O Presidente do Mali, Ibrahim Boubacar Keita, anunciou esta segunda-feira a criação de uma equipa ministerial chefiada pelo primeiro-ministro, Boubou Cissé, que ficará encarregada da formação de um governo de unidade nacional, de acordo com as recomendações feitas pela CEDEAO.

Com vista à implementação das recomendações dos chefes de Estado da CEDEAO [Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental] feitas durante a reunião extraordinária de segunda-feira [hoje] (…), o Presidente da República decidiu formar uma pequena equipa ministerial cuja missão é negociar com as partes interessadas, para formar um governo de unidade nacional capaz de ajudar a acalmar a situação” do país, explicitou a chefe de gabinete da Presidência maliana, Kamissa Camara, citada pela agência France-Presse.

Esta equipa integrará os ministérios da Defesa, da Justiça e Direitos Humanos, da Segurança e Proteção Civil, da Administração Territorial, dos Negócios Estrangeiros, e da Economia e Finanças, acrescentou Kamissa Camara, em declarações transmitidas durante o noticiário da Rádio e Televisão do Mali.

O chefe de Estado maliano nomeou o major-general Ibrahima Dahirou Dembélé como ministro da Defesa, que foi proposto pelo primeiro-ministro.

A tutela da Administração Territorial permanecerá nas mãos de Boubacar Alpha Bah, enquanto a pasta da Segurança e Proteção Civil é confiada ao major-general Bemba Moussa Keïta.

O advogado Kassoum Tapo vai encabeçar o Ministério da Justiça e Direitos Humanos, enquanto o chefe da diplomacia cessante, Tiébilé Dramé, mantém-se como ministro dos Negócios Estrangeiros.

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Já o banqueiro aposentado Abdoulaye Daffé será o ministro da Economia e Finanças.

Também hoje, os chefes de Estado dos 15 países CEDEAO, reunidos em cimeira virtual para discutirem crise no Mali, previram um regime de sanções contra quem se opuser ao processo de normalização naquele país.

O atual presidente da organização regional, o chefe de estado nigerino, Mahamadou Issoufou, disse hoje, no final da reunião, que iriam ser tomadas medidas “contra aqueles que tomassem decisões contrárias ao processo de normalização”, que será implementado no Mali antes de sexta-feira.

A cimeira da CEDEAO exige a demissão dos 31 deputados “mal eleitos”, uma das principais questões que conduziram à nova vaga de protestos violentos no Mali, mas prevê a permanência do Presidente, Ibrahim Boubacar Keita no poder.

Porém, os líderes políticos defenderam a rápida formação de um governo de unidade nacional, incluindo a oposição, e eleições parlamentares parciais no país.

No início da cimeira, Mahamadou Issoufou apelou para que a organização adotasse “soluções fortes para um fim rápido” na crise no Mali.

Ainda na abertura da cimeira virtual dos Estados da África Ocidental, o líder da organização disse que a resolução da crise política que abala o Mali “exige uma união sagrada de todos os malianos”.

A CEDEAO já tinha emitido recomendações, apelando para a criação urgente de um Governo e um novo Tribunal Constitucional que examine prioritariamente os resultados das últimas eleições legislativas, considerando que este sufrágio desencadeou a atual crise que o país vive.

Mesmo antes destas recomendações terem sido tornadas públicas, no domingo, os líderes do M5-RFP (Movimento 5 de Junho), uma aliança heterogénea de chefes religiosos e figuras de destaque do mundo político e da sociedade civil, que estão por detrás dos protestos antigovernamentais e que exigem a saída do Presidente, como uma prioridade, disseram que se recusavam a apoiar estas propostas.

Falta agora saber se o movimento de oposição vai continuar com os protestos nas ruas, depois de, na sexta-feira, ter decidido suspendê-los, após os graves incidentes de há uma semana, que fizeram 11 mortos, segundo o Governo, e mais de cem feridos. A missão das Nações Unidas no país (Minusma) fala em 14 manifestantes mortos e o M5-RFP em 23.

Portugal tem desde 1 de julho uma Força Nacional Destacada no Mali, no âmbito da Minusma, que inclui 63 militares da Força Aérea Portuguesa e um avião de transporte C-295.

O objetivo da missão portuguesa é assegurar missões de transporte de passageiros e carga, transporte tático em pistas não preparadas, evacuações médicas, largada de paraquedistas e vigilância aérea, e garantir a segurança do campo norueguês de Bifrost, em Bamako, onde estão alojados os militares portugueses.