e passou a comprar comida graças a trabalho alternativo, pequeno comércio e assistência de amigos, familiares e vizinhos”.

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Nas áreas rurais, os impactos da Covid-19 no acesso a alimentos para as famílias mais pobres “são limitados, pois os sistemas de comercialização agrícola funcionam em níveis quase normais, com restrições principalmente relacionadas com estradas e pontes danificadas durante a última estação chuvosa, sobretudo no norte”.

Na análise esta quarta-feira publicada, além do impacto da Covid-19, a rede antecipa que a situação de crise (fase 3) em Moçambique poderá estender-se a partir de outubro a algumas partes da província de Tete, no centro de Moçambique.

“Provavelmente, a partir de outubro, a segurança alimentar vai deteriorar-se no sul de Tete e noutras áreas do sul e centro [do país], pois as famílias pobres vão esgotar as reservas de alimentos (que têm estado abaixo da média devido à falta de chuva) muito mais cedo do que o habitual”, lê-se no documento.

Ao mesmo tempo, prevê-se a manutenção (com tendência para se agravar) da situação de crise na província nortenha de Cabo Delgado e nas províncias austrais de Inhambane, Gaza e uma pequena parte de Maputo.

Cabo Delgado enfrenta uma crise humanitária com 211.000 pessoas a fugir de ataques terroristas, enquanto que a sul o problema é a seca que dura há vários anos.

Os cenários já incluem as estimativas das autoridades moçambicanas que apontam para uma produção de cereais acima da média na campanha 2019/2020.

Segundo a rede Fews, em maio, o preço do grão de milho nos mercados do centro e norte “diminuiu ou permaneceu estável”.

No sul, o preço do grão de milho começou a cair devido ao aumento da oferta da região central, mas o valor “permanece 20 a 60% acima da média de cinco anos”. O preço da farinha de milho e do arroz permaneceu estável em maio, exceto em Maputo, “onde o preço do arroz aumentou 40%, provavelmente devido a algumas restrições temporárias de oferta”, conclui.

A Fews, Rede de Sistemas de Alerta Antecipado de Fome, agrega organizações norte-americanas e serve como ferramenta de auxílio à ação humanitária.