A agência de “rating” Moody’s alertou, num relatório, para os perigos do peso do financiamento às pequenas e médias empresas (PME) na estrutura de créditos da banca portuguesa, à imagem de outros países do sul da Europa.

De acordo com dados da Autoridade Bancária Europeia (EBA na sigla inglesa), a exposição a PME e a crédito ao consumo sem garantias “representava 25% do total do setor em junho de 2019”, na Europa, sendo que na Grécia, Itália, Áustria, Portugal e Espanha este valor ultrapassa os 30%.

No caso português, a exposição às PME é de 26%, um valor muito superior, por exemplo, ao do Reino Unido (4%) ou da Irlanda (13%).

A Moody’s acredita que esta exposição acarreta riscos, numa altura em que as PME podem não sobreviver à crise gerada pela pandemia de Covid-19. “Estimamos que a queda na atividade económica e o seu impacto no rendimento das famílias irá afetar o desempenho dos pequenos negócios e do crédito ao consumo sem garantias”, indicou a Moody’s, alertando para o risco dos bancos expostos a estes instrumentos.

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“As PME, no geral, contam com almofadas financeiras reduzidas para ajustar os seus modelos de negócios a uma procura rápida e alterações de fornecimentos”, referiu a Moody’s, indicando ainda que o peso destas empresas nas economias do sul poderá levar a um aumento do desemprego e uma deterioração ainda maior das condições de vida das famílias.

A Moody’s realçou ainda que os bancos nórdicos, britânicos, alemães e holandeses contam com uma exposição menor a este tipo de crédito, refletindo as estruturas económicas dos diferentes países.

A agência de “rating” indicou ainda que os grandes bancos têm menor exposição a este tipo de crédito.

“Em Portugal, as duas maiores instituições, a Caixa Geral de Depósitos e o BCP, contam com uma exposição de 26% e 20% respetivamente, mas bancos mais pequenos, como o Montepio, acumulam 35%” da sua estrutura de crédito a estes instrumentos.

Ainda assim, referiu a Moody’s, o impacto na banca destas exposições irá depender das condições que ofereceram e dos meios de que dispõem.

“Os bancos europeus entraram na crise gerada pelo coronavírus com posições de capital bastante mais sólidas do que as que tinham em 2007-2008, na altura da crise financeira global”, assegurou a agência, alertando, no entanto, que algumas instituições, como as portuguesas, ainda estavam a lidar com o peso de empréstimos problemáticos do passado.