A organização não-governamental Repórteres Sem Fronteiras (RSF) afirmou esta sexta-feira que pediu a um grupo de trabalho das Nações Unidas a realização de uma “investigação independente e imparcial” ao desaparecimento do jornalista Ibraimo Mbaruco, no norte de Moçambique, em abril.

Num comunicado divulgado esta sexta-feira, a RSF referiu que, a par de outras organizações de direitos humanos, também pediu ao grupo de trabalho da Comissão dos Direitos do Homem das Nações Unidas, encarregada de investigar os desaparecimentos forçados ou involuntários, para analisarem o caso de Ibraimo Mbaruco, que desapareceu em Cabo Delgado, no norte de Moçambique, em 7 de abril.

O silêncio das autoridades sobre este caso de um jornalista desaparecido nos últimos três meses tem sido insuportável para a família, e nós estamos determinados a descobrir o que lhe aconteceu”, afirmou o responsável da RSF para África, Arnaud Froger, acrescentando que “não é a primeira vez que jornalistas são agredidos, atacados ou detidos” na província.

Ibraimo Mbaruco, jornalista da Rádio Comunitária de Palma, em Cabo Delgado, desapareceu a 7 de abril em circunstâncias por apurar, disseram à Lusa, na ocasião, familiares e uma fonte da rádio.

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Segundo o Instituto da Comunicação Social da África Austral (Misa), pouco antes do seu desaparecimento, Ibraimo terá enviado uma SMS a um dos seus colegas de trabalho, informando que estava “cercado por militares” e o que se passou depois é uma incógnita.

Ibraimo Mbaruco está morto? Quem eram os soldados que o cercavam quando escreveu a sua última mensagem? Está detido, e se sim, por que razões? Há muitas questões a que as autoridades moçambicanas devem responder”, salientou Arnaud Froger.

Várias organizações internacionais, incluindo a Amnistia Internacional, a Human Rights Watch e a União Europeia, manifestaram já o seu repúdio com o desaparecimento do jornalista e pediram às autoridades o esclarecimento do caso.

As autoridades moçambicanas demarcaram-se da eventual detenção do jornalista, reiterando que o caso está sob investigação.

Em 24 de abril, durante uma reunião com o Misa sobre o caso, a Presidência moçambicana sugeriu à organização que submetesse o caso à Procuradoria-Geral da República moçambicana, ação que já tinha sido encetada pela família da vítima em Cabo Delgado.

Cabo Delgado, região onde avançam megaprojetos de extração de gás natural, vê-se a braços com ataques de grupos armados classificados como uma ameaça terrorista e que já mataram pelo menos 600 pessoas nos últimos dois anos e meio, provocando uma crise humanitária que afeta 211.000 pessoas.

Em 2019, dois jornalistas locais na região que cobriam o tema, Amade Abubacar e Germano Adriano, foram detidos e maltratados pelas autoridades durante quatro meses, sob acusação de violação de segredos de Estado e incitamento à desordem, num caso contestado pelas Nações Unidas e outras organizações.