Mais de cem viaturas concentraram-se esta quarta-feira na Praça da Canção, em Coimbra, num comício drive in, em defesa do Hospital dos Covões, com intervenientes a pedir uma reversão da fusão com os Hospitais da Universidade de Coimbra.

A buzinar ininterruptamente, os carros percorreram a cidade durante a tarde, na defesa do Hospital dos Covões, tendo a ação começado no parque de estacionamento daquela unidade e terminado na Praça da Canção, onde decorreu um comício drive in, organizado por um grupo informal de profissionais de saúde.

Com uma parte das pessoas dentro dos carros, a substituir as palmas por buzinas, e uma outra parte fora, junto ao palco da Praça da Canção, vários intervenientes, a maioria profissionais de saúde, deram voz às suas preocupações em relação ao Hospital dos Covões, integrado no Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC) em 2011.

A antiga diretora clínica do Hospital dos Covões Deolinda Portelinha foi uma das primeiras a subir ao palco, onde mostrou preocupação com aquilo que tem sido o passado recente do hospital, desde unidades com novas instalações que foram desmanteladas à rejeição da instalação da maternidade do CHUC na área daquele hospital.

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“O hospital foi desativado em diversas áreas com prejuízo para a saúde de Coimbra e da região”, frisou Deolinda Portelinha, notando que o ataque surgiu ao mesmo tempo que “passaram a florescer as [unidades de saúde] privadas” na cidade.

Também o antigo presidente do Conselho de Administração do Hospital dos Covões Rui Pato criticou o “desmantelamento” daquela instituição, considerando que aquilo que hoje se assiste nesta unidade hospitalar é apenas reflexo de algo que sempre viu desde o primeiro dia em que trabalhou lá como médico.

“Aquele hospital foi sempre alvo de um ataque soez por parte dos Hospitais da Universidade [de Coimbra]. Nunca tivemos solidariedade daquele hospital”, afirmou, notando que, “pela primeira vez, Coimbra está a voltar-se para a margem esquerda [onde está situado os Covões]”.

Para Rui Pato, o “desmantelamento dos Covões” não tem “lógica nenhuma” e “não vai trazer nada de bom à saúde” das populações.

Um utente, que também usou da palavra, recordou o dia em que foi salvo nas urgências dos Covões, não esquecendo “o sorriso dos profissionais” que o socorreram nem a “competência e eficácia” da equipa.

“Não matem o Hospital dos Covões”, pediu.

Já o médico Carlos Costa Almeida, primeiro subscritor de uma petição que deu entrada na Assembleia da República que pede a devolução da autonomia ao Hospital dos Covões, salientou que é preciso perguntar à ministra da Saúde se houve “algum estudo ou avaliação” para a fusão dos hospitais que levaram à criação do CHUC.

“Não houve”, respondeu, considerando que, passados nove anos, o resultado da fusão é “péssimo”, sendo que o “único caminho” para que haja uma melhoria da saúde em Coimbra e na região Centro passa pela reversão dessa mesma medida, concretizada em 2011.

“A única solução é a separação dos hospitais. Coimbra precisa de dois hospitais gerais centrais, como teve durante 45 anos e nunca ninguém se queixou e nunca houve manifestações. Com a fusão, ao fim de nove anos, toda a gente se queixa”, frisou Carlos Costa Almeida.

Também Diogo Cabrita, médico nos Covões e um dos organizadores da iniciativa desta quarta-feira, corrobora a posição de Carlos Costa Almeida.

“Eu quero um estudo. Quero que me mostrem se valeu a pena. E, se não valeu a pena, que se repensem as coisas”, disse Diogo Cabrita, considerando que a fusão foi um erro.