Os Estados Unidos da América exigiram esta quarta-feira que as autoridades do Burkina Faso “façam mais” para prevenir abusos pelas forças de segurança contra civis, afirmando que o apoio norte-americano “não pode continuar sem ação” das autoridades do Burkina Faso.

“As autoridades do Burkina têm de fazer mais para prevenir estes abusos e responsabilizar os seus autores”, escreveu o secretário de Estado Adjunto para África, Tibor Nagy, na plataforma social Twitter, remetendo para um relatório da organização Human Rights Watch (HRW).

No relatório, a HRW acusa as forças de segurança do Burkina de, alegadamente, terem executado extrajudicialmente, durante os últimos meses, cerca de 180 pessoas na região de Djibo, norte do país.

Tibor Nagy afirmou que o relatório é “muito preocupante” e ameaçou que “o apoio norte-americano à segurança [no Burkina Faso] não pode continuar sem ação” das autoridades do país.

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O enviado dos EUA ao Sahel, Peter Pham, reforçou a ideia e escreveu que, “sem uma ação rápida e profunda, estes abusos colocam em risco a parceria com os EUA”.

As declarações destes dois responsáveis norte-americanos surgem depois de uma publicação pela embaixada dos EUA em Ouagadougou, capital do Burkina Faso, na qual a representação diplomática expressou preocupação com “o contínuo e crescente número de alegações de abuso”.

Os Estados Unidos estão profundamente preocupados com o contínuo e crescente número de alegações de abusos e execuções extrajudiciais pelas forças de segurança do Burkina Faso, incluindo as documentadas pela Human Rights Watch”, disse a embaixada.

A embaixada norte-americana instou o executivo do Burkina Faso a “lançar imediatamente uma investigação independente”, considerando que “é imperativo que os governos mantenham os mais altos padrões de conduta e respeitem a responsabilidade do Estado de proteger os seus cidadãos”.

Um relatório publicado esta quarta-feira pela HRW refere que foram encontrados pelo menos 180 corpos em valas comuns junto a Djibo.

“As evidências disponíveis sugerem o envolvimento das forças de segurança do Governo em execuções extrajudiciais em massa”, afirmou a organização de defesa dos direitos humanos, no documento, baseado em depoimentos de moradores locais.

Segundos moradores de Djibo, os mortos, todos eles homens, foram deixados em grupos entre três e 20, ao longo das principais estradas, debaixo de pontes e em campos e terras devolutas.

Os testemunhos ouvidos pela organização apontam ainda que a maioria das vítimas pertencia à etnia fula, que, nos últimos anos, tem tido membros a serem recrutados por grupos jihadistas no Burkina Faso.

Em resposta às alegações, o Governo comprometeu-se a abrir uma investigação e indicou que os assassinatos podem ter sido cometidos por grupos armados, utilizando uniformes do Exército roubados durante os ataques, refere a HRW.

Djibo está localizado numa das áreas mais afetadas pelos ataques por grupos jihadistas.

Nos últimos anos, as forças de ordem têm sido repetidamente acusadas de abusos aos direitos humanos, incluindo de mortes extrajudiciais, na luta contra grupos jihadistas.

Em maio, 12 das 25 pessoas detidas por suspeito de terrorismo morreram numa esquadra em Tanwalbougou, no leste do país.

Os familiares das vítimas, incluindo um deputado, e organizações não-governamentais, apontaram que os 12 mortos eram civis que foram apanhados durante uma patrulha e que estes foram executados com balas na cabeça, uma hipótese excluída pela procuradoria do Burkina Faso.

O Burkina Faso é alvo regular de ataques jihadistas, por vezes entrelaçados com conflitos intercomunitários. Os conflitos mataram mais de 1.100 pessoas desde 2015 e obrigaram quase um milhão de pessoas a abandonarem as suas casas.