Não tendo propriamente um objetivo concreto para atingir em cada uma das temporadas, sendo por tradição ou defeito uma equipa que luta pela qualificação europeia e por presenças nas finais de uma das duas taças nacionais, o V. Guimarães acabou por ter uma época do “quase” que parecia poder ter melhor fim do que na verdade alcançou. Os minhotos tiveram oportunidade de ganhar a um dos quatro primeiros classificados? Sim, ainda na última ronda aconteceu isso na Luz, mas acaba a prova com um ponto em oito jogos. Tiveram hipótese de somar mais pontos do que têm agora? Sim, muitos mesmo, sobretudo em encontros no Dom Afonso Henriques onde foram superiores e foram falhando a sentença do resultado. Tiveram hipótese de ir a alguma final? Sim, caso tivessem aproveitado o contexto em que chegaram à vantagem na segunda parte das meias com o FC Porto.

Daqui a um ano, a cinco ou a dez, esta temporada de 2019/20 não será especialmente recordada pela formação de Guimarães. Nem por estrutura, nem por plantel, nem por adeptos. No entanto, adeptos, plantel e estrutura foram acreditando no processo mesmo que este não tivesse sempre o resultado pretendido. E é por isso que muitos dos elementos que fazem parte deste grupo estão a ser muito falados como possíveis reforços de outras equipas, até mesmo uma das principais referências na construção da equipa, Carlos Freitas, que regressou a Portugal após vários anos no estrangeiro entre Panathinaikos (Grécia), Metz (França) e Fiorentina (Itália) e que seria um nome que Jorge Jesus veria com bons olhos para reforçar a estrutura do Benfica para atacar o próximo mercado.

Ivo Vieira, o treinador, já esteve mais nesse lote de pretendidos do que agora. No entanto, e assumindo que não ir à Europa transforma esta temporada num marco negativo, acreditava que existia ainda margem para “fazer o melhor possível e acabar com dignidade o Campeonato”. “A preparação do jogo com o Marítimo foi exatamente igual à dos outros, de forma a conseguirmos o objetivo do jogo: ganhar. Há um sentimento de tristeza mas temos de viver com isso. Mexidas na equipa titular? Vão jogar aqueles que mostrarem mais compromisso e qualidade”, destacou, antes de lamentar a falta de adeptos na última ronda realizada no Dom Afonso Henriques: “O público fez uma falta muito grande a todos os clubes, não há razão para existir futebol sem público”.

Mas se do lado do V. Guimarães existia a série de duas derrotas seguidas, com Gil Vicente e Benfica, o Marítimo ia chegar ao Minho na melhor fase da temporada: três vitórias com Benfica, Santa Clara e Boavista (estas últimas duas na condição de visitante) e um empate na receção ao Rio Ave, em dez pontos em 12 possíveis que fizeram a diferença na classificação e carimbaram a permanência da equipa na Primeira Liga para a próxima temporada. E como as coisas até se embrulharam a meio da classificação, um triunfo valia a aproximação à primeira metade.

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“Temos a obrigação de manter a concentração, a coesão e a consistência defensiva que mostrámos nos jogos anteriores. Não podemos esperar um adversário fragilizado, caso contrário, já estaremos em desvantagem. Se formos pacientes com bola no momento em que a temos e que não há espaço para contra-atacar, podemos conseguir ter a bola mais tempo e isso vai levar a equipa para outro patamar de qualidade. Vai ser um jogo difícil, contra uma equipa que fez jogos fantásticos na Liga Europa esta época e jogos de alta qualidade também durante o Campeonato”, salientou José Gomes, treinador dos madeirenses, recusando a ideia de qualquer poupança por ter os objetivos concretizados: “Não é que não hajam muitos jogadores porque eles trabalham muitíssimo bem e mereciam esse prémio,mas eu não posso por o prémio deles à frente da instituição e da seriedade do nosso trabalho. Vai jogar quem eu acho que tem de jogar. Tenho que ser fiel ao que acredito que é o melhor”.

Os insulares até entraram com os jogadores habitualmente titulares, tiveram bons lances na primeira parte e acabaram o encontro com uma bola no poste de Nilson que podia ter valido o empate mas foram quase sempre controlados por um V. Guimarães apoiado em Marcus Edwards, o MVP que decidiu o jogo com o único golo, que voltou a mostrar ter mais futebol do que aquele que a classificação da Primeira Liga faz apontar.

Mas a história do jogo acabou por surgir ainda antes do apito inicial e por linhas tortas. Ivo Vieira tinha referido na conferência que não pensava em grandes mudanças mas, estando já fora das competições europeias, apostou no brasileiro Jhonatan para a baliza em vez de Douglas. Era uma estreia, até de forma surpreende, tendo em conta não só as duas temporadas que fez no Moreirense mas também a forma conturbada como chegou ao Minho, com os cónegos a dizerem que acionaram a cláusula de opção para renovar contrato e os vimaranenses a garantirem que era um jogador livre. No entanto, e como um mal nunca vem só, o guardião lesionou-se no aquecimento, teve de sair da ficha de jogo, Douglas manteve a titularidade e Celton Biai foi chamado de urgência para o banco de Ivo Vieira, chegando um pouco depois dos restantes companheiros em virtude dessa situação de emergência. Ao intervalo, os responsáveis vimaranenses explicaram que se tratava de um problema na coxa direita.

Sobre a primeira parte, o encontro nem sempre foi bem jogado, teve algumas oportunidades e o desequilibrador do costume a fazer a diferença também no resultado: Marcus Edwards. Depois de já ter feito uma ameaça à baliza de Amir, a que se seguiu um bom lance de Edgar Costa, Rodrigo Pinho teve duas boas chances para inaugurar o marcador mas foi o jogador contratado ao Tottenham a inventar espaço onde ele não havia, a ganhar tempo onde ele não existia e a inaugurar o marcador num remate de pé direito puxado ao poste que não deu hipóteses ao iraniano (24′). André André, de cabeça na área, ainda ameaçou o segundo mas seriam os insulares a falharem a melhor oportunidade até ao intervalo, com Douglas a fazer bem a “mancha” a Edgar Costa após um bom passe em profundidade e a segurar de forma atenta um cabeceamento de Rodrigo Pinho da zona de grande penalidade.

No segundo tempo, talvez até como reflexo da inexistência da pressão por um resultado e com essa vontade de fazer o jogo pelo jogo melhorando alguns aspetos posicionais sem bola e movimentações atacantes que dessem outra objetividade ao último passe, o V. Guimarães esteve muito melhor no jogo, criou inúmeras oportunidades para aumentar a vantagem, teve um golo anulado a Bruno Duarte após assistência de Marcus Edwards, acertou três vezes nos postes por Frederico Venâncio, Rochinha e Ouattara, chocou com um Amir inspirado (e a contar com uma defesa sempre atenta, como aconteceu num lance em que Kerkez tirou o golo a André André) e não desfez o 1-0, ficando com uma vitória que mais uma vez mostrou como a equipa tinha futebol para mais mas que, no limite, podia ter acabado em empate com um remate ao poste de Nilson nos descontos.