Quase três anos depois da morte do guitarrista Zé Pedro chega aos cinemas um documentário biográfico que recorda a vida de “uma das pessoas mais queridas da música portuguesa”, disse à Lusa o realizador Diogo Varela Silva.

“Zé Pedro Rock n’Roll”, que se estreia no dia 30, já podia ter sido feito há mais tempo, a ideia chegou a ser falada há alguns anos entre o guitarrista dos Xutos & Pontapés e o realizador, mas acabaria por ser só concretizada, em jeito de homenagem, depois da morte do músico, ocorrida no final de 2017.

“Nunca pensámos que o Zé se fosse embora tão cedo. […] É das pessoas mais queridas da música portuguesa. Nunca encontrei ninguém que não gostasse do Zé Pedro”, disse.

Diogo Varela Silva, 48 anos, refere-se a Zé Pedro como “um tio por empréstimo”, com quem sempre conviveu desde criança, porque o músico viveu em casa de uma tia do realizador nos primeiros tempos dos Xutos & Pontapés. “Tantas bandas que conheci com ele. A partir dos 8 anos eu estive em vários concertos dos Xutos. Lembro-me que a primeira vez que ouvi falar dos Morphine ou dos Nirvana foi com ele”, recordou Diogo Varela Silva, neto da fadista Celeste Rodrigues.

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Por causa dessa relação de proximidade, Diogo Varela Silva já conhecia grande parte do material de arquivo sobre o músico, que aproveitou para o documentário, mas para muitos dos espectadores há gravações e fotografias inéditas, como as que registam a infância de Zé Pedro em Timor-Leste, onde viveu por causa do trabalho do pai, militar. Para o filme foi ainda convocado o próprio arquivo que Zé Pedro foi organizando ao longo da vida, como, por exemplo, os bilhetes dos concertos a que assistiu.

“Zé Pedro Rock n’Roll” cruza vários depoimentos de amigos, dos irmãos, dos sobrinhos, de todos os elementos dos Xutos & Pontapés e de muitos dos músicos com quem o guitarrista se cruzou ao longo da vida. São ainda recuperados excertos de entrevistas e depoimentos do músico, imagens de arquivo de concertos e ensaios dos Xutos & Pontapés, registos da vida do clube Johnny Guitar, palco e ponto de encontro em Lisboa para dezenas de músicos, e pedaços dos programas de rádio nos quais Zé Pedro participou.

Para Diogo Varela Silva, o documentário mostra “o porquê de o Zé Pedro ter sido o Zé Pedro, como chegou onde chegou, quais os impulsos que o levaram até onde ele foi”.

A empatia que o músico conquistou junto do público, dentro e fora dos Xutos & Pontapés, tem uma explicação para o realizador: “Tem a ver com essa coisa de [ele] nunca ter perdido esse contacto com as bandas de que gostava. Ou seja, ele percebia perfeitamente os fãs”.

José Pedro Amaro dos Santos Reis – Zé Pedro – morreu a 30 de novembro de 2017 aos 61 anos. A relação com a música vinha desde novo, por influência do pai, e uma das memórias é uma ida ao festival Cascais Jazz, na adolescência, que é recordada no documentário.

No verão de 1977, numa viagem de comboio pela Europa, foi a um festival punk no sul de França, decisivo para a formação pessoal e para o que queria fazer de futuro, como contou no filme. De regresso a Lisboa, mergulhado na estética punk rock, formou os Xutos & Pontapés, cujo primeiro concerto aconteceu a 13 de janeiro de 1979, nos Alunos de Apolo, em Lisboa.

No documentário são recordados os problemas de saúde, derivados dos excessos com a droga e o álcool, o transplante de fígado e a vida de palco.

Colecionador de música, a par da vida nos Xutos & Pontapés, Zé Pedro desdobrou-se noutros projetos, com programas de rádio, a gerência e curadoria do Johnny Guitar, e entrada nos grupos Cavacos, Palma’s Gang, Maduros e Ladrões do Tempo. Diogo Varela Silva, que com “Zé Pedro Rock n’Roll” conquistou o prémio do público no DocLisboa 2019, é autor de outros documentários como “Celeste” (2015) e “Fado da Bia” (2012).