A semana começa com tempestades e continua com tempo muito quente, naquela que o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IMPA) considera ser a primeira grande onda de calor deste verão. Até ao próximo domingo não espere que os termómetros desçam dos 30º em quase todo o país e prepare-se mesmo para provavelmente aquele que será, até agora, o dia mais quente do ano: quinta-feira.
As previsões apontam para que as temperaturas ultrapassem os 40º em muitas, mas mesmo muitas cidades portuguesas, sobretudo no interior, e fiquem acima dos 35º nas restantes. Só para lhe dar uma ideia, Évora e Santarém, por exemplo, podem chegar aos 42º, Beja aos 40º e Lisboa aos 39º nessa quinta-feira.
E as noites vão ser tropicais, com noites a rondar os 20 graus.
Contudo, há alertas. O IPMA avisa para a grande possibilidade de trovoadas secas ao longo deste domingo e não foi uma mera informação meteorológica. Foi um aviso de perigo iminente que, infelizmente, chegou tarde para o bombeiro que morreu no incêndio na Lousã. Porque se há quem conheça o risco destas tempestades são os especialistas nos fogos: as trovoadas secas são fenómenos atmosféricos em que toda – ou quase toda – a precipitação se evapora antes de chegar ao solo e os relâmpagos que produzem são uma das principais causas dos maiores incêndios mundiais.
Proteção Civil faz aviso à população para risco de incêndio devido a instabilidade meteorológica
Este tipo de trovoadas secas, onde há grandes descargas elétricas mas quase não chove, acontecem em todo o mundo, mas ocorrem frequentemente nas zonas mais secas: África, algumas partes dos EUA, Ásia, Austrália e Nova Zelândia. Por isso, tal como agora fez o IPMA, o Serviço Nacional de Meteorologia dos Estados Unidos e outras agências em todo o mundo emitem previsões da probabilidade delas ocorrerem em determinadas áreas, pondo em alerta os bombeiros e a proteção civil locais.
Pedrógão Grande. O que é a trovoada seca e como pode provocar um incêndio?
Em Portugal, as trovoadas secas não são raras, mas também não acontecem frequentemente: são um fenómeno conhecido nas regiões mais secas, como o interior, e foram muito faladas como uma das possíveis origens do incêndio de Pedrógão Grande, em 2017.
Nos casos mais extremos, elas ocorrem em desertos, ou onde a humidade é muito baixa, o que faz com que o ar seco absorva toda a precipitação antes de chegar a terra. Há zonas áridas em que a chuva passa do estado líquido ao gasoso e fica suspensa no ar, algo a que no oeste dos EUA costumam chamar ‘chuva fantasma’.
Fortes rajadas de vento que espalham as labaredas
Sendo a causa natural mais comum para os incêndios florestais, devido às enormes descargas elétricas que produzem — sob a forma de relâmpagos –, há um outro, talvez ainda maior, perigo associado a estas trovoadas secas no que diz respeitos aos incêndios: as fortes rajadas de vento à superfície que produzem e que ajudam a espalhar, às vezes de forma descontrolada, as labaredas.
Estes ventos fortes surgem por causa da evaporação da chuva: quando a precipitação se condensa ao embater com o ar quente da superfície do solo, faz com que haja uma refrigeração do ar à volta da tempestade. Este ar frio desce (e o quente sobe, é uma regra da Física), mas neste caso isso acontece muito rapidamente, espalha-se ao impactar com o solo e faz com que aconteçam fortes e dispersas rajadas de vento. Se o relâmpago já tiver pegado fogo à vegetação, este vento espalhará rapidamente as chamas, às vezes em diferente frentes e direções, tornando muito difícil o combate ao fogo, sobretudo se ele acontecer em zonas de acesso difícil.
Para piorar a situação destas trovoadas secas e dos incêndios por elas causados, há ainda um outro fenómeno, a que os meteorologistas chamam nuvens cumuliformes. Estas nuvens podem formar-se sobre os grandes fogos, nas zonas mais frias da atmosfera, quando o solo está muito quente. Formam como que pequenos tornados, com material do incêndio, o que aumenta o potencial elétrico e a produção de mais relâmpagos, espalhando material incandescente. A tempestade perfeita.