Se desde abril que Donald Trump não dava nenhuma conferência de imprensa dedicada à Covid-19, esta semana decidiu pôr fim ao hiato e em dois dias participou em dois briefings com jornalistas na Casa Branca. Mas há diversas mudanças face aos encontros do início da pandemia: além de não se fazer acompanhar, como antes, pelos especialistas em saúde pública, o discurso do presidente norte-americano mudou e muito. Por diversas vezes repetiu o apelo ao uso de máscaras, depois de o país ver o número de casos aumentar.

Quais as causas para essa subida? Trump apontou que “presumivelmente” os “protestos” (não referiu quais) ou os encontros de jovens em bares e praias tiveram um papel importante. Já o muro com o México “funcionou muito bem” para conter a pandemia, defendeu.

Trump repete apelo aos norte-americanos: “Use máscara, mantenha o distanciamento social”

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“Os casos começaram a aumentar entre os norte-americanos mais jovens pouco após os protestos, que vocês conhecem bem, e que presumivelmente levaram a um relaxamento dos esforços de mitigação a nível nacional”, disse aos jornalistas esta quarta-feira. Além disso, apontou, houve um aumento no número de viagens e de ajuntamentos em feriados e entre jovens em bares e “outros locais”, como as praias.

Trump mencionou ainda que esteve reunido com o presidente do México, um país com “um grande problema” em mãos. E defendeu que “as 257 milhas recentemente construídas ao longo da fronteira no sul estão a ter um efeito positivo na entrada de pessoas. Temos um número baixo de pessoas que entram ilegalmente, o que ajudou muito. [O muro] foi feito com um propósito diferente, mas funcionou muito bem para o que estamos a fazer agora e para a pandemia”.

Trump apela ao uso de máscaras e “implora” aos jovens

Se Trump chegou a dizer que não usaria máscara, nos dois briefings que realizou esta semana a estratégia mudou e o presidente norte-americano repetiu os apelos para o uso de máscara, “quer se goste quer não”, sempre que não for possível manter o distanciamento social. É que, defendeu na terça-feira, a situação no país “provavelmente vai piorar antes de melhorar”. Trump vai mais longe e “implora” aos jovens para que evitem bares lotados e outros encontros em locais fechados. “Esteja seguro e seja esperto”, pediu.

Desde abril que Donald Trump não dedicava uma conferência de imprensa apenas à Covid-19, depois de várias declarações polémicas (como quando colocou a hipótese de uma pessoa infetada injetar desinfetante para combater o vírus, uma declaração que foi rapidamente desmentida pelos profissionais de saúde). Mas os números nos EUA estão a piorar — o país já passou a barreira dos 4 milhões de infetados, as 145 mil mortes e o ritmo não está a abrandar. E, além disso, o presidente, que tenta a reeleição em novembro, continua a cair nas sondagens.

Esta quarta-feira, voltou a repetir os apelos: “Use máscara, mantenha o distanciamento social e lave repetidamente as mãos. Pratique medidas sanitárias. Tem de o fazer. Lave as mãos com frequência”, repetiu. A estratégia do país, explicou, é proteger os mais vulneráveis e permitir aos mais jovens e saudáveis regressarem ao trabalho e à escola, “enquanto se mantêm vigilantes”.

Trump diz que é “a favor de máscaras” e até já usou uma. Sentiu-se “bem” e “parecido com o Mascarilha”

Questionado sobre a razão para a mudança de opinião, Trump disse que até os especialistas de saúde mudam de opinião. Ao contrário do que acontecia nas conferências de imprensa que aconteciam diariamente antes de Trump acabar com elas, em abril, o presidente dos EUA não esteve acompanhado por Anthony Fauci [imonulogista da task force da Casa Branca sobre a Covid-19]. Quais os motivos dessa ausência? O presidente explicou que os especialistas o mantêm informado e descartou conflitos. “Estão a manter-me a mim informado, acabei de falar com o Dr. Fauci. Dão-me tudo o que sabem e eu passo-vos a informação a vocês. Estão muito envolvidos. As nossas relações são muito boas”. Para Trump, este é um método mais “conciso”.

“Quero ver as escolas reabrirem a 100%. Vamos fazê-lo de forma cuidadosa”

Donald Trump garante que o país tem uma estratégia nacional para a reabertura das escolas e diz que se sente “confortável” em permitir que o filho e os netos regressem presencialmente às escolas. “Quero ver as escolas a reabrirem, e reabrirem a 100%. Vamos fazê-lo de forma cuidadosa”, frisou.

Sobre as medidas, que são diferentes entre estados, de obrigatoriedade do uso de máscaras, Trump diz que as opiniões divergem entre os vários governadores. “Demos-lhe os factos, tudo o que sabíamos. Eles têm os factos deles. Alguns são a favor das máscaras, outros não”. Trump tirou depois uma máscara do bolso para dizer que “há ocasiões em que devemos usá-las”.

O presidente dos EUA garantiu ainda que vai tomar, nas próximas 24 horas, uma decisão sobre a obrigatoriedade, ou não, do uso de máscaras em propriedades estatais.