A oposição russa protestou esta quarta-feira em Moscovo contra o referendo constitucional, apresentado pelo Presidente da Rússia, que, entre outras medidas, lhe permitirá, se aprovado, manter-se no Kremlin além do seu mandato, que termina em 2024.

Apesar dos protestos terem sido proibidos pelas autoridades russas, cerca de 500 pessoas concentraram-se na praça Pushkin, no centro da capital, para exibir cartazes e coreografado palavras de ordem contra a votação, iniciada a 25 de junho, ao longo de diversos piquetes, a única forma de manifestação permitida na Rússia sem autorização prévia.

Quero celebrar com champanhe, porque hoje é um dia de grande festa na Rússia. Por fim, conseguiu-se reunir uma quantidade significativa de pessoas que, de um modo preciso e claro, respondeu ‘não’ às estranhas manobras organizadas pelas autoridades”, afirmou Maria Litvinovich, representante da plataforma “Niet” (“Não”).

Em declarações à agência noticiosa espanhola EFE, a opositora a Putin referiu que em Moscovo e em São Petersburgo, segundo uma sondagem à boca das urnas realizada pelos ativistas do movimento, “quase metade dos votantes” recusou as emendas constitucionais.

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Segundo os dados apresentados por Litvinovich, em Moscovo votaram a favor 44,91% dos eleitores, contra uma maioria contra de 54,89%. Em São Petersburgo, acrescentou, a diferença é ainda maior, com a vitória do “não” a chegar aos 63,07%. O “sim” às emendas constitucionais só contou com 36,69% dos votos.

“Não posso garantir o mesmo no resto do país, mas, de qualquer maneira, não se trata de uma minoria, não são 10% ou 15%, o que se pode menosprezar. As autoridades terão de contar com o facto de que o país está praticamente bipolarizado, que uma quantidade considerável de pessoas disse ‘não'”, sublinhou Maria Litvinovich.

Segundo os dados oficiais da Comissão Eleitoral Central russa, até às 19:00 TMG (20:00 em Portugal), estavam contados 27,15% dos votos escrutinados na parte oriental russa, 73,79% dos votantes apoiaram a reforma constitucional, contra os 25,26% que a recusaram.

Por seu lado, o político e diretor do Movimento Rússia Aberta, Andrei Pivovarov, afirmou que o referendo “nada tem em comum com a realidade” e questionou a legitimidade do procedimento, que considerou uma “farsa”.

Os piquetes realizados na praça Pushkin não foram os únicos ao longo do dia.

Um grupo de oito jovens efetuou uma ação de protesto na Praça Vermelha, também em Moscovo, ao “desenharem” com os seus corpos o número 2036, ano até ao qual Putin poderá permanecer no poder se as emendas à Constituição foram aprovadas.

Segundo a organização russa Golos, que defende e promove os direitos dos eleitores, a polícia deteve os oito manifestantes, entre eles um membro feminino da banda punk Pussy Riot, conhecida pelas posturas anti-Putin.

Também em São Petersburgo e em Novosibirsk, capital da província homónima, situada na Sibéria, ocorreram piquetes contra o referendo, que terminaram com a detenção dos participantes, que foram posteriormente libertados, segundo o portal de notícias Medusa.

A reforma submetida aos russos autoriza Putin a permanecer no Kremlin por mais dois mandatos, até 2036, altura em que o chefe de Estado russo terá 84 anos.

A oposição russa tem vindo a denunciar o que considera ser uma “farsa eleitoral”, destinada a abrir o caminho a Putin para uma “Presidência vitalícia”.