O diretor do Departamento de Saúde Pública, na Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo (ARSLVT), assumiu que houve falhas nos rastreios e na identificação das pessoas que faziam o teste à Covid-19.

Em declarações à Rádio Observador, esta quarta-feira, Mário Durval afirmou que a estrutura montada para a realização de testes não respondeu a “umas quantas condições”, em particular no que toca à questão da identificação das pessoas e sua respetiva localização.

“Fazer testes não significa coisa nenhuma se eles depois não tiverem sequência e não seja possível encontrar as pessoas, por exemplo”,  afirmou o delegado de saúde.

Só o facto de ter havido algumas pessoas cujo nome não estava completo obrigava a que os serviços perdessem dias à procura. Os profissionais de Saúde Pública fizeram verdadeiras maratonas para encontrar as pessoas”, disse ainda Mário Durval, considerando que estas “insuficiências de certa forma também se compreendem, no meio da miríade de testes e de esforços que foram feitos por muita gente”.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Surto em Lisboa. Aida, João, Ana e Odete estão há dias à espera do contacto das autoridades de saúde

Mário Durval disse ainda que, em determinadas alturas, “não houve capacidade” para fazer os inquéritos epidemiológicos em 24 horas “como estamos a fazer”, mas destacou outros fatores como os atrasos não só nas declarações dos laboratórios, como nas declarações feitas pelos médicos — que não são feitas “em tempo útil”.

“Mas tentar reduzir a situação da pandemia em Lisboa e Vale do Tejo a uma causa é tentar resolver um problema de grande complexidade com uma única solução“, indicou o delegado de saúde, acrescentando que há “muito mais causas locais” que se prendem com a dinâmica populacional e territorial.

Se o problema fosse regional, a região era toda a abrangida e, de facto, o que vemos é que não é em toda a região. “

Para Mário Durval, a pandemia em Lisboa e Vale do Tejo “foi sempre contida” e referiu que “nunca houve um crescimento exponencial que é o descontrolo da epidemia”, mas sublinhou que há problemas que a Saúde Pública não consegue resolver, como a precariedade laboral.

A precariedade laboral é que leva a que muita gente que tem estado infetada continue a ir para o trabalho, porque precisa de ganhar dinheiro todos os dias para comer. São situações que não passam por nós.”

Ainda sobre Lisboa e Vale do Tejo, o delegado de saúde regional disse que ainda é cedo para ver resultados das medidas implementadas na região para controlar a pandemia, uma vez que são medidas “muito generalizadas”.

Estamos numa situação que ainda preocupa, mas de qualquer maneira não significa que não haja melhoria”.

Sobre a falta de médicos de Saúde Pública, Mário Durval afirmou que esta é uma situação de “dezenas de anos” e que resulta de uma “política de desvalorização” da Saúde Pública de “vários Governos”.

“Ao não se valorizar, não havia candidatos [à especialidade]. A Ordem dos Médicos também não valoriza ou valorizou a Saúde Pública e portanto naturalmente que as coisas levaram ao afastamento de muitos médicos da área. Não havendo agora, também não criam de um momento para o outro.”

Mário Durval: “Há problemas que não são responsabilidade da área da saúde”