O desejo de conceber um veículo movido por motores eléctricos, por sua vez alimentado por baterias, como forma de reduzir as emissões poluentes nos centros das grandes cidades, está longe de ser um conceito novo. Hoje há cada vez mais autocarros eléctricos movidos por baterias e até os camiões para o transporte de carga estão aí ao virar da esquina, armazenem eles a energia em acumuladores ou optem por produzi-la a bordo através de fuel cells. O que poucos sabem é que já em 1970 a MAN concebeu e produziu um destes veículos, que colocou ao serviço da população de Koblenz, Alemanha.

O modelo em causa era um MAN 750 HO-M10 E. Tratava-se de um autocarro em que o motor a gasóleo tinha sido retirado, bem como a caixa de velocidades e o depósito de combustível. Mas, curiosamente, no espaço deixado livre foi montado um motor eléctrico, mas não foi instalada qualquer bateria, ao contrário do que é habitual hoje.

Os técnicos da MAN calcularam que o veículo necessitava de uma bateria com 108 kWh para funcionar durante duas a três horas, durante as quais percorria cerca de 50 km através de Koblenz. Sucede que estávamos a anos da descoberta de baterias de iões de lítio ou de qualquer outra solução química que se revelasse mais eficiente, ou com maior densidade energética do que as tradicionais baterias de chumbo, a que os automóveis também recorriam como baterias de arranque. Por isso, o peso e o volume necessários para acomodar baterias que assegurassem uma capacidade de 108 kWh obrigou a MAN a alojá-las num reboque, que o autocarro transportava atrás de si.

O facto (pouco interessante) de ter de puxar um reboque revelava-se depois prático no momento de trocar as baterias gastas por outras carregadas, operação para a qual bastava desligar um cabo, desatrelar o reboque e substituí-lo pelo novo, com baterias novas e voltar a ligá-lo ao autocarro, que assim podia continuar viagem com os seus 99 passageiros a bordo.

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O primeiro MAN 750 HO-M10 E foi apresentado em Fevereiro de 1970. Durante seis meses percorreu cerca de 6000 km, sem que aparentemente tivesse registado qualquer problema. Começou a operar em Koblenz em Janeiro do ano seguinte, onde rodou durante um ano, para depois a MAN produzir mais duas unidades em 1972, que colocou ao serviço da organização dos Jogos Olímpicos de Munique. Durante o evento, os atletas foram regularmente transportados entre o Parque Olímpico e a Vila Olímpica nesses veículos, que operavam 20 horas por dia.

A MAN vez evoluir o conceito com baterias mais recentes, já com uma capacidade de 163 kWh, o que permitia uma autonomia de 80 km. Essa versão foi fornecida a uma série de cidades alemãs, como Frankfurt e Dusseldorf, entre outras, tendo estado em circulação até 1979. Felizmente, os autocarros eléctricos da MAN evoluíram consideravelmente, sendo o novo Lion’s City E o mais recente exemplo. O reboque desapareceu, com as baterias a estarem agora integradas no próprio veículo, apesar da capacidade ter disparado para 480 kWh. A autonomia também subiu, atingindo agora 200 km, podendo chegar aos 270 km em condições mais favoráveis de carga e perfil do terreno, com o Lion’s City E a estar disponível numa versão mais curta, além de outra mais comprida e articulada.