Pode o silêncio ser o som que predomina quando o stream termina, a nota dominante que ecoa bem depois da música acabar, quando o que se acabou de ouvir foram mais de 20 (!) canções tocadas sem pausas, uma hora e meia de cantigas sem sequer conversa ou intervalos pelo meio?
A “Idiot Prayer: Nick Cave Alone at Alexandra Palace”, o filme-concerto de Nick Cave que foi exibido online esta quinta-feira para os acólitos que compraram um bilhete de 18€ para o ver, não falta música: canções recentes (menos), êxitos (alguns), temas antigos e escolhas inesperadas recriadas ao piano (mais), novidades (um inédito). Mas é o silêncio final que mais ordena.
No início, quando a câmara mostra o cantor e compositor australiano sentado numa cadeira a escrever últimas palavras e a fechar um caderno, a revolver repetidamente uma caneta por entre dois dedos da mão direita (pensativo), a levantar-se da cadeira e a caminhar rumo ao piano de uma sala interior do centro cultural Alexandra Palace, em Londres, o que se começa a ouvir não é silêncio. O que se ouve é a voz de Nick Cave a declamar as palavras de “Spinning Song”, a canção com que arranca o seu último álbum, Ghosteen, editado no ano passado e simultaneamente aclamadíssimo pela crítica e marcado como nenhum outro até aqui pela morte prematura, inesperada, do seu filho Arthur Cave, de 15 anos, em 2015.
Este artigo é exclusivo para os nossos assinantes: assine agora e beneficie de leitura ilimitada e outras vantagens. Caso já seja assinante inicie aqui a sua sessão. Se pensa que esta mensagem está em erro, contacte o nosso apoio a cliente.