Apesar do nulo caseiro com o Brighton, o Wolverhampton atravessava um bom momento antes da paragem pela pandemia mas nem por isso perdeu a cadência de bons resultados com três vitórias consecutivas sem sofrer golos no regresso da Premier League que colocaram a equipa a bater à porta de um lugar na Champions. Seguiam-se dois jogos fundamentais, com adversários diretos. Correram mal. Frente ao Arsenal, a equipa mais portuguesa da Liga inglesa morreu como antes já tinha matado, sofrendo dois golos de Bukayo Saka e Lacazette nas duas boas oportunidades que os londrinos tiveram. Em Sheffield, com outra das revelações, o jogo com poucas ou nenhumas chances podia cair para qualquer lado e desequilibrou-se numa bola parada quando estava destinado ao nulo.

Ninguém na Europa jogou mais do que João Moutinho esta época. Mas o omnipresente saiu de cabeça baixa

“Nada nos pode tirar as coisas boas que temos vindo a fazer. Esta temporada começou quase há um ano, tem sido longa e, com a pandemia, tudo foi interrompido mas temos de recomeçar e seguir. Estou muito orgulhoso de todos os jogadores, do staff, toda a gente. Esta unidade é necessária porque se aproximam desafios difíceis, quatro na Premier League e depois a Liga Europa. Temos muita coisa pela frente e queremos competir bem, é o nosso maior objetivo”, comentou Nuno Espírito Santo, em declarações ao site oficial do clube, falando sobre as correções que têm de ser feitas na finalização e na melhoria que é necessária em aspetos como as segundas bolas.

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Nuno Espírito Santo foi eleito em junho o melhor treinador da Premier League, distinção que já antes recebera em setembro de 2018, depois de ter cumprido uma série de quatro vitórias e um empate. A seguir, perdeu duas vezes e com adversários diretos. Mas o treinador continuou a ser fiel ao que sempre defendeu desde que assumiu a equipa ainda no Championship em 2017, depois de passagens por Rio Ave, Valencia e FC Porto: o processo, ir crescendo de forma sustentada, criar um balneário forte independentemente das nacionalidades para dar a volta nas fases menos conseguidas como a atual. “Estamos dois anos à frente do projetado. No primeiro ano a ideia era tentar subir à Premier League, depois consolidar a posição sem pensar em Europa, mas a minha ideia foi sempre que a identidade da equipa é que marcaria o futuro. O Wolverhampton deixou de ser um projeto para ser a minha vida, com alguns jogadores tenho ligação sentimental, estamos juntos há quatro anos», disse à ESPN.

Nessa conversa, que não podia recusar por ser com o antigo companheiro de equipa Djalminha, brasileiro que jogou com o antigo guarda-redes no Deportivo, Nuno falou também de Adama Traoré, jogador que tem agitado o mercado e que no último jogo voltou a deslocar o ombro. “Ele é único, super profissional, trabalha muito, tem um coração do tamanho do mundo”, referiu então. “Durante a pandemia, quando não podíamos competir, o Adama fez um programa especial por causa do seu ombro. No jogo com o Sheffield United houve esse contratempo mas ele conseguiu aguentar a dor. Tem de lidar com as dores, porque essas estão lá, mas pode competir, pode jogar. Tem uma mentalidade forte”, acrescentou sobre a quarta vez que o avançado deslocou o ombro esta época.

O espanhol formado no Barcelona, que também por lesão falhou no final de 2019 a estreia pela seleção principal depois de ter feito todo o percurso nas camadas jovens, chegou a ser apontado ao onze inicial na receção ao Everton mas começou no banco tal como Diogo Jota e João Moutinho. Mantendo Raúl Jiménez como principal referência ofensiva, Nuno apostou em Dendocker para fazer dupla com Rúben Neves e lançou Pedro Neto e Daniel Podence no apoio ao avançado mexicano, tentando quebrar os últimos dois jogos sem golos. E foram mesmo essas mexidas que deram outra vida ao ataque do Wolverhampton, com Pedro Neto a fazer uma assistência e Podence a ser o elemento em maior evidência na equipa sobretudo na primeira parte, com o jogo mais “preso” (3-0).

Com apenas 152 minutos disputados em oito jogos desde que chegou a Inglaterra vindo do Olympiacos no mercado de janeiro, condicionados também por uma viagem recente a Portugal por motivos pessoais que obrigou depois a que cumprisse um período de quarentena (o que fez também com que estivesse alguns dias a trabalhar em casa e não com a equipa), Podence chegou a estar apontado ao onze com o Sheffield United, não saiu do banco mas teve uma estreia em grande como titular no Wolverhampton, respondendo da melhor forma a algumas dúvidas que se começavam a levantar na imprensa. “Está no clube há seis meses e quase não sabemos nada dele. É estranho, mesmo pelo método de Nuno, que integra lentamente os reforços. Sim, há que ter a grande paragem em conta, mas, tendo em conta que Podence jogava a Champions no início da época e serpenteava entre a defesa do Tottenham, por esta altura esperava-se mais”, dizia esta semana o diário Express & Star.

Logo aos três minutos, num lançamento em profundidade, o avançado formado no Sporting teve o primeiro remate à baliza para defesa de Pickford. Calvert-Lewin, no mesmo minuto e da mesma forma, deixou também um aviso inicial a Rui Patrício mas o encontro entrou depois numa fase mais monótona, travada pela pausa para hidratação e pela velocidade do dianteiro: primeiro assistiu Pedro Neto com um grande cruzamento que por pouco não originou o 1-0 (25′); a seguir libertou-se de dois adversários com uma fantástica finta na esquerda antes do tiro defendido por Pickford para canto (26′); por fim, e quando já estava na direita por troca com Pedro Neto, foi carregado em falta por Lucas Digne após fazer uma roleta e Raúl Jiménez inaugurou o marcador de penálti (45+2′).

Carlo Ancelotti, que já tinha perdido por lesão Yerry Mina à meia hora (entrou Coleman), trocou o regressado Baines por Branthwaite ao intervalo para começar a tentar mexer com o encontro mas o Everton dificilmente podia ter registado uma pior entrada, sofrendo logo a abrir o segundo golo num livre lateral marcado na direita por Pedro Neto que Dendoncker, com um grande desvio de cabeça, transformou no 2-0 (46′). O esquerdino formado no Sp. Braga teve de sair pouco depois por motivos físicos, dando lugar a Diogo Jota, mas foi Podence que continuou a brilhar e por pouco não marcou, num lance para os apanhados de Pickford que quase deixou passar a bola (61′) antes de brilhar numa jogada em que Diogo Jota apareceu isolado por Rúben Neves na área (65′). Não foi aí, foi pouco depois: na sequência de mais um grande passe do médio português, Jota recebeu de forma orientada e rematou de pé esquerdo para o 3-0 (74′), antes de assistir o entretanto entrado Adama Traoré para um desvio para a trave quando estava sozinho na área num lance que teve início em… Rui Patrício (86′).