Os Jogos Olímpicos Tóquio2020 estariam a reunir, por estes dias, quase 11.100 atletas, além de outras dezenas de milhares de profissionais e voluntários envolvidos, mas foram adiados para 2021 devido à Covid-19, após meses de incerteza.

Na sexta-feira, dia 24, a cerimónia de abertura de Tóquio2020, no novo Estádio Nacional desenhado por Kengo Kuma, iria ser vista por centenas de milhões de telespetadores pelo mundo, dando início oficial a um evento que planeia reunir quase 11.100 atletas em torno de um total de 339 eventos de 33 desportos diferentes, estreando modalidades como skate, escalada, surf ou karaté.

Em vez disso, a capital japonesa, assim como o mundo desportivo, terá de esperar até 23 de julho de 2021 para que a chama olímpica volte a reunir atletas de todo o mundo, depois de a pandemia de Covid-19 ter forçado o adiamento e a suspensão generalizada, durante quatro meses, de quase todos os desportos, com alguns deles ainda com quadro competitivo em dúvida.

De 23 de julho a 8 de agosto de 2021, 206 nações, entre elas Portugal, disputarão os primeiros Jogos Olímpicos que foram adiados em toda a história moderna, com 34 atletas lusos já com bilhete “carimbado” e muitos ainda à espera de definição sobre as possibilidades de qualificação, após a incerteza e receios causados pela demora no adiamento, primeiro, e pela perda de forma devido ao confinamento, depois.

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Os Jogos Olímpicos Tóquio2020 enfrentam, a um ano da nova data de arranque, um período de incerteza, do que falta de qualificações à evolução da pandemia e outros receios. O adiamento veio trazer tranquilidade aos cerca de 43% de atletas que ainda falta qualificar para o evento. Ainda assim, a incerteza quanto à evolução da pandemia e a os moldes de realização da competição, permeia os últimos tempos, ainda que os organizadores mantenham a convicção de que o evento irá para a frente, para marcar um “triunfo contra a Covid-19”, como descreve o Comité Organizador.

Por outro lado, segundo um estudo da agência noticiosa Kyodo, apenas um em quatro japoneses apoiam a realização dos Jogos em 2021, com cerca de um terço a pedir o cancelamento e um outro terço a considerar mais sensato um novo adiamento.

Tóquio2020. Tratamento para a Covid-19 é essencial para que os Jogos Olímpicos se realizem

O presidente do Comité Organizador, Yoshiro Mori, disse quarta-feira que o desenvolvimento “de uma vacina ou de um medicamento” para o novo coronavírus é essencial para a realização da prova, num ponto em que o país, em particular a área metropolitana de Tóquio, regista este mês um aumento súbito do número de infetados. Contudo, a reeleição da governadora da zona metropolitana de Tóquio, Yuriko Koike, para mais um mandato, foi um sinal positivo de “vontade política”, segundo o chefe da Missão portuguesa nos Jogos Tóquio2020, Marco Alves, uma vez que esta era, dos candidatos, “a única que defendia os Jogos”.

Para já, é preciso compreender “o que se pode replicar de 2020 em 2021”, no que toca à logística e preparação de uma missão nacional, e entender “o impacto de uma simplificação dos Jogos”, que o Comité Olímpico Internacional (COI) e o Comité Organizador têm “apregoado” em várias reuniões. “A dúvida que nos assalta são esses ecos. Não é ainda conhecido o que acarreta esse mecanismo [de simplificação, e que impacto terá na logística”, reforçou Marco Alves, em entrevista à agência Lusa.

O Comité Olímpico de Portugal (COP) está “a reatar tudo o que estava previsto para 2020”, tendo publicado todos os calendários de competição, após a 136.ª reunião do COI, na última semana, o que dá “algum conforto para preparar deslocações”, num momento em que estão apurados 34 atletas lusos.

Certo é que para 2021 se quer um impacto “minimizado” no lado desportivo da prova, ainda que toda a estrutura em seu redor possa ser “simplificada”, perante sinais “ainda parcos dos japoneses” no que toca ao conceito e à presença, ou não, de espetadores nas bancadas, ainda que a “bilhética tenha sido reativada” e a intenção seja a de contar com os adeptos.

A um ano, são muitas as questões para os atletas, desde logo pelas assimetrias no desconfinamento e recuperação entre países (espera-se a participação de 206 nações no evento) durante o caminho até Tóquio2020, no qual será necessário recuperar forma competitiva, participar em torneios de qualificação ou estabelecer marcas de apuramento.

Adiamento inédito trouxe “alívio” após meses de incerteza com Covid-19

O chefe de missão do Comité Olímpico de Portugal assumiu à Lusa o “alívio” com a decisão do adiamento, já depois de a Organização Mundial de Saúde ter declarado o surto de Covid-19 como pandemia.

Em 24 de março, o Comité Olímpico Internacional, o Comité Organizador e o Governo do Japão tomaram a decisão de adiar os Jogos para 2021, uma decisão inédita que levou a uma operação de ajuste sem precedentes. Foi necessário garantir os 42 locais, entre espaços de competição e logísticos, que tinham outro destino após o término dos Jogos, a 9 de agosto, além do problema maior com a aldeia olímpica, cujas habitações já tinham compradores ou destinatários, que terão de esperar mais um ano.

“O adiamento dos Jogos não nos deixou contentes, porque tínhamos toda a operação preparada, mas deixou-nos aliviados. Não havia forma de preparar uma missão, pela qualificação e outros” fatores, destacou o chefe da missão portuguesa.

Se a decisão pode ter “pecado por tardia”, ainda assim trouxe “algum conforto” ao COP, que ainda está “a tentar perceber o que significa”, uma vez que o caráter inédito do momento que se vive leva a que Tóquio tenha de “tomar algumas decisões com base no desconhecido”.