Todos os anos por esta altura é revelado aquele que para o “The World’s 50 Best Restaurants” é o novo melhor restaurante do mundo. Este ano, porém, a Covid-19 trocou as voltas a toda a gente e o setor da hotelaria é um dos que mais tem sofrido com o embate da pandemia. É por isso que a organização decidiu cancelar a listagem deste ano e concentrar todos os esforços em ajudar a comunidade que justifica a sua existência: o leilão solidário “Bid for Recovery Auction”um evento à escala global em que se pode licitar sobre as experiências mais extravagantes e, com isso, ajudar restaurantes em dificuldade um pouco por todo o mundo — este domingo é o dia limite para tentar comprar uma experiência.

Trata-se então do maior evento de sempre dentro deste género de iniciativas que disponibiliza mais de 170 “lotes” com experiências gastronómicas singulares. “Sentimo-nos confiantes de que chefs, barmen e empresários estavam dispostos a serem generosos e dar qualquer coisa de si mesmo para ajudar todo o setor. Não eles próprios, mas sim os restaurantes e bares mais pequenos em todo o mundo que estão a sofrer”, explica ao Observador William Drew, o diretor de conteúdos do “The World’s 50 Best Restaurants” e do “The World’s 50 Best Bars”. Depois de muito brainstorming e de terem decidido cancelar a lista deste ano de forma a canalizar esforços para esta mega-operação de recuperação, a lista desafiou os “seus” cozinheiros (todos dentro da área do fine dining) com a ideia. “Foram todos extraordinariamente generosos, as respostas foram incríveis. Explicámos a todos os que quiseram participar que a ideia era criar algo de verdadeiramente excecional, não apenas uma mesa num restaurante. É verdade que os compradores são pessoas que têm a sorte de serem mais abastadas, mas tudo o que estão a gastar será para distribuir pelos mais desfavorecidos”, conta Drew.

William Drew, o diretor de conteúdos do The World’s 50 Best Restaurants, falou com o Observador sobre esta iniciativa. D.R.

E como é que isto funciona? Drew explica que apesar de não terem ideia de quanto poderão angariar — “Isto é tudo território novo, não conseguimos prever valores com certeza” –, uma coisa é certa: todo esse valor chegará a quem mais precisa. Como? Através de duas vertentes, uma depreende a criação de uma bolsa a que qualquer empresário ou cozinheiro do mundo poderá concorrer e a outra, sempre equivalente a 50% de todos os ganhos, de doações a ONGs relacionada com a restauração. “No fim deste mês, bares e restaurantes vão poder candidatar-se a uma bolsa de ajuda à recuperação, falamos de espaços de todo o mundo, nem encorajamos os da nossa lista a concorrer porque, à partida, estarão melhor financeiramente quando comparados com outros espaços mais pequenos”, conta William Drew. Caberá aos “concorrentes” descrever “a sua situação financeira, aquilo que têm tentado fazer, o que fariam se tivessem o dinheiro e como é que ele os ajudaria”, sendo que depois disso a 50 Best avaliará cada submissão e distribuirá um valor disponível.

A outra vertente de apoio mais direto depreende a distribuição de 50% dos ganhos totais por “uma série de associações sem fins lucrativos um pouco por todo o mundo”, projetos que estão “a fazer um trabalho incrível ao ajudar o setor da hotelaria e a alimentar quem mais precisa” como o espanhol “Chef’s for Spain”; a “Lee Initiative”, que paga a restaurantes para estes providenciarem refeições para os mais necessitados; e a “Black Urban Growers”, um projeto que encoraja várias comunidades negras pouco representadas a desenvolver os seus negócios dentro do ramo da restauração.

De entre o extenso leque de experiências à venda, há um dia inteiro com Mauro Colagreco, chef do Mirazur, o mais recente melhor do mundo, que inclui pescaria no Mediterrâneo, caixas de vinho, refeições no seu espaço em Menton, e visitas a agricultores locais. Há ainda uma em São Francisco com Dominque Crenn, célebre cozinheira que se propõe a levar os compradores à sua quinta privada para aprender com ela tudo sobre apicultura, extração de azeite e fermentação (bem como refeições nos seus premiados restaurantes). Pode comprar também uma viagem de quatro dias nos hotéis e restaurantes mais luxuosos de Singapura; fazer um safari (literal e gastronómico) de três dias no Peru na companhia de Virgílio Martínez e Pía León com expedições no Vale Sagrado perto de Machu Pichu, tours na cidade de Cusco e refeições nos locais mais típicos da região; e muito, muito mais. Até o português José Avillez (o único presente na lusitano da listagem) tem uma proposta, uma refeição completa no seu duas estrelas Michelin lisboeta, o Belcanto, e a oferta de uma garrafa de vinho Madeira vintage.

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