A lógica é apenas uma: a “entrega total”. Foi assim que José Gomes, treinador do Marítimo, explicou qual seria a postura da equipa na visita desta quarta-feira ao Boavista. Depois de duas vitórias consecutivas, uma delas contra o Benfica, os madeirenses começaram a ficar realmente confortáveis na tabela e em relação à permanência e pontuar contra os axadrezados seria mais um selo de garantia e confiança. Para isso, mais uma vez, era necessária a “entrega total”.
“Foram seis pontos extraordinários, fundamentais, se calhar, para atingirmos o objetivo pretendido e muito importantes para dar confiança ao processo e a todo o trabalho que temos vindo a fazer. Há uma entrega total por parte dos nossos jogadores, por parte de toda a estrutura do clube, portanto, há uma comunhão de interesses muito vincada e todos estão a dar o máximo”, disse José Gomes na antevisão, onde acabou por elogiar o Boavista — assim como o Rio Ave — e sublinhar que “muitas vezes o bom ou mau momento dos ‘grandes’ acaba por ofuscar o trabalho de grande qualidade que é feito noutros clubes”.
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— CS Marítimo (@MaritimoMadeira) July 7, 2020
Certo é que, numa fase francamente positiva, o Marítimo recebeu outras duas boas notícias esta semana: uma de caráter institucional, outra de caráter desportivo. Primeiro, e no 23.º aniversário à frente do clube, o presidente Carlos Pereira garantiu que não está “cansado” e que pretende continuar em funções para alcançar dois objetivos bastante práticos, a conquista de uma Taça de Portugal ou Taça da Liga e a construção de uma academia. Depois, foi a vez de René Santos, central dos madeirenses, ter sido eleito o melhor defesa da Liga no mês de junho, com mais de 11% dos votos, superando Zainadine, também do Marítimo, e Fabiano, do Boavista.
Para a visita ao Bessa, José Gomes optou por Milson, Joel Tagueu e Xadas na frente de ataque, deixando Rodrigo Pinho, Correa e Edgar Costa, todos titulares no último jogo contra o Santa Clara, no banco de suplentes. De forma ligeiramente surpreendente, face ao momento atual das duas equipas, acabou por ser o Boavista a dominar os 25 minutos iniciais da partida — com mais bola, mais presença no meio-campo adversário e até um remate perigoso de Carraça (7′), na conversão de um livre direto. A diferença entre as duas equipas, porém, fez-se na eficácia.
Por volta da meia-hora, depois de uma recuperação de bola através de um duelo aéreo, o Marítimo só precisou de dois passes verticais para chegar à grande área do Boavista. Joel Tagueu passou por Helton Leite e abriu o marcador (30′) mas o lance só foi validado alguns minutos depois pelo VAR, depois de ter sido anulado inicialmente pelo árbitro auxiliar por alegado fora de jogo do avançado. Em desvantagem, o Boavista acabou por sofrer outro revés mesmo à beira do intervalo, quando Fabiano viu o segundo cartão amarelo e foi expulso, deixando desde logo a equipa de Daniel Ramos reduzida a dez unidades durante toda a segunda parte.
Depois do intervalo, o Boavista mostrou sem reservas que acusou tanto o golo sofrido como a expulsão e recuou muito no terreno, tornando-se permeável ao maior atrevimento do Marítimo. Milson obrigou Helton Leite a uma grande defesa, com um remate em jeito a partir do vértice da área (49′), e Zainadine também testou o guarda-redes axadrezado com um livre direto (56′). Até ao fim, os madeirenses controlaram a vantagem sem grande velocidade nem esforço, face a um Boavista que pareceu ter desperdiçado todas as balas na primeira parte e apareceu na segunda com apenas pólvora seca para disparar — terminando até com nove elementos, já que Paulinho viu vermelho direto já nos descontos depois de uma entrada dura sobre Pelágio.
O Marítimo somou a terceira vitória seguida, algo que ainda não tinha acontecido esta época, e também o terceiro jogo seguido sem sofrer golos, assumindo novamente a boa fase que atravessa nesta retoma e solidificando a manutenção na Primeira Liga. Para isso, precisou de um golo solitário de Joel Tagueu: o avançado camaronês que voltou à Madeira em janeiro, depois de já ter jogado no clube há dois anos, e no verão passado foi submetido a uma cirurgia perigosa devido a um problema cardíaco. Joel sobreviveu, ultrapassou o maior adversário de todos e já voltou a fazer golos. Mas continua a sorrir pouco, mesmo depois de garantir a vitória para o Marítimo.