O dinheiro prometido pelo Governo para aumentar a capacidade de resposta nos cuidados intensivos dos hospitais nacionais “tem mesmo de avançar e já”. A conclusão é de Philip Fortuna, médico intensivista de 38 anos que trabalha no centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central (CHULC), que inclui as unidades de cuidados intensivos dos hospitais Curry Cabral e São José.

Em entrevista ao Diário de Notícias, o médico — que é também coordenador do Programa ECMO (oxigenação por membrana extracorporal) — sublinhou a necessidade de ser cumprido o que ficou estabelecido no Plano de Estabilização Económica e Social, aprovado este mês de junho: mais investimento na Saúde, com 26 milhões de euros prometidos só para os cuidados intensivos, incluindo contratação de pessoal e aumento do número de camas de cuidados intensivos para as 11,5 camas por cada cem mil habitantes.

“Esta verba não [pode] ficar cativada, porque senão quando chegar o inverno podemos ter mais Covid e os hospitais vão ter de parar outra vez só para tratar estes doentes. Tal como tiveram de parar agora, mas uma coisa é pararem na fase aguda da doença outra coisa é pararem todos os anos por causa disto, porque o vírus vai continuar por aí”, avisa o médico.

Em concreto, Philip Fortuna dá o exemplo da Unidade de Emergência Médica do Hospital de São José, onde as 22 camas polivalentes que existiam tiveram de ser divididas entre doentes Covid e não-Covid. “Isto fez com que tivéssemos de dividir a equipa e que tivéssemos de criar circuitos independentes, o que faz com que a lotação de camas não seja a mesma. Se um dia tenho a zona de doentes não Covid cheia, e a ala de doentes com Covid só com uma cama ocupada, é como se não tivesse mais camas, mesmo que mais de metade das camas Covid estejam vagas, o mesmo acontece se fosse o contrário”, explica ao DN.

Na prática, sem mais profissionais de saúde e sem mais camas, os hospitais podem mesmo ficar bloqueados e incapazes para tratar outras doenças para lá desta pandemia. Razão pela qual o médico pede um “equilíbrio”, ainda para mais porque a Covid-19 parece estar para ficar: “Os hospitais não podem fechar só para tratar covid. Ou seja, temos todos de aprender a conviver com a doença, desde unidades, profissionais e população.”

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