Donald Trump anunciou o destacamento de forças de segurança federais para três cidades norte-americanas, todas governadas por autarquias democratas, defendendo esta medida com a necessidade do combate ao “crime violento”.

A medida consiste no destacamento de 200 agentes para Chicago (estado do Illinois), outros tantos para Kansas City (Missouri) e ainda 35 para Albuquerque (Novo México).

“Hoje, anuncio o destacamento de agentes da autoridade federais para comunidades americanas que vivem a praga do crime violento”, disse Donald Trump esta quarta-feira, num discurso na Casa Branca.

A medida foi batizada “Operação Legend”, em homenagem a LeGend Taliferro, um rapaz de 4 anos que morreu vítima de um tiro enquanto dormia na sua casa, em Kansas City. “Nenhuma mãe devia ter de levar nos braços o cadáver do seu filho só porque os políticos se recusaram a fazer o que é necessário para garantir a segurança dos seus bairros e da sua cidade”, disse Donald Trump.

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Esta medida surge numa altura em que, nalgumas cidades dos EUA, se discutem medidas de redução do orçamento municipal dirigido aos departamentos de polícia. Este foi um dos temas colocados sobre a mesa nalgumas localidades onde houve manifestações na sequência da morte, durante uma detenção policial, do afroamericano George Floyd, no final de maio.

Nas cidades em causa, Albuquerque prepara-se para retirar anualmente 10 milhões de dólares (8,63 milhões de euros) de um total de 210 milhões de dólares (181,2 milhões de euros) do departamento de polícia diretamente para os serviços de emergência sanitários; e em Kansas City os cortes ainda não passaram do plano da discussão, onde se está a ponderar o corte 11 milhões de dólares (9,49 milhões de euros) de um total de 270 milhões de dólares (233 milhões de euros). Quanto a Chicago, apesar da pressão nesse sentido, a mayor Lori Lightfoot opõe-se a tal medida — defendendo que esta teria o efeito de prejudicar ainda mais as minorias daquela cidade.

Estas três cidades seguem-se a Portland, no Oregon, que, na sequência das manifestações que começaram na sequência da morte de George Floyd, deu entrada a agentes federais.

O anúncio não está a ser bem recebido por dois dos autarcas daquelas cidades. Se o mayor de Kansas City, Lucas Quintano, disse que está aberto a receber “apoio federal de uma forma limitada e específica”, o mesmo não se pode dizer dos outros dois.

Ainda antes do anúncio, mas já quando pairava a possibilidade de Trump visar Chicago com uma medida daquele tipo, a mayor Lori Lightfoot tinha escrito no Twitter: “Em circunstância alguma permitirei que as tropas de Donald Trump venham para Chicago aterrorizar os nossos residentes”.

mayor de Albuquerque, Tim Keller, reagiu ao anúncio de Trump dizendo que a “Operação Legend não consiste em combater o crime”. “É a política a bloquear o trabalho constitucional da polícia e isso deixa-nos menos seguros”, escreveu aquele autarca no Twitter.

“As cidades que estão em apuros são todas governadas por democratas”

A medida anunciada por Donald Trump encaixa no mote “Lei e Ordem”, um dos seus lemas de campanha para as eleições presidenciais de 3 de novembro deste ano. As exigências no sentido de serem cortados os fundos de vários departamentos de polícia no país têm sido alvo de menção do Presidente dos EUA, que utiliza essa campanha para criticar o Partido Democrata e a sua ala mais à esquerda.

“As cidades que, infelizmente, estão em apuros são todas governadas por democratas. Há radicais de esquerda do Partido Democrata a governar cidades como Chicago e tantas outras”, disse. “Infelizmente, é assim que as coisas são. Quero dizer, são factos.”

O adversário de Donald Trump nas eleições presidenciais de 3 de novembro, o democrata Joe Biden, não concorda com as exigências de desinvestimento nos departamentos policiais dos EUA. “Não temos de retirar fundos dos departamentos de polícia, temos de nos assegurar que eles cumprem os mínimos básicos da decência”, disse Joe Biden a 8 de julho.

Ainda assim, o porta-voz de Joe Biden, Andrew Bates, explicou à Associated Press que o candidato democrata apoia a retirada de funções não-policiais que têm sido destinadas a alguns departamentos de polícia (como são os programas combate ao uso de drogas) e a instituição de novos organismos que possam desempenhar essas atividades de forma independente da polícia.

“Biden apoia necessidade urgente de reformas — incluindo o financiamento de escolas públicas, programas de verão, saúde mental e tratamento para abuso de substâncias, tudo para lá do financiamento para a polícia — de maneira a que os agentes se possam concentrar no trabalho de policiamento”, disse aquele porta-voz de Joe Biden à Associated Press.