África mostrou-se capaz de responder à fase mais aguda da pandemia de Covid-19 com “coragem, determinação e rapidez” e esse “esforço enorme” deve merecer apoio, defendeu esta segunda-feira o ministro dos Negócios Estrangeiros português, Augusto Santos Silva.

Sublinho a forma como países em desenvolvimento e regiões muito vulneráveis do ponto de vista, por exemplo, da qualidade dos seus sistemas de saúde, se mostraram capazes, pela coragem, pela determinação, pela rapidez com que atuaram, de responder à fase mais aguda da pandemia. E eu aqui falo sobretudo em África”, disse o ministro no colóquio parlamentar “O impacto estratégico da pandemia de Covid-19 no ambiente internacional”, na Assembleia da República, em Lisboa.

Augusto Santos Silva defendeu que todos devem “olhar com muito cuidado e com muita atenção” para essa reação africana à pandemia, desencadeada “muito rapidamente, muito precocemente e muito corajosamente” numa fase inicial da propagação do vírus.

E como em geopolítica não podemos apenas ficar pelas condecorações, esse olhar com atenção […] significa para nós uma obrigação de, em sede designadamente da gestão da dívida pública dos países africanos, de gestão das relações económicas com África, a gestão dos fluxos comerciais, apoiar África neste esforço enorme que está a fazer para conter a pandemia”, afirmou.

Augusto Santos Silva escolheu falar no colóquio das consequências positivas do impacto geoestratégico da pandemia, sublinhando embora que não ignora as negativas, e incluiu a questão de África nos aspetos de “ação prática e intervenção” que os efeitos da Covid-19 devem suscitar.

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Noutra vertente, a que chamou “aspetos de conhecimento e de consciência”, Santos Silva destacou como a pandemia tornou “mais uma vez evidente o quão necessário é o multilateralismo”, quer “como método, segundo o qual procuramos enfrentar problemas comuns através de uma ação coletiva concertada”, quer enquanto “constelação de organizações internacionais” e “constelação de regimes jurídicos internacionais”.

Defendeu, neste contexto, que “embora as organizações multilaterais continuem a ser a plataforma mais adequada para esta resposta coletiva e comum”, são precisas “reformas profundas no multilateralismo”, designadamente o que chamou “multilateralismo em rede”.

Isto é, trazer para o mesmo campo quer as organizações multilaterais do sistema das Nações Unidas, quer entidades multilaterais regionais como a União Europeia e tantas outras entidades, quer outras organizações deste tipo”, para um “multilateralismo inclusivo”, explicou.

“E provavelmente a pandemia permite-nos perceber que […] que não podemos dispensar o multilateralismo, mas que temos de torná-lo, ele e as suas organizações, muito mais eficazes”, defendeu.