Há um ano, por esta altura, José Mourinho estava de férias. E há um ano, nesta altura, muito se falou sobre o facto de José Mourinho estar de férias. Ainda sem clube depois de ter saído do Manchester United em dezembro de 2018, o treinador português estava de férias em julho e agosto pela primeira vez em duas décadas. Mas não estava feliz — ou pelo menos não estava tão feliz como consegue ser quando está a treinar, a preparar e a orientar uma equipa de futebol.

“Esta é basicamente a primeira vez que tenho tempo para pensar, a primeira vez que estou em Setúbal no final de julho ou no início de agosto em mais de 20 anos. Tenho tempo para pensar, para repensar, para analisar e o que sinto é mesmo que o Zé está cheio de fogo! Os meus amigos dizem-me para aproveitar o meu tempo, aproveitar julho, aproveitar agosto, aproveitar o que nunca tinha tido. Mas, honestamente, não consigo. Não estou feliz o suficiente para aproveitar. Tenho saudades do meu futebol, tenho o fogo, tenho um compromisso comigo mesmo, com as pessoas que gostam de mim, com tantos fãs que tenho à volta do mundo, tantas pessoas que inspirei”, disse Mourinho no final de julho do ano passado, numa entrevista à Sky Sports, que se deslocou até Setúbal para falar com o português.

“O Zé está cheio de fogo”: Mourinho está de férias mas quer voltar a treinar um grande clube e atira as seleções para o futuro

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Passou um ano e José Mourinho está há praticamente oito meses no Tottenham, onde substituiu Mauricio Pochettino e onde ainda não conseguiu alcançar o sucesso pretendido com a sua contratação. Numa temporada mais do que atípica, o treinador português chegou ao final de julho ainda a jogar, sem estar de férias e à beira de um período muito reduzido de descanso antes da nova época. Mas novamente em declarações à Sky Sports, que voltou a revisitar o tópico da paragem de Mourinho, o técnico mostrou o “fogo” que tinha sublinhado há um ano e garantiu que não vai propriamente deixar de trabalhar quando a Premier League terminar.

“Os jogadores vão ter três semanas de férias. Eu vou depois de eles começarem e regresso antes, por isso, terei apenas uns 10 dias. E esses dias serão ligados ao Zoom, ao Facetime, ao WhatsApp, tudo. Estarei sempre a trabalhar, mesmo que tenha a hipótese de o fazer numa praia em Setúbal”, atirou Mourinho, que brincou ainda com o facto de ter de cumprir 14 dias de quarentena obrigatória em Inglaterra se vier passar férias a Portugal. “A última vez que lá estive foi no ano passado. Gostaria de voltar agora uns dias, vamos se o senhor Boris [Johnson] me deixa”, disse o treinador.

Mas antes das férias, o Tottenham ainda tinha objetivos. E este domingo, em Londres, recebia o Leicester e tinha a oportunidade de ultrapassar provisoriamente o Wolverhampton, afastar-se à condição do Sheffield e solidificar a presença nos lugares que dão acesso às competições europeias da próxima temporada. Vindo de três vitórias nos últimos quatro jogos, uma delas contra o Arsenal, a equipa de José Mourinho recebia um Leicester que tem tido dificuldade em manter a competitividade durante a retoma e que estava obrigado a ganhar para impedir desde logo que o Manchester United pudesse chegar à zona de acesso à Liga dos Campeões.

O Tottenham entrou no jogo praticamente a ganhar e abriu o marcador ainda dentro dos primeiros 10 minutos. Através de um contra-ataque rápido e dirigido por Harry Kane, Son rematou já na grande área e a bola desviou em James Justin (6′), acabando por enganar Kasper Schmeichel. O Leicester procurou responder ao golo sofrido e agarrou a iniciativa do jogo, também porque os spurs o permitiram, e ficou perto de empatar com um lance notável de Ayoze Pérez (25′) que obrigou Lloris a uma defesa para a fotografia. Ainda assim, a equipa de Brendan Rodgers nunca conseguiu sufocar o adversário e o Tottenham ficou perto de aumentar a vantagem, com Son a forçar uma grande intervenção de Schmeichel com um remate forte na sequência de um passe longo de Winks (30′).

O segundo golo, porém, não tardaria. Novamente através de um contra-ataque e depois de uma perda de bola do Leicester na sequência de um canto, Son conduziu pela faixa central, lateralizou em Lucas Moura e o jogador brasileiro assistiu Harry Kane de forma perfeita, com o inglês a rematar de primeira na diagonal para aumentar a vantagem (37′). Ainda antes do intervalo e outra vez por intermédio de uma transição rápida, o Tottenham chegou ao terceiro golo, com Kane a bisar com um remate em arco perfeito depois de mais um passe de Lucas Moura (40′).

Na segunda parte e de forma percetível, o Tottenham voltou a entregar a dianteira da partida ao adversário e manteve as linhas minimamente recuadas, à espera de um erro de construção do Leicester para voltar a ativar as transições rápidas. A equipa de José Mourinho mantinha-se organizada defensivamente e com um grande equilíbrio entre setores, nunca perdendo o conforto no encontro e acabando por manter o resultado de forma natural, sem precisar de implementar grande velocidade nas movimentações.

As equipas de José Mourinho continuam a ser das melhores do mundo a contra-atacar e a ser eficazes em transições rápidas e este domingo o Tottenham só precisou de fazer isso três vezes para vencer o Leicester, somar a terceira vitória consecutiva e subir provisoriamente ao sexto lugar quando falta apenas uma jornada para disputar na Premier League. Ou seja, para praticamente carimbar o apuramento para a Liga Europa da próxima temporada.