Há muito que o Wolverhampton é tido como a armada portuguesa em Inglaterra e na Premier League. Com 14 representantes nacionais na equipa principal, entre plantel e equipa técnica, o português é fluente no clube inglês e os jogos dos wolves são dos mais acompanhados pela comunicação social portuguesa. Nuno Espírito Santo é o grande representante do exército, Rui Patrício ganha destaque por ser indiscutível na baliza, Rúben Neves já é vice-capitão e Diogo Jota é um dos goleadores de serviço — algo que muitas vezes deixa outro nome importante com pouco espaço de relevo.

Esta semana, coube a Nuno Espírito Santo recordar que João Moutinho é um dos jogadores mais importantes de uma equipa que ainda vai disputar a reta final da Liga Europa e está na corrida pelo apuramento para a Liga dos Campeões da próxima temporada. O médio português é, em ex aequo, o jogador de toda a Europa com mais jogos disputados esta época e vai tornar-se o único, já que o único concorrente à altura era Callum McGregor, do Celtic, e o campeonato escocês já terminou. Moutinho levava 55 jogos, entre Wolverhampton e Seleção Nacional, e igualava esta quarta-feira McGregor, que terminou a temporada com 56. Dado importante: McGregor tem 27 anos, Moutinho tem 33.

“Esses números dizem muito. Nós sabemos que o João é um profissional de topo. Tem experiência e sabe a importância que tem saber gerir um calendário competitivo muito apertado, gerir aquilo que temos de fazer durante esse processo. E o João faz tudo isso todos os dias. E não é só esta temporada, ele tem sido competitivo a este nível ao longo de toda a carreira. É um competidor natural. Adora o jogo, adora treinar e adora competir. E gosta de passar essa sabedoria aos colegas mais jovens. É bom para nós”, disse Nuno Espírito Santo na antevisão da visita ao Sheffield United, onde Moutinho igualava então Callum McGregor no título de jogador mais utilizado da Europa esta época.

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Contra o Sheffield, o Wolves sabia que uma vitória significava cavar cinco pontos de vantagem para o Arsenal, que esta terça-feira empatou com o Leicester, e provisoriamente igualar o Manchester United, que só joga quinta-feira, no quinto lugar. Tudo isto com o objetivo de agarrar o último lugar de acesso à Liga dos Campeões da próxima temporada e tudo isto com Rui Patrício, João Moutinho, Rúben Neves e Diogo Jota no onze, sendo que Pedro Neto está lesionado e nem sequer estava no banco de suplentes.

Numa primeira parte em que o Wolves foi sempre superior mas teve alguma dificuldade em criar situações de perigo, a melhor oportunidade surgiu por intermédio de Rúben Neves, que acertou na trave de livre direto (32′). A equipa de Nuno Espírito Santo teve mais bola, mais posse e jogou melhor mas não conseguiu desequilibrar a boa organização defensiva adversária, principalmente a partir da jogada que é o ex libris do Wolves: profundidade e velocidade de Adama Traoré no corredor direito, cruzamento tenso para a área e Raúl Jiménez a aparecer a concretizar. Preparado para isso, o Sheffield preocupou-se sobretudo com Traoré e com a faixa direita, deixando pouco espaço para que o espanhol pudesse fazer a diferença.

Na segunda parte, a lógica manteve-se e o jogo mantinha-se muito mais aquilo que o Sheffield queria do que aquilo que o Wolves queria. Era a equipa de Nuno Espírito Santo que tinha mais bola e mais iniciativa mas era a de Chris Wilder, assente na característica organização e acutilância, que controlava as ocorrências da partida. O Sheffield adiantava-se apenas de forma controlada e quando sentia que não existia perigo de deixar espaço nas costas, tendo até colocado a bola no interior da baliza de Rui Patrício — Billy Sharp estava fora de jogo e o golo foi anulado (53′) –, e o Wolves começava a optar por um futebol mais direto, face à escassez de ideias e soluções.

Espírito Santo só mexeu a pouco mais de dez minutos do fim, para trocar Traoré por Dendoncker, e o jogo caiu em qualidade e discernimento na fase final — muito por responsabilidade do próprio Wolves, que perdeu gás e terminou recolhido na própria grande área e defender as investidas de um corajoso Sheffield que acabou por ter a recompensa já nos descontos. Canto batido na direita e John Egan, mais alto do que todos os outros, bateu Rui Patrício e derrotou a armada portuguesa (90+3′).

O Wolverhampton perdeu e somou a segunda derrota consecutiva, falhando a fuga ao Arsenal e a aproximação ao Manchester United, podendo até ficar a seis pontos dos red devils e do quinto lugar já esta quinta-feira. O dia de João Moutinho, o jogador em toda a Europa com mais jogos esta época entre clube e Seleção, tinha tudo para correr bem. Mas no fim, o omnipresente saiu do relvado de cabeça baixa.