Ainda antes de os semáforos apagarem no Grande Prémio da Hungria, existia uma linha comum aos grandes destaques da corrida: a Mercedes. Se Lewis Hamilton e Valtteri Bottas conquistaram os dois primeiros lugares na grelha de partida, com o piloto inglês a alcançar a 90.ª pole-position da carreira, os dois Racing Point ficaram com a terceira e a quarta posições, acima dos Ferrari e dos Red Bull. A linha mais importante? Os motores dos carros de Lance Stroll e Sergio Pérez também são Mercedes, o que deixava a marca alemã com os quatro monolugares mais rápidos da qualificação de Budapeste.

Depois de uma manhã chuvosa na capital húngara, a chuva deixou de cair na hora antes do arranque do terceiro Grande Prémio do Mundial de 2020 e o asfalto tornou-se quase como uma barra de sabão: demasiado molhado para os pneus adquirirem temperatura, demasiado seco para se justificar a montagem de pneus full wet. O que significava que, sem chuva em Budapeste mas com a pista molhada, não existia um tipo de pneus naturalmente indicado para as condições climatéricas da corrida, com a maioria dos pilotos a arrancar com compostos intermédios. A ideia, logo à partida, era de aprender com a experiência e perceber o que fazer depois das primeiras voltas.

Mas Max Verstappen nem precisou de ver os semáforos apagar para apanhar o primeiro susto. Na volta de aquecimento, depois de várias curvas em que foi notório que estava com algumas dificuldades para controlar o carro, o piloto holandês viu o pneu esquerdo dianteiro bloquear antes de uma viragem e despistou-se contra as barreiras. Com a direção claramente afetada e a asa destruída, adivinhou-se desde logo que o piloto da Red Bull iria ser forçado a abandonar pela segunda vez neste Mundial e ainda antes do arranque — mas num trabalho extraordinário e apressado dos mecânicos da equipa, foi possível recuperar o carro de Verstappen já na grelha de partida, com o holandês a agradecer o trabalho técnico via rádio antes de colocar o Red Bull a trabalhar.

No arranque, Hamilton saiu bem melhor do que Bottas, que caiu para sexto, e segurou desde logo o primeiro lugar. Mais atrás, Charles Leclerc teve um arranque muito bom, assim como Sebastian Vettel, e ambos os Ferrari conseguiram intrometer-se nos lugares da frente logo na primeira curva. Stroll saiu melhor do que Pérez e agarrou um lugar nos três primeiros, enquanto que o mexicano se deixou ultrapassar pelos Ferrari e pelo Red Bull de Verstappen, que teve um arranque francamente positivo depois de ter estado quase fora da corrida e soube colar-se aos adversários da frente.

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Tal como seria de esperar e logo nas primeiras voltas, a grande maioria dos pilotos parou para trocar os pneus intermédios por lisos, já que a pista estava crescentemente mais seca. Os dois Mercedes apostaram nos médios, assim como a Red Bull, enquanto que a Ferrari dividiu estratégias e montou macios em Leclerc e duros em Vettel. As paragens consecutivas e o trânsito gerado no pit lane acabaram por baralhar por completo a classificação, à exceção dos dois primeiros lugares: à 10.ª volta, Hamilton era líder, Verstappen era segundo, Magnussen era terceiro e Stroll era quarto, à frente de Grosjean, Bottas, Leclerc e Vettel.

A estratégia da Haas em arrancar com pneus lisos ao invés da maioria dos pilotos, que começaram com intermédios, mostrou-se proveitosa e Kevin Magnussen segurou um lugar no pódio até não conseguir mais, permitindo a ultrapassagem de Stroll e Bottas pouco depois da volta 20. Já com Pierre Gasly, da AlphaTauri, fora da corrida, Hamilton prolongava o autêntico passeio no parque numa altura em que a ameaça de chuva se tornava evidente e os pilotos começavam a reportar alguns problemas no controlo do monolugar. Com a vitória praticamente assegurada, a Mercedes aplicou-se na recuperação de Bottas, que deixou Stroll para trás e agarrou o último lugar do pódio para ir atrás de Verstappen nas últimas 20 voltas.

Mais atrás e de forma natural, Magnussen foi caindo no pelotão mas conseguiu garantir os primeiros pontos da Haas esta temporada, Leclerc perdeu ritmo e competitividade e acabou mesmo fora da pontuação e Vettel somou consecutivas voltas mais rápidas para superar Pérez, ainda que tenha ficado no sexto lugar atrás de Alexander Albon. Até ao fim, Verstappen conseguiu mesmo resguardar o segundo lugar, apesar de Bottas ter insistido com pneus mais frescos até à reta da meta, e a Mercedes voltou a colocar os dois pilotos no pódio e garantiu a segunda vitória consecutiva para Lewis Hamilton, que subiu assim à liderança da classificação geral. O piloto inglês cumpriu ainda a volta mais rápida da corrida e igualou o recorde de Michael Schumacher, de mais vitórias num único circuito, chegando à oitava da carreira na Hungria, as mesmas que o alemão alcançou em Magny-Cours.

Mas num Grande Prémio que foi um autêntico passeio no parque para Lewis Hamilton e onde a Ferrari voltou a não conseguir colocar qualquer piloto nos três primeiros lugares, a grande vitória foi da Red Bull e do grupo de mecânicos e engenheiros da equipa. Max Verstappen despistou-se no aquecimento, esteve praticamente fora da corrida antes de esta começar, mudou toda a asa dianteira do carro e viu os mecânicos da equipa conseguirem recuperar o carro em pouco mais de 10 minutos e já na grelha de partida. Fez um grande arranque depois de ter saído de sétimo, completou toda a corrida e terminou em segundo, alcançando o segundo pódio consecutivo neste Mundial de 2020. “Muito obrigado. Vocês são lendas”, disse Verstappen já depois de atravessar a meta pela última vez.