Há um mês, quando a Primeira Liga recomeçou, a ideia de que o Desp. Aves seria uma de duas equipas despromovidas à Segunda Liga estava praticamente assegurada. Confirmou-se, aliás, no início desta semana. A discussão sobre quem acompanharia os avenses, contudo, era mais alargada. Ainda que a ideia transversal a todas as cabeças fosse a de que dificilmente o Portimonense escaparia à descida.
Passou um mês. E este sábado, em caso de vitória contra o V. Guimarães, o Portimonense igualava os 30 pontos do V. Setúbal (e do Tondela, ainda que provisoriamente neste caso) e lutava lado a lado com os sadinos pela manutenção no principal escalão do futebol português. Para isso, e ao longo de cinco jornadas, os algarvios ganharam três vezes e empataram duas, nunca perdendo. São, a par do Sporting, uma de apenas duas equipas que ainda não perderam nesta retoma. Dados que, a outras cinco jornadas do final da temporada, deixavam o Portimonense à beira de alcançar algo que em março era apenas uma quimera.
“Temos de ser muito competentes e estar concentrados, porque sabemos que temos uma equipa com muito valor pela frente, de grande tradição, e que vai ser uma partida difícil. Temos de ser competentes para continuarmos a somar pontos e para que possamos atingir os nossos objetivos. Temos os pés bem assentes no chão, somamos uma boa quantidade de pontos, mas ainda estamos abaixo da linha de água. O foco e a concentração têm de continuar a ser máximos, para chegar o dia em que se possa dizer que foi dada a volta”, explicou Paulo Sérgio, treinador dos algarvios, na antevisão à receção deste sábado ao V. Guimarães.
Um V. Guimarães que, ao contrário do Portimonense, está a realizar uma retoma bem abaixo das expectativas. Numa altura em que se pedia à equipa que subisse de rendimento de forma ativa para lutar pelo quinto lugar que dá a última vaga de acesso às competições europeias, os vimaranenses só conseguiram a primeira vitória do recomeço no início da semana, contra o V. Setúbal, e estão já a quatro pontos do Rio Ave e desse derradeiro bilhete para a Liga Europa.
O pé esquerdo de Marcus salvou o dia negro de Ivo (a crónica do V. Guimarães-V. Setúbal)
Na primeira parte, o ritmo só acelerou a partir dos 20 minutos, altura em que todo o relvado do estádio de Portimão ficou finalmente à sombra e o efeito do enorme calor que se fazia sentir às sete da tarde foi reduzido. Depois desse início muito morno, acabou por ser o Portimonense a ir para o intervalo completamente por cima da partida e com oportunidades desperdiçadas consecutivas — e permitidas por uma displicência defensiva do V. Guimarães. Lucas Fernandes acertou na trave com um grande remate de fora de área (35′) e viu Douglas responder a um livre direto logo a seguir (39′) e Ricardo Vaz Tê, que se estreou a marcar na Primeira Liga na jornada passada, atirou ao lado de cabeça na sequência de um canto (39′). Tudo isto já depois de o VAR voltar atrás na decisão de assinalar uma grande penalidade por jogo perigoso na área vimaranense, devido a fora de jogo no início do lance, num momento que seria muito polémico se tivesse realmente dado penálti.
Certo é que transparecia a ideia de que dificilmente o V. Guimarães conseguiria condicionar o movimento ofensivo do Portimonense. A equipa de Ivo Vieira não só não conseguia chegar à baliza contrária, fruto da organização algarvia e da própria escassez de ideias, como não aplicava a pressão necessária na zona intermédia, principalmente para travar os movimentos de Lucas Fernandes. Ainda assim, os vimaranenses voltaram com maior intensidade para a segunda parte — depois de um intervalo esticado até aos limites, com os jogadores algarvios a esperarem muito tempo no relvado pelos adversários — e até ficaram perto de inaugurar o marcador logo nos primeiros instantes, através de um remate de André André que passou por cima.
A equipa de Ivo Vieira esteve sempre por cima durante o primeiro quarto de hora do segundo tempo, empurrando ligeiramente a pressão algarvia que tinha sido insuportável até ao intervalo, e procurou principalmente o corredor esquerdo, onde Ola John aparecia em bom plano a espaços para solicitar a profundidade de Ouattara na faixa central. O Portimonense esticou-se no relvado para tentar replicar os lances perigosos que tinha apresentado na primeira parte, com Júnior a ficar perto de marcar com um remate por cima da baliza, mas o V. Guimarães chegou ao golo numa jogada de ataque praticamente perfeita.
Sacko cruzou a partir da direita e Bruno Duarte, que tinha entrado cinco minutos antes para substituir Ola John, apareceu entre os centrais para cabecear para o fundo da baliza (67′). Um golo que apareceu num altura em que o jogo estava mais partido e imprevisível e onde parecia, cada vez mais, que a vantagem poderia tombar para qualquer um dos lados. Paulo Sérgio reagiu ao golo sofrido com as entradas de Jackson Martínez, Moreno e Bruno Costa mas a equipa já não conseguiu responder à desvantagem, até porque os níveis anímicos caíram a pique e o V. Guimarães parecia estar melhor fisicamente.
No final, o Portimonense sofreu a primeira derrota da retoma e falhou a oportunidade de igualar o V. Setúbal, complicando novamente as contas para a manutenção. Já a equipa vimaranense, acusou os efeitos da longa palestra que Ivo Vieira terá dado ao intervalo, assentou nos cinco minutos de enorme eficácia de Bruno Duarte e alcançou a segunda vitória consecutiva, superando provisoriamente o Famalicão e igualando o Rio Ave.