Só em Espanha e nos Países Baixos já foram abatidas, por inalação de monóxido de carbono e de gás de dióxido de carbono, mais de um milhão de martas por causa do novo coronavírus.

Surtos em quintas, com grande parte da população animal infetada e casos de funcionários confirmados, têm motivado a ação, inevitável segundo as autoridades de ambos os países para travar a disseminação da doença.

Recorde-se que em maio a Organização Mundial de Saúde admitiu que dois trabalhadores de uma quinta de martas nos Países Baixos podiam ser “os primeiros casos conhecidos de transmissão” do SARS-CoV-2 do animal para o Homem. E que, no início do mês seguinte, o governo do país anunciou o abate de mais de 10 mil martas.

Um mês e meio depois, diz o Guardian desta sexta-feira, estima-se que a esse número já tenham sido acrescentado dois zeros — só nos Países Baixos, em 25 quintas onde foram detetados surtos.

Em Espanha, na região de Aragão, outras 92.700 martas deverão ser abatidas nos próximos dias depois de se ter confirmado que sete funcionários de uma quinta em Puebla de Valverde, a cerca de 120 quilómetros de Valência, e 87% dos animais estão infetados com o novo coronavírus.

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Apesar de não se ter mostrado absolutamente convencido sobre a possibilidade de transmissão do vírus entre homens e animais, Joaquin Olona, o responsável local pela pasta da Agricultura, Pecuária e Meio Ambiente, disse esta quinta-feira em conferência de imprensa que a medida tem como “único objetivo evitar riscos à população e à saúde pública”. Explicando que a situação está a ser monitorizada desde que os trabalhadores testaram positivo, a 22 de maio, o ministro garantiu ainda que nenhum animal, doente ou não, saiu da quinta entretanto e que não existe qualquer outra quinta de criação de martas em Aragão.

O mesmo não acontece nos Países Baixos, que são o quarto maior produtor mundial de peles, logo a seguir a China, Dinamarca (onde haverá pelo menos três quintas com surtos confirmados de Covid-19) e Polónia — mas que até 2024, pelo menos no que à pele de marta diz respeito, já que o encerramento das quintas foi determinado por ordem judicial, deverão deixar de ser. Esta sexta-feira foi reportado um novo surto, depois de uma série de crias de marta terem sido transportadas para uma nova quinta.

Um dia antes, Joanna Swabe, responsável pela Humane Society International, uma organização não-governamental de defesa dos direitos dos animais, tinha chamado a atenção para o facto de as quintas de peles poderem funcionar como “reservatórios de coronavírus, incubando agentes patogénicos transmissíveis aos humanos”. E acrescentado que, independentemente disso, são também “inerentemente cruéis”.

De acordo com o diário britânico, apesar de os animais agora abatidos por questões sanitárias serem mortos através do mesmo método que é utilizado quando são mortos para que as suas peles sejam encaminhadas para a indústria de vestuário, nenhum casaco deverá ser feito a partir de martas com coronavírus.