Na temporada passada, em que Bruno Fernandes se tornou o médio mais goleador da Europa numa única época, o nome do jogador português surgiu muitas vezes associado ao de Frank Lampard. Isto porque, antes da campanha histórica que Bruno fez no Sporting, o inglês estava em segundo nesse mesmo ranking, apenas atrás do brasileiro Alex. Em 2009/10, Lampard marcou 27 golos ao serviço do Chelsea; em 2018/19, Bruno Fernandes marcou 32. E este domingo, ainda que um dentro do campo e o outro na linha técnica, os dois médios encontravam-se em Wembley.

Já não era, porém, o primeiro encontro. Logo em fevereiro, naquele que foi apenas o segundo jogo de Bruno Fernandes no Manchester United, a equipa de Solskjaer venceu o Chelsea em Stamford Bridge para a Premier League e o médio português fez logo uma das assistências dos dois golos dos red devils. Na altura, e mesmo com todo o entusiasmo associado à chegada do internacional português a Inglaterra, Bruno Fernandes ainda não tinha tido o impacto que tem à data atual — titular indiscutível, oito golos marcados, parceria brilhante com Pogba — e não mereceu comentários individuais por parte de Lampard. Este fim de semana, cinco meses e uma quarentena depois, a história era diferente.

“É preciso que os jogadores tenham cuidado. Quando são atletas de alto nível, com a qualidade e velocidade que os do Manchester United têm, há que ser rápido a pensar com os pés e não a cair em cima deles. Têm de perceber as qualidades dos adversários. O [Bruno] Fernandes é muito inteligente no seu movimento. Vimos isso contra o Aston Villa, em que fez algo parecer um penálti, mesmo que não tenha sido”, disse o treinador do Chelsea, deixando de forma subliminar a ideia de que o médio português provoca decisões de arbitragem que não são totalmente certas. Solskjaer, em persona Luiz Felipe Scolari a defender Ricardo Quaresma, respondeu para “defender o menino”.

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“Irei defender os meus jogadores a 100%. Eles não são mergulhadores, nenhum deles tenta enganar os árbitros. Se tens pés rápidos como o Daniel James, o Anthony Martial, o Marcus Rashford ou o Greenwood, vais ser travado dentro e fora da grande área, e os tornozelos de alguns dos nossos jogadores poderiam ter sido fraturados. Só quero que sejam protegidos”, afirmou o técnico norueguês. Tudo isto na antevisão da meia-final da Taça de Inglaterra, disputada em Wembley, onde Manchester United e Chelsea procuravam fazer companhia ao Arsenal, que eliminou o Manchester City e agarrou a primeira vaga da final do dia 1 de agosto.

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Com Bruno Fernandes no onze, Solskjaer deixava alguns dos habituais titulares de fora e optava por um desenho tático diferente, com três centrais e dois laterais muito abertos, um duplo pivô à frente da defesa e o médio português nas costas de Daniel James e Rashford. Pogba, Greenwood e Martial ficavam no banco, Bailly, Fred e James eram titulares e Lampard voltava a optar por Giroud ao invés de Tammy Abraham na frente de ataque do Chelsea.

Numa primeira parte disputada em ritmo intermédio, o Chelsea foi quase sempre superior e jogou durante a maioria do tempo no interior do meio-campo adversário. De forma aparentemente estratégica, o Manchester United estava mais recuado no terreno do que aquilo que tem sido habitual, com as linhas defensivas mais compactas e Rashford sempre algo afastado do resto da equipa. Bruno Fernandes, o elemento que é normalmente responsável pelo transporte da bola entre os setores, estava muito sufocado pelos jogadores do Chelsea e era castigado em faltas sucessivas, enquanto que a equipa errava muitas vezes na saída a jogar. Os blues, ainda que sem grandes oportunidades de golo, assustaram De Gea com um cabeceamento de Marcos Alonso por cima (15′) e um remate de Mason Mount que o espanhol encaixou (33′) e foram sempre o conjunto que mais perto ficou de marcar. Do outro lado, o lance mais perigoso foi mesmo um livre direto de Bruno Fernandes que Caballero desviou por cima da trave (32′).

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Bailly saiu do relvado pelo próprio pé mas acabou por ser transportado de maca para fora do recinto de jogo

Os principais destaques do primeiro tempo, porém, surgiram já para lá do minuto 45. Foi precisamente nos últimos instantes do tempo regulamentar da primeira parte que Maguire e Bailly, dois dos três centrais do Manchester United, chocaram de forma violenta na sequência de um salto. O jogador inglês abriu a cabeça, foi assistido e ligado e recuperou, mas o mesmo não aconteceu com o costa-marfinense. Bailly, que já tinha chocado com Zouma instantes antes, saiu do relvado pelo próprio pé mas acabou por ser transportado de maca e com recurso a oxigénio para fora do recinto de jogo, claramente combalido depois do embate. Martial entrou para o lugar do central, a partida entrou numa fase de pouco discernimento e ordem e o Chelsea aproveitou para abrir o marcador: Willian combinou com Azpilicueta na direita, o lateral espanhol cruzou tenso e Giroud, antecipando-se a Lindelof ao primeiro poste, desviou para bater De Gea (45+11′), que não ficou bem na fotografia.

No início da segunda parte, existia curiosidade para perceber como é que o Manchester United iria responder à desvantagem, numa altura em que já estava novamente com uma defesa a quatro e Martial enquanto referência ofensiva destacada. O problema para a equipa de Solskjaer foi que não teve tempo para mostrar absolutamente nada — logo nos primeiros segundos do segundo tempo, o Chelsea só precisou de um lance para aumentar a vantagem. Brandon Williams fez um passe de risco para a zona central, Mason Mount intercetou e rematou rasteiro de fora de área, com David De Gea a ter novamente muita responsabilidade na forma como abordou a bola (46′). No início da segunda parte e sem que o Manchester United tivesse sequer respondido à desvantagem, o Chelsea estava a ganhar por dois golos e tinha pé e meio na final da Taça de Inglaterra.

Rashford teve uma boa oportunidade para reduzir a desvantagem logo depois, quando rematou ao lado depois de um passe de Bruno Fernandes na profundidade (52′), e Solskjaer decidiu lançar Pogba e Greenwood para ainda ir à procura do resultado. O Manchester United teve sempre mais bola, mais posse e mais controlo mas não conseguiu chegar com perigo à baliza de Caballero, enquanto que o Chelsea se mostrou perfeitamente confortável na decisão de oferecer a iniciativa a gerir a preciosa vantagem. Foi através desta dinâmica que os blues acabaram por engordar o resultado, num lance de contra-ataque em que Marcos Alonso cruzou a partir da esquerda e Maguire fez autogolo (74′). Até ao fim, Bruno Fernandes ainda reduziu de penálti (85′), depois de Hudson-Odoi fazer falta sobre Martial, e o marcador não voltou a alterar-se.

A equipa de Bruno Fernandes perdeu pela primeira vez em 19 jogos para todas as competições e falhou a final da Taça de Inglaterra num jogo onde David De Gea foi protagonista pelas piores razões e o médio português, a espaços, foi o que de melhor se viu do Manchester United em Wembley. Solskjaer decidiu poupar vários titulares e acabou fora de uma das competições onde ainda estava em jogo, enquanto que o Chelsea carimbou a passagem à final e vai discutir a Taça num jogo totalmente londrino com o Arsenal.